Correio braziliense, n. 20529, 07/08/2019. Política, p. 6

 

Discordância sobre os Correios

07/08/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, mostraram, ontem, certo descompasso nos discursos no que diz respeito à privatização dos Correios. Em São Paulo, na cerimônia de abertura do 29º Congresso da ExpoFenabrave, o capitão reformado foi enfático. “Vamos privatizar os Correios”, declarou. Porém, faltou combinar com o ministro, que, na Câmara dos Deputados, negou haver, até o momento, qualquer decisão oficial sobre o tema. “Não existe nenhum processo dessa natureza”, disse.

A discordância entre as duas declarações teve uma diferença de cerca de 30 minutos. Pontes falou por volta das 10h20 em audiência na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público. Bolsonaro discursou, em São Paulo, por volta das 10h50, dirigindo-se na plateia ao correligionário e deputado estadual Gil Diniz (PSL-SP), conhecido pelo eleitorado como “Carteiro Reaça”. Embora o Ministério da Economia esteja conduzindo estudos para viabilizar a mudança administrativa e o fim do monopólio de entrega de correspondências no país, Pontes destoou de Bolsonaro. “O que quero trazer é que não existe nenhum processo dessa natureza. Nenhum procedimento de desestatização ou de privatização, qualquer coisa nesse sentido, para nos preocupar neste momento”, explicou.

Requerimento

A reunião ocorre após requerimento da deputada Érika Kokay (PT-DF), que pede explicações sobre o assunto. “A proposta do governo de privatizar o órgão gera insegurança jurídica, pois traz inúmeras perdas com o fechamento de agências e a situação dos trabalhadores”, argumenta. Parlamentares que apoiam o projeto justificam que a decisão do Planalto foi motivada por ineficiência, corrupção e perda de mercado na estatal. Durante discurso, Pontes falou sobre o desejo do governo de privatizar os Correios. Mas ressaltou que, “até o momento, não há documento oficial”. Se acabar oficializada, complementou, a mudança “terá a participação de todo mundo.”

O ministro da Economia, Paulo Guedes, declarou recentemente que “ninguém mais manda cartas”, referindo-se a um dos serviços realizados pelos Correios. Embora membros do primeiro escalão do governo sinalizem apoio à privatização, o presidente da empresa, Floriano Peixoto, endossou as manifestações de Pontes. “Ainda não há nenhum instrumento legal em andamento para promover mudanças na administração da estatal”, destacou.

As opções seriam o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que une o público ao privado, ou a desestatização — a chamada privatização, que sai do público para o privado —, destaca o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO). “A decisão foi tomada assertivamente para fortalecer a empresa. A ansiedade em torno dessa possível privatização, ainda no campo das ideias, será uma coisa extremamente positiva para o país”, ponderou.

Para o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), “a estrutura de natureza estatal da empresa faz com que os Correios tenham histórico de extrema ineficiência e corrupção. Nos últimos anos, vimos a empresa envolvida na Lava-Jato, na CPI dos Correios e na Operação Greenfield, para citar algumas. É hora de mudar”. Outro ponto para justificar a privatização é a folha de pagamento, que consome 60% da receita líquida da estatal para despesas com os salários de 105 mil funcionários. Nos últimos 15 anos, os Correios tiveram sete presidentes. A média, na Europa, foram dois. Segundo Kataguiri, o número demonstra “ingerência” e excesso de sindicalização. (RC e Bernardo Bittar)