O Estado de São Paulo, n. 46120, 25/01/2020. Metrópole, p. A25

 

Coronavírus tem primeiros casos na Europa

Paula Felix

José Maria Tomazela

25/01/2020

 

 

O governo francês confirmou ontem três casos de infecção pelo novo coronavírus, dois em Paris e outro em Bordeaux, os primeiros registrados na Europa. Ao menos dez países, em três continentes, já registraram infecções pela doença, de origem ainda desconhecida pelos cientistas. A China, onde o surto começou em dezembro, teve 41 mortes e 1.287 registros até ontem à noite.

Os Estados Unidos já tiveram 2 casos da doença e 63 pessoas em 22 Estados vão ficar sob observação. Japão, Coreia do Sul, Cingapura, Vietnã, Nepal, Taiwan e Tailândia também reportaram pacientes com o coronavírus, cujos sintomas são febre, tosse e falta de ar.

No Brasil, o Ministério da Saúde colocou o País em alerta, mas não há suspeita registrada. Em São Paulo, foi anunciado ontem pelo Estado um plano para monitoramento e resposta para suspeitas do vírus. A mobilização vai englobar os principais hospitais de referência, como Instituto Emílio Ribas e Hospital das Clínicas, e profissionais estão sendo treinados para detectar possíveis casos.

O surto mudou a rotina de aeroportos e áreas de fronteira em todo o mundo, com passageiros de máscaras, funcionários para checar a temperatura das pessoas e alertas sonoros. Profissionais da saúde têm sido treinados para identificar e reportar suspeitas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou anteontem ser cedo para declarar emergência global, mas disse monitorar o quadro.

Avanço do vírus. A maioria das infecções foi na cidade chinesa de Wuhan e arredores. A principal hipótese é que o surto tenha começado em um mercado de peixes. Lá, eram vendidos animais silvestres vivos, que podem ter iniciado a transmissão do patógeno para humanos.

A maioria das mortes foi de idosos com problemas de saúde prévios, como diabete e hipertensão. Mas a confirmação ontem do óbito de um jovem, sem histórico de doença, elevou a preocupação de autoridades.

Entre as medidas já tomadas pelo governo chinês, estão colocar cidades inteiras em quarentena, com 40 milhões de pessoas isoladas, e suspender serviços de transporte (leia mais nesta pág.). O país é o mais populoso do mundo, com 1,4 bilhão de habitantes.

Segundo a pneumologista Rosemeri Maurici da Silva, ações básicas evitam a contaminação. “Lavar bem as mãos, não levar a mão aos olhos e à boca sem lavála, e tomar cuidado com secreções respiratórias. Quando tossir, levar o antebraço à boca para reter gotículas e depois lavar bem as mãos”, diz a médica, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

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China acelera obra de hospital e isola 13 cidades

25/01/2020

 

 

A China elevou para 13 o número de cidades com medidas de quarentena para evitar a proliferação do surto de coronavírus. Assim, aumentou para 40 milhões a quantidade de pessoas afetadas pelo isolamento. A principal delas é Wuhan, onde os primeiros casos da doença foram reportados em dezembro.

Nessas cidades, as redes de transporte – como aviões, ônibus e trens – foram suspensas e há restrição de acesso a locais públicos – o que tem revoltado moradores. Para autoridades, o risco de contaminações nos próximos dias é maior por causa do feriado do ano-novo lunar, que começou ontem, quando milhares de chineses viajam para visitar parentes ou se divertir.

Por medo de novas infecções, várias cidades, entre elas Pequim, cancelaram festividades e a prefeitura de Xangai disse que a Disneylândia da cidade será fechada a partir de hoje. Importantes pontos turísticos, como trechos da Grande Muralha e a Cidade Proibida, um palácio imperial, também foram fechados por tempo indeterminado.

Outra medida do governo para barrar o avanço das infecções é a construção de um hospital modelo pré-fabricado para pacientes da doença na cidade de Wuhan. Operários, além de dezenas de escavadeiras e caminhões, trabalham ininterruptamente para concluir a obra até 3 de fevereiro. Esse modelo foi criado durante o surto de síndrome respiratória aguda (Sars), entre 2002 e 2003. Em vários locais do país, moradores já se queixam da falta de equipamentos de proteção, como máscaras.

Pesquisas iniciais mostraram que cobras podem ser a origem da transmissão do vírus, mas autoridades de saúde chinesas dizem acreditar que morcegos e texugos são outras possíveis causas para explicar a disseminação da doença.