O globo, n.31409, 05/08/2019. Economia, p. 16

 

Ações de varejo e infraestrutura ganham destaque na Bolsa 

Gabriel Martins

05/08/2019

 

 

Concessões e privatizações beneficiarão empresas, e saque de recursos do FGTS movimentará consumo, avaliam analistas

Na última quarta-feira, o Banco Central reduziu a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, de 6,5% para 6% ao ano. E economistas esperam novos cortes. Isso deve levar mais investidores para a renda variável, em busca de mais rentabilidade. E, com o avanço na agenda de reformas, especialmente a da Previdência, e as medidas do governo para injetar recursos na economia, como o saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), analistas de corretoras voltam suas recomendações para ações de empresas ligadas a varejo e infraestrutura.

— Com o aquecimento da economia, as empresas ligadas ao setor de infraestrutura, como elétricas e construção civil, podem se beneficiar da esteira de reformas neste segundo semestre — destaca Rafael Passos, analista da Guide Investimentos.

A leitura de que as empresas relacionadas à infraestrutura têm chances de apresentar bons resultados no segundo semestre é compartilhada por Rafael Antunes, sócio da Inove Investimentos.

— Para que um PIB cresça na faixa, ou acima, de 2% no próximo ano, como alguns economistas estão prevendo, é preciso que haja investimento em infraestrutura.  O cenário macroeconômico contribui para que as empresas ligadas a esse setor tenham boas perspectivas de ganhos —explica Antunes.

IMPULSO DO FGTS

A operadora de ferrovias Rumo está na carteira recomendada para agosto da Guide Investimentos. Isso se deve tanto às sinalizações do governo de incentivo a concessões quanto pela possibilidade de a produção de grãos continuar elevada nos próximos trimestres, o que vai aumentar a demandar por transporte.

Entre os papéis relacionados à infraestrutura, a XP Investimentos tem, em sua carteira de agosto, a Companhia Paranaense de Energia (Copel).

O varejo é outro setor que se beneficia com a agenda econômica. Neste segundo semestre, um dos fatores que deve impulsionar o setor é a liberação de parte de recursos do FGTS.

Inicialmente, os cotistas terão direito a R$ 500, por meio de uma retirada chamada de “saque emergencial”. A partir de 2020, o trabalhador poderá retirar anualmente um percentual do saldo de seu Fundo. Com isso, os analistas esperam uma injeção de recursos na economia, que devem ser absorvidos, ao menos em parte, pelo consumo.

— Em relação ao primeiro saque, de R$ 500, a leitura é que será usado para consumo. Diante desse cenário, as varejistas têm possibilidade de ganhos nos próximos meses — projeta Raphael Pira, responsável por renda variável na Acqua Investimentos.

O impulso do FGTS nos ganhos do varejo também é apontado por Passos, da Guide. Ele ressalta ainda que a queda nos juros pode contribuir positivamente para as empresas ligadas a consumo:

— A redução nos juros pode impactar positivamente o crédito, tornando-o mais barato para o consumidor. Com o incremento que o FGTS vai proporcionar, as varejistas têm boas projeções para os próximos meses.

A carteira recomendada da Guide traz ainda as ações da agência de viagens CVC Brasil. Isso porque, com a melhora na economia, analistas projetam recuperação das viagens domésticas e aceleração nas reservas corporativas.

Estatais também são bem cotadas. A projeção de bons ganhos está atrelada à venda de ativos e estudos para privatização. Isso pode ser observado pelo comportamento das ações da BR Distribuidora.

Desde 23 de julho, quando a Petrobras vendeu o controle da rede de postos de gasolina, os papéis da BR acumulam alta de 4,23%.

ATENÇÃO AO OBJETIVO

Se a renda variável atrai pela possibilidade de rentabilidade melhorem tempo de juros baixos, especialistas ressaltam que o risco é maior, por causa da volatilidade da Bolsa. Por isso, o investidor tem de ponderar quais são seus objetivos para aquele montante, explica Ricardo Teixeira, professor dos MBAs da FGV.

Apesar da queda dos juros, Teixeira ainda vê a renda fixa como um bom investimento no caso em que a principal preocupação é a segurança:

—Se o objetivo do investidor for constituir uma poupança a longo prazo, a renda fixa continua sendo um bom produto. Mas se o foco for rentabilidade, não é tão atraente assim.

O professor destaca que muitas pessoas ainda têm a memória dos juros de dois dígitos, o que beneficiava os ganhos da renda fixa. Esse cenário, porém, mudou:

—O atual cenário de juros contribui para que o investidor diversifique sua carteira e, de acordo com seu perfil, faça aplicações em renda variável —diz Teixeira.

Ele alerta, porém, para investimentos suspeitos:

—Golpistas existem, então é preciso buscar conhecimento sobre as aplicações e respeitar o seu perfil de risco.

Retirada pode ser feita em lotéricas

> Os trabalhadores poderão efetuar a retirada do saque emergencial do FGTS em qualquer casa lotérica do país. A Federação Brasileira das Empresas Lotéricas (Febralot) definiu com a Caixa Econômica Federal a participação das lotéricas no esquema especial de atendimento, que deve começar em setembro.

> A medida prevê que o trabalhador poderá sacar até o limite de R$ 500 por conta vinculada do FGTS, ativa ou inativa. O limite para saques do Fundo em lotéricas é de R$ 3 mil.

> Segundo o presidente da Febralot, Jodismar Amaro, o saque nas lotéricas será autorizado com a apresentação de um documento oficial com foto, o Cartão Cidadão e a senha. (Pollyanna Bretas)