Título: Cristina Kirchner perde classe média
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Fonte: Correio Braziliense, 10/11/2012, Economia, p. 19

Em meio à deterioração da economia, a presidente argentina é reprovada por setores que apoiaram sua reeleição, mas não aceitam a possibilidade de dar a ela um terceiro mandato

Buenos Aires — A presidente argentina, Cristina Kirchner, atravessa um dos seus momentos mais difíceis desde a sua chegada ao poder, enfrentando uma onda de manifestações de massa que ilustra a perda de apoio do governo entre grande parte da classe média, à medida que a situação política e econômica do país se deteriora. Na noite de quinta-feira, milhares de pessoas saíram às ruas das principais cidades para protestar contra a corrupção no governo e os planos dela para obter um terceiro mandato.

“Sim à democracia, não à reeleição”, gritavam manifestantes que ocuparam espaços públicos na capital e em cidades como Rosário, Córdoba, Mendoza e Bariloche, entre outras. “A presidente está perdendo o apoio de uma parte da classe média que votou nela há um ano”, disse a analista política Graciela Romer à France Presse.

“Havia muitas mulheres e jovens”, observou o analista Jorge Giacobbe. “Este é um movimento heterogêneo, cuja base social foi ampliada em comparação com o de 13 de setembro”, acrescentou, lembrando um protesto anterior. A popularidade de Cristina Kirchner está caindo. “Sua imagem positiva é de 34%, contra 60% na semana de sua reeleição”, disse Giaccobe.

Segundo o Instituto Management & Fit, mais de 80% da população rejeita a possibilidade de um terceiro mandato, que não está previsto pela Constituição argentina. A presidente foi eleita pela primeira vez em 2007 e reeleita em outubro de 2011. O governo possui maioria no Congresso, mas não os dois terços de votos necessários para promover uma mudança constitucional. Eleições legislativas devem ser realizadas em outubro de 2013.

A ideia de uma segunda reeleição foi lançada, de acordo com alguns analistas, a fim de reafirmar o poder de uma presidente cada vez mais questionada. Outros acreditam que há um núcleo no gabinete de Cristina que se apega à sua reeleição como a única forma de permanecer no poder, já que ela não tem um sucessor à vista.

Cartão vermelho Os manifestantes também acusam a presidente de mentir sobre a inflação. Em setembro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que apresentará “cartão vermelho”, caso a Argentina não retifique os dados oficiais. Em 2011, o governo declarou que a carestia foi de 9,5%, mas institutos privados estimam que a alta real dos preços alcançou até 25%.

Os protestos também ocorrem no momento em que o crescimento da economia argentina passou de 9% em 2011 — quando que Kirchner se reelegeu, com 54% dos votos — para apenas 2,2% este ano, segundo previsão do Banco Mundial. Além disso, o governo impôs controles estritos sobre o mercado de câmbio, limitando a circulação de moeda estrangeira, para lutar contra a fuga de capitais.

Essas medidas tornam a vida difícil para os argentinos, que sempre viram o dólar como um refúgio contra a inflação.O país não tem acesso a linhas de crédito internacionais devido ao histórico calote de mais de US$ 100 bilhões, em 2001.