O globo, n.31409, 05/08/2019. País, p. 06

 

Possível mudança no Coaf cabe a Paulo Guedes, diz Bolsonaro

Bruno Góes 

05/08/2019

 

 

Presidente. Leonel assumiu Coaf antes da Câmara devolvê-lo à Economia

O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que cabe ao ministro da Economia, Paulo Guedes, definir se substitui ou não o presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). De acordo com Bolsonaro, Guedes tem “carta branca" sobre o tema.

No início da gestão, quando o órgão estava sob o guarda-chuva do Ministério da Justiça, Sergio Moro colocou no cargo Roberto Leonel, que foi chefe de inteligência da Receita Federal em Curitiba por 22 anos e atuou na Lava-Jato. O Congresso, porém, optou por devolver o Coaf à área econômica, em decisão que contrariou Moro.

Bolsonaro disse ter dado “carta branca” aos ministros em nomeações para cargos vinculados às suas pastas.

— O Coaf, na medida provisória da reestruturação (dos ministérios), estava com a Justiça. A partir do momento em que vai para a Economia, é o Paulo Guedes quem define. Ou alguém está desconfiando do Paulo Guedes? Qualquer um que quiser mudar qualquer coisa, muda sem problema nenhum — disse o presidente, ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã de ontem.

Leonel afirmou ao jornal “O Estado de São Paulo” que o combate à lavagem de dinheiro fica prejudicado com a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, de suspender investigações que se apoiem em informações do Coaf. A decisão ocorreu a pedido da defesa do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, que desejava paralisar investigações no Rio contra o parlamentar. Segundo o jornal “Folha de S. Paulo ”, há pressão no Planalto pela substituição de Leonel.

‘CHATEADO’ COM MINISTRO

Bolsonaro também disse ter ficado “chateado” com as críticas do ministro do STF Celso de Mello no julgamento que impediu o governo de retirar da Fundação Nacional do Índio (Funai) as atribuições sobre demarcações de terras indígenas. Celso afirmou que Bolsonaro fez uma “transgressão” à Constituição ao insistir no tema por medida provisória mesmo após rejeição do Congresso. O presidente repetiu que houve um erro de sua parte no episódio, mas reclamou que o ministro “foi muito para o lado pessoal” e disse querer viver “em harmonia” com os demais Poderes.

Ao participar de cerimônia na Igreja Apostólica Fonte da Vida, em Brasília, o presidente cutucou Celso por outro julgamento do STF, sobre criminalização da homofobia.

— A maneira que foi (a crítica) dói no coração. Esse mesmo ministro decidiu transformar a pena de homofobia em racismo, interferindo no poder Legislativo.