Correio braziliense, n.20533, 11/08/2019. Política, p. 9

 

Governo vê problemas para vender Correios

Antonio Machado

11/08/2019

 

 

 

Bolsonaro reconhece que destino da empresa depende de aval do Congresso

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que a privatização dos Correios, em estudo pelo governo, “não é fácil”, e reconheceu que uma decisão sobre o assunto depende do Poder Legislativo. Sentença recente do Supremo Tribunal Federal (STF), lembrou o chefe do Executivo, determinou que a venda de estatais criadas por lei, como os Correios, precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional. Além disso, segundo a Constituição, os serviços postais são monopólio do Estado.

Falando à imprensa diante do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse não saber se os Correios poderiam ser privatizados ainda em seu governo. “Não sei como responder. As coisas não dependem de mim. Ainda bem que dependem de outras pessoas, às vezes você erra”, afirmou.

O presidente da empresa, Floriano Peixoto, que acompanhava o presidente, afirmou que está empenhado em recuperar a empresa. “A missão que recebi do presidente da República é a de recuperar financeiramente os Correios, que estão em situação muito difícil”, disse Peixoto.

A dificuldade de encaminhar a venda da estatal ficou evidente na semana passada, quando Bolsonaro e o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, deram declarações desencontradas sobre o assunto. Na última terça-feira, em evento em São Paulo, o presidente disse que o governo vai vender a companhia para a iniciativa privada. Pouco depois, em audiência numa comissão da Câmara, Pontes afirmou não haver “nenhum procedimento de desestatização ou privatização” da empresa pública.

Sindicalista

O assunto tem sido motivo de polêmica, até gerado crises, na gestão Bolsonaro. Primeiro presidente da estatal no atual governo, o general Juarez Aparecido de Paula Cunha foi demitido pelo presidente da República, que o acusou de ter agido “como sindicalista” numa visita ao Congresso, quando criticou a eventual privatização e posou para fotos ao lado de parlamentares do PT e do Psol.

Diante da dificuldade de encaminhar a venda dos Correios, técnicos do governo têm sugerido a realização de parcerias entre a estatal e a iniciativa privada em determinadas atividades. Seria uma forma de aumentar a eficiência e reduzir os custos da empresa pública, que, com mais de 100 mil funcionários, acumula uma grande dívida com o fundo de pensão dos empregados, o Postalis, que está sob intervenção há mais de dois anos.