O Estado de São Paulo, n. 46124, 29/01/2020. Política, p. A6

 

Bolsonaro demite auxiliar de Onyx por voo em avião da FAB

Tânia Monteiro

Mateus Vargas

29/01/2020

 

 

Vicente Santini foi a Davos e Nova Délhi; 13 ministros usaram jatos para viagens ao exterior desde o ano passado

A viagem que motivou a demissão do secretário executivo da Casa Civil, Vicente Santini, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), levou integrantes do governo a discutir limites ao uso dos aviões oficiais. Desde o início da gestão de Jair Bolsonaro, 13 ministros utilizaram os jatos para deslocamentos ao exterior. O campeão de uso é o chanceler Ernesto Araújo, que viajou 22 vezes, seguido de Ricardo Salles (Meio Ambiente), Osmar Terra (Cidadania), Tereza Cristina (Agricultura) e Fernando Azevedo (Defesa) – três viagens cada um.

Santini foi demitido ontem por Bolsonaro após solicitar o avião da FAB para ir a Davos, na Suíça, e depois se juntar à comitiva presidencial em Nova Délhi, na Índia. Neste caso, o que provocou a reação de Bolsonaro, contudo, foi o fato de o então número 2 da Casa Civil requisitar um “voo particular”, enquanto ministros optaram por voos regulares.

“Inadmissível o que aconteceu.O que ele fez não é ilegal, mas é completamente imoral. Ministros antigos foram de avião comercial, classe econômica”, disse o presidente, em referência aos titulares da Economia, Paulo Guedes, de Minas e Energia, Bento de Albuquerque, da Saúde, Henrique Mandetta, e de Tereza.

Como revelou ontem o Estado, uma viagem como esta, segundo cálculos de integrantes da Aeronáutica, não sai por menos de R$ 740 mil. Segundo interlocutores do presidente, a demissão teve como objetivo demonstrar intolerância com atitudes que contrariem o discurso de austeridade nas contas públicas adotado pelo governo.

Integrantes da FAB disseram que o uso das aeronaves para voos internacionais não está explícito na legislação. O decreto que regulamenta o tema, de 2002, dispõe sobre transporte de autoridades “no País”, e não cita a possibilidade de viagens ao exterior. A interpretação, porém, não é consenso no governo.

O voo de Santini foi feito em um jato Legacy 600 com capacidade para 12 passageiros. Segundo a Casa Civil, além do secretário, viajaram no avião oficial outras duas assessoras do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Ontem, Santini estava em trânsito e não se manifestou. Ele chega hoje a Brasília.