Título: Em busca de investimentos
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 10/11/2012, Cidades, p. 30
Comitiva do governo embarca hoje aos EUA com o objetivo de garantir empréstimos para ações de infraestrutura e divulgar o Estádio Nacional
Washington (USA) — Uma comitiva do Governo do Distrito Federal (GDF) liderada por Agnelo Queiroz (PT) embarca no fim da tarde de hoje para os Estados Unidos com duas missões na bagagem: divulgar o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha e atrair novos investimentos para a cidade. Se tudo sair como o planejado, nos próximos dias, Agnelo vai consolidar uma carteira de crédito com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), na capital americana, da ordem de R$ 750 milhões. Na Califórnia, dará também mais um passo em direção à conquista de um certificado internacional com o poder de qualificar a arena de Brasília como a mais viável do mundo do ponto de vista da sustentabilidade.
Na próxima terça-feira, Agnelo participará como palestrante de um congresso internacional em São Francisco que visa estimular as construções verdes. O nome da conferência que ocorrerá na Costa-Oeste dos Estados Unidos entre 14 e 16 de novembro é Green Building International Conference and Expo e o evento é gerenciado pela U.S. Green Building Council, uma organização não governamental que se dedica a promover e a ditar as diretrizes para as construções ecologicamente viáveis.
É justamente o Green Building que criou um selo para definir em que patamar de sustentabilidade está um determinado empreendimento erguido dentro de padrões verdes. Há três níveis de pontuação, que variam de acordo com o grau dos requisitos cumpridos na obra. O estádio de Brasília é o único entre os 12 que vão sediar jogos da Copa do Mundo em 2014 a pleitear o reconhecimento máximo da entidade, o Leed Platinum.
O governador do DF detalhará as características do Estádio Nacional de Brasília na palestra que fará em São Francisco. Agnelo falará, por exemplo, que a arena foi construída com um anel de concreto capaz de sustentar painéis solares com potencial de produzir até 2,5 megawatts de energia por dia, o suficiente, por exemplo, para abastecer, pelo menos, mil residências pelo mesmo período. Para se ter ideia, uma usina hidrelétrica de porte médio produz 30 megawatts nesse intervalo.
A captação do sol voltada à geração de energia é um dos requisitos que contam para agregar valor sustentável à obra do estádio. Há ainda outras particularidades que devem estar na apresentação de Agnelo, como o fato de a cobertura ser apropriada à captação da água das chuvas — que será reaproveitada nos vasos sanitários —, ou ainda as torneiras, que terão sistema de controle de vazão para reduzir o fluxo e evitar o desperdício. Da forma como foi construído, haverá uma economia de 80% no consumo do recurso, um dos aspectos que contribui na pontuação exigida para a conquista do Leed Platinum. “São especificações de arquitetura, mas que dependeram de decisões políticas, sem as quais não seria possível alcançar os resultados esperados”, considera o arquiteto Vicente de Castro Mello, um dos dois profissionais que assinam o desenho do Estádio Nacional de Brasília.
Vicente acredita que a conquista do Leed Platinum tem dois efeitos práticos para a cidade, pois agrega valor de mercado às obras certificadas e, a partir dessa valorização, serve de exemplo para outros empreendimentos. Em busca do certificado com critérios mais rigorosos, o Estádio Nacional já soma 87 pontos, um dos motivos pelo qual Agnelo foi convidado a falar da arena candanga no congresso de São Francisco, por onde devem passar cerca de 30 mil pessoas durante o evento. A previsão é de que a palestra do governador do Distrito Federal na próxima terça-feira comece às 16h na Califórnia, que está com uma diferença de seis horas em relação ao horário de Brasília, onde serão 22h.
Contrapartida
Antes de chegar a São Francisco, no entanto, Agnelo e a comitiva que o acompanha (Leia quadro) farão uma escala em Washington. Na capital americana, o governador tem uma reunião agendada com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno. Em pauta, o encaminhamento de empréstimos para programas nas áreas social, de saneamento e de gestão. Ao todo, Agnelo pretende negociar com o banco um volume de investimentos de U$ 377 milhões, ou seja, aproximadamente R$ 754 milhões. Somado ao valor de contrapartida que o GDF precisa aplicar em cada uma das ações aprovadas, a quantia atinge quase R$ 1 bilhão.
