O globo, n.31408, 04/08/2019. Mundo, p. 41

 

Oposição pedirá impeachment de presidente e vice paraguaios 

Janaína Figueiredo 

04/08/2019

 

 

O presidente do Partido Liberal do Paraguai, Efraín Alegre, um dos principais líderes da oposição no país, anunciou que apresentará amanhã o pedido de impeachment do presidente Mario Abdo Benítez; seu vice, Hugo Velázquez; e do ministro da Fazenda, Benigno López, por suposta traição à pátria. Os três são acusados pela oposição de terem escondido informação relacionada às negociações com o Brasil, num acordo em que o Paraguai pagaria mais pela energia produzida pela hidrelétrica binacional de Itaipu.

Até quinta-feira passada, a iniciativa contava com o respaldo de um setor do governista Partido Colorado, que acabou mudando de posição após os governos do Brasil e do Paraguai terem anulado o acordo selado em maio passado, que desencadeou a crise. Na opinião do Partido Liberal, o recuo não muda o fato de que o presidente e seu vice firmaram um entendimento que era secreto até a semana passada e ia contra demandas históricas do Paraguai.

—Na próxima segunda (hoje) apresentaremos o pedido de impeachment, e a História lembrará de todos (os três acusados) com vergonha — disse Alegre ao GLOBO. Segundo o líder opositor, “os votos (necessários para aprovar o pedido) serão vistos no processo”.

— Isso está apenas começando —enfatizou Alegre. O Judiciário está investigando o caso. Ontem, o advogado José Rodríguez González, que em mensagens enviadas ao ex-presidente da Ande (a Eletrobrás local, envolvida nas negociações sobre Itaipu) se apresentava como representante do vice-presidente, prestou depoimento em Assunção.

Segundo analistas locais, a oposição não teria os votos necessários para aprovar o pedido de impeachment, mas o Partido Liberal espera que o avanço das investigações nos tribunais locais e levem apressão sobre deputados e senadores e compliquem a situação do presidente. Também prestou depoimento Pedro Ferreira, o ex presidente da Ande que renunciou ao cargo semana passada por divergências sobre a ata diplomática assinada em maio, em Brasília. Ferreira questionou a exclusão do ponto 6 do acordo, que previa que a Ande começasse a vender energia no mercado brasileiro.

Segundo o ex-presidente da estatal, comentaram fontes da Ande, o objetivo da exclusão seria favorecer o grupo brasileiro Leros, que enviou uma carta de intenção para participar da futura licitação de energia paraguaia. Ainda de acordo com a fonte, foi pedido a Ferreira que a Leros tivesse exclusividade, mas o presidente da Ande negou-se e, quando soube que o ponto 6 fora retirado do acordo, pediu demissão. Ouvida pelo GLOBO, a Leros nega qualquer pedido de favorecimento.