Correio braziliense, n.20533, 11/08/2019. Política, p. 6

 

Com a chave da embaixada

Bernardo Bittar

11/08/2019

 

 

Poder » A partir do número de assinaturas favoráveis a uma PEC sobre mudanças nas regras de nepotismo, é possível medir o favoritismo de Eduardo, filho de Jair Bolsonaro, em ser aprovado pelo Senado para assumir o posto diplomático nos Estados Unidos

O prognóstico otimista do governo na indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) como embaixador do Brasil nos Estados Unidos deve ser confirmado no Senado — responsável por endossar a decisão do Planalto. Com base em uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que esbarra neste tema, o Correio fez um levantamento que serve como termômetro para os votos sobre a indicação de Eduardo ao cargo no plenário da Casa. A expectativa é de que a votação ocorra entre segunda e terça-feira.

Para que o deputado se torne embaixador, ele precisa do apoio de 41 dos 81 senadores em exercício. A PEC n° 120/2019, que altera os artigos 37 e 87 da Constituição disciplinando o nepotismo na Administração Pública, tem a assinatura de 38. A peça está disponível no site do Senado.

Excluídos os apoiadores do projeto e um dissidente (que, primeiro, concordou com a PEC; depois, mudou de opinião), sobram 42 votos. O número é mais que o suficiente para que o filho 03 do presidente seja empurrado para o cargo de embaixador do Brasil em Washington, nos Estados Unidos, um dos mais cobiçados da carreira diplomática internacional.

A autorização para Eduardo assumir a embaixada não passa pela Câmara. Ainda assim, dois projetos que tramitam na Casa são recados diretos ao filho do presidente. De autoria do Cidadania, um Projeto de Lei e uma PEC pedem que pessoas alheias ao serviço exterior não possam ser indicadas como chefes de missão no exterior — ou seja, embaixadores. O texto é assinado por Marcelo Calero (RJ). Diplomata licenciado, declarou, em plenário que “a indicação de Eduardo é um desprestígio à carreira”.

Na última quinta-feira, o pedido de agréement — o sinal verde do país que receberá o novo embaixador — do Brasil foi acatado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Após reunião com o chanceler Ernesto Araújo, do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Eduardo disse que o “sim” de Trump é “motivo de muito orgulho”.

A indicação de Eduardo causou polêmica até entre os eleitores de Bolsonaro. O presidente disse que, havendo a possibilidade de ajudar os filhos, não deixaria de fazê-lo — uma das tentativas para justificar a decisão de indicar o 03 para a embaixada americana.

Com Eduardo no posto, Jair Bolsonaro espera que o relacionamento entre o Brasil e os Estados Unidos seja tratado com “maior deferência”. Chegou-se a aventar a possibilidade que o filho mais novo de Trump, Eric Trump, viesse para o Brasil ocupar um cargo semelhante. A informação foi negada dias depois pelos representantes das Organizações Trump.

Na cerimônia de 200 dias de governo, Jair Bolsonaro defendeu o nome do filho para a embaixada afirmando que “o Eduardo e a família Trump têm ótimo relacionamento”. Presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Eduardo demonstra interesse em assuntos de estado no exterior desde que o pai assumiu o Planalto, em janeiro. Contudo, uma das barreiras para que ele se tornasse embaixador era a idade. Eduardo completou 35 anos em 10 de julho e, na mesma semana, recebeu a chancela do pai para o cargo.

Desde abril, quando o chanceler Ernesto Araújo removeu o diplomata Sérgio Amaral do posto, Washington não tem embaixador formal que represente o Brasil. O diplomata Nestor Foster era considerado o favorito para substituí-lo até o presidente da República decidir indicar o próprio filho. O Correio antecipou que, internamente, Foster é tratado como “quem vai arregaçar as mangas” e comandar a embaixada seguindo o protocolo da carreira. Eduardo seria alçado à posição de “rosto”, “a face política” do cargo.

A partir de agora, Ernesto Araújo e a equipe técnica do Itamaraty devem formalizar, a qualquer momento, a mensagem que será encaminhada ao Senado pedindo o endosso da decisão. O texto precisa da assinatura do presidente. “Sim”, antecipou Jair Bolsonaro, após reunião sobre o tema. É a primeira vez que o filho de um presidente da República em exercício é indicado (pelo próprio pai) ao cargo de embaixador brasileiro. Sobre a indicação de Eduardo para a embaixada dos EUA, Onyx Lorenzoni afirmou que vai trabalhar para que o Brasil tenha o “melhor embaixador dos últimos anos”. “Estamos conversando com os senadores para construir esse entendimento, essa aliança”, pontuou.