Alguns dos projetos que serão discutidos com a direção do BID, como é o caso do Brasília Sustentável 2 e do Pró-Cidades, ambos voltados para infraestrutura, já estão em fase mais avançada, o que deve facilitar a confirmação da parceria financeira. Há sugestões, no entanto, em estágio inicial, como é o caso do Programa de Saneamento Ambiental da Caesb, que envolve o uso de U$ 286 milhões na melhoria da gestão e na operação do tratamento de água e de esgoto. “A intenção do governo é sair da reunião com as sinalizações de que, pelo menos, cinco importantes projetos para o DF vão contar com o financiamento do banco”, adianta o secretário de Planejamento, Luiz Paulo Barreto, que integrará a comitiva.
Se isso se confirmar, em 2013, Agnelo deve voltar aos Estados Unidos para colher a assinatura do BID em empréstimos capazes de aumentar em, pelo menos, um terço, o potencial de investimento do governo local nos setores de saneamento e de infraestrutura, que afetam diretamente a qualidade de vida das pessoas, mas que ainda são insuficientes em vários pontos do DF e precisam, portanto, de enfrentamento do poder público.
Liderança Trata-se da abreviatura do termo em inglês Leadership in Energy and Environmental Design, que em português tem o sentido de Liderança em Energia e Projeto Ambiental.
Investimento O total de dinheiro envolvido nas operações de crédito com o BID, somado aos recursos que o GDF precisa complementar para que os projetos sejam aprovados, equivale a quase metade de todos os recursos do orçamento de 2012 destinados a investimento do governo, R$ 2,22 bilhões, e é mais do que toda a verba dessa rubrica aplicada em 2011, que ficou em R$ 975 milhões.
Missão Veja quem são os integrantes da comitiva do GDF aos Estados Unidos: » Governador do DF, Agnelo Queiroz » Presidente da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), Antônio Carlos Lins » Presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa), Vinícius Benevides » Presidente da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), Nilson Martorelli » Secretário de Planejamento, Luiz Paulo Barreto » Secretária de Comunicação, Samanta Sallum » Porta-voz, Ugo Braga » Secretário de Esporte, Júlio Ribeiro » Chefe da Assessoria Internacional do GDF, Odilon Frazão » Subsecretário de Captação de Recursos da Secretaria de Planejamento, Genésio Vicente » Assessor especial da Secretaria da Copa do Mundo, Ricardo Bittencourt
Para saber mais
Fomento à América Latina
Um dos maiores bancos de fomento do mundo e principal fonte de financiamento para os países da América Latina e o Caribe, o BID existe desde 1959 com a proposta de gerar desenvolvimento sustentável, a partir da redução da pobreza e da desigualdade entre os povos.
Embora tenha características de banco como outros que atuam no mercado, o BID apresenta particularidades que o tornam uma meta de parceria para governos de vários países e estados. Além de empréstimos com taxas bem mais competitivas, também tem uma carteira de doações a projetos que demonstrem potencialidade para reduzir os índices de desigualdade. O banco ainda promove pesquisas e oferece assistência técnica para a promoção de ações sociais que deram certo em determinadas regiões.
Ao todo, 48 países são acionistas do Banco Interamericano de Desenvolvimento, dos quais 26 são membros mutuários, ou seja, tomadores de empréstimo, da América Latina e do Caribe. Além dos financiamentos, dos acordos de cooperação técnica e das doações, desde 1997, o BID também inclui entre as suas iniciativas um programa de alívio da dívida das nações mais pobres da América Latina e Caribe. Estimado em US$ 4,4 bilhões, o projeto beneficiou os seguintes países: Bolívia, Haiti, Honduras, Guiana e Nicarágua.