Título: Obama quer taxar salários mais altos
Autor: Luna, Thais de
Fonte: Correio Braziliense, 10/11/2012, Mundo, p. 22

Presidente diz que está pronto para negociar um acordo com a oposição, a fim de evitar o abismo fiscal e garantir a estabilidade da economia americana»

No primeiro pronunciamento público desde o discurso da reeleição, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou que os ricos terão que pagar mais impostos para que o governo consiga reduzir o deficit fiscal. Para isso, convidou os membros da Câmara dos Representantes (a Câmara dos Deputados norte-americana), formada majoritariamente por republicanos, para aprovarem um projeto de lei, que já passou pelo Senado, o qual reduz os impostos da classe média e permite o aumento de tributos dos cidadãos que recebem acima de US$ 250 mil por ano. “Não há atalhos até a prosperidade. Se realmente queremos reduzir o deficit (público federal), devemos combinar cortes de gastos com aumento de receita, e isso significa pedir aos norte-americanos mais ricos que paguem um pouco mais de impostos”, explicou Obama, na Casa Branca.

A proposta foi imediatamente rechaçada pelo presidente da Câmara, John Boehner: “O aumento de impostos vai diminuir nossa capacidade de criar os empregos que todos dizem querer”. Ele assinalou que os mais afetados pela medida seriam pequenos empresários. “Todos os aspectos relacionados com receitas e despesas devem ser analisados”, ressaltou. O tom do discurso de Boehner, no entanto, também foi conciliatório, quando lembrou que 2013 será o ano em que o país se unirá para solucionar seus problemas econômicos. “Proponho que evitemos o abismo fiscal juntos, para garantir 2013 como o ano em que nosso governo lutará contra os principais problemas que enfrentamos”, sugeriu, estendendo a mão para negociar