O Estado de São Paulo, n. 46117, 22/01/2020. Economia, p. B1

 

Em Davos, governo oferece R$ 320 bi em projetos a investidores; 5G lidera a lista

Idiana Tomazelli

22/01/2020

 

 

Na prateleira. Delegação brasileira no Fórum Econômico Mundial terá um café da manhã hoje com 20 executivos selecionados; encontro também vai servir para desfazer qualquer ‘mal-estar’ em relação ao Brasil sobre questões ambientais ou outras polêmicas

A delegação brasileira no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, terá um encontro hoje com 20 grandes investidores para apresentar a carteira do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Com a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, o encontro será uma ponte para tentar atrair capital estrangeiro para financiar projetos de médio e longo prazos no País.

O governo vai apresentar todos os 115 projetos já estruturados ou ainda em fase de estudo que compõem a carteira para 2020 e 2021, que equivalem a R$ 320 bilhões, sendo R$ 264,1 bilhões em investimentos e outros R$ 55,5 bilhões em privatizações. Isso inclui o leilão de 5G, cuja consulta pública será aberta em fevereiro. Estados Unidos e China estão envolvidos numa disputa por causa da nova tecnologia. De acordo com o governo, o edital e o leilão estão previstos para o segundo semestre deste ano. As estimativas iniciais de valor da outorga (taxa paga para explorar a concessão pública) mais os investimentos ficam em torno de R$ 20 bilhões.

O governo também vai apresentar a carteira com 11 ferrovias (como a Ferrogrão, que tem 933 quilômetros entre Sinop/MT e Miritituba/PA), 22 aeroportos divididos em três blocos, 19 rodovias, além da privatização de empresas como Eletrobrás, Nuclep, Casa da Moeda e estudos para a desestatização de Telebrás e Correios.

A apresentação ainda inclui projetos estaduais de concessão nas áreas de saneamento, como é o caso da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), do Rio de Janeiro.

A secretária do PPI, Martha Seillier, disse ao Estadão/Broadcast que o objetivo é apresentar oportunidades de investimentos para esses investidores e desfazer qualquer “mal-estar” em relação ao Brasil sobre questões ambientais ou outras polêmicas envolvendo o governo.

Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro demitiu o então secretário de Cultura, Roberto Alvim, após ele divulgar um vídeo parafraseando Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista. Às vésperas da viagem a Davos, o episódio trouxe preocupação para a área econômica e temor de que a fala “manchasse” a participação brasileira no evento.

Ambiente. As questões ambientais também ficaram sob o holofote nos últimos meses após queimadas na Amazônia e avanço no desmatamento. Nessa edição do fórum, meio ambiente, mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável são temas centrais e entraram no radar dos investidores e tomadores de decisão.

“Esses eventos em alto nível, (em que) normalmente você está com o CEO da companhia, são uma oportunidade para tirar dúvidas, desfazer algumas situações, alguns questionamentos em relação ao Brasil, qualquer tipo de mal-estar”, disse Martha, que viajou a Davos para se juntar à delegação brasileira.

O café da manhã está sendo organizado pelo Itamaraty e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil). Por uma limitação de espaço, 20 investidores serão selecionados entre os que demonstraram interesse na conversa com o governo brasileiro. A lista dos participantes não foi divulgada.

Na apresentação, à qual a reportagem teve acesso, há um capítulo específico sobre licenciamento ambiental, apresentado como o principal instrumento de controle para implementação de atividades que usem recursos ambientais ou apresentem risco de degradação ao meio ambiente. “É objetivo central da política compatibilizar o desenvolvimento econômico e social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico”, diz o texto.

Para a secretária, a presença de Guedes será crucial para dar também segurança aos investidores de que o Brasil está fazendo o “dever de casa” na área fiscal e segue endereçando outras reformas, como a tributária e a administrativa.

VITRINE BRASILEIRA

Alguns dos 115 projetos

- Leilão de 5G

- 22 aeroportos em três blocos liderados por terminais de Curitiba, Manaus e Goiânia. Investimentos: R$ 5 bilhões.

- 11 ferrovias, incluindo renovação da Malha Paulista e concessão da Ferrogrão. Investimentos: R$ 62 bilhões.

- 19 rodovias, duas delas em estudos e sete em licenciamento. Investimentos: 145 bilhões.

- Concessão de 4 parques nacionais: Lençóis Maranhenses (MA), Jericoacoara (CE), Foz do Iguaçu (PR) e Aparados da Serra (RS).

- 23 portos e terminais portuários, incluindo desestatização do Porto de Santos (Codesp). Investimentos: R$ 4,7 bilhões.

Privatizações

- CBTU

- Eletrobrás

- Casa da Moeda

- Dataprev

- Ceasaminas

- Ceagesp

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Pobreza é o grande inimigo do meio ambiente, diz Guedes

Célia Foufre

22/01/2020

 

 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse na manhã de ontem durante o painel Shaping the Future of Advanced Manufacturing (Desenhando a Indústria do Futuro, em tradução livre), no Fórum Econômico Mundial, em Davos, que o grande inimigo do meio ambiente é a pobreza: “Destroem porque estão com fome”.

Em outro momento do mesmo evento, ele disse que o mundo precisa de mais comida e salientou que é preciso usar defensivos para que seja possível produzir mais. “Isso é uma decisão política, que não é simples, é complexa”, afirmou. Ainda sobre o tema, Guedes disse que a busca dos humanos é sempre pela criação de uma vida melhor. Ele ressaltou, porém, que “somos animais que escapamos da natureza”.

O ministro disse que o Brasil está criando um ambiente melhor para os negócios e que é preciso agora qualificar as pessoas para terem um emprego no sistema, que está mais tecnológico. “Num país como o Brasil, que está um pouco atrás (em relação às inovações), temos um pouco de preocupação”, lamentou, acrescentando que a primeira ação a ser feita é acabar com os “obstáculos”.

Ele também falou sobre os três centros que o Brasil está criando para se aproximar das atividades do Fórum Econômico Mundial. Um está relacionado à promoção da educação, da pesquisa acadêmica e a ligação com as pessoas de negócios. O outro é um acelerador de qualificações. “Há habilidades para ampliar como as coisas estão se colocando no mundo. Estamos aderindo ao comitê do fórum e basicamente trazendo pessoas que estão na fronteira.”

Para Guedes, a inovação vem ocorrendo no mundo por meio de um processo descentralizado, mas o desafio é fazer com que o País se integre a esse sistema. “Para um País como o Brasil é ainda mais crucial, pois precisamos ter a certeza de que teremos um ambiente de negócios, acadêmico, que permita conhecimento”, salientou.

No mesmo evento, o ministro disse que o Brasil ficou para trás em relação ao acompanhamento das modernidades do mundo: “Perdemos a grande onda da globalização e da inovação, então essa mudança vai levar um tempo (para ocorrer no Brasil), mas estamos a caminho”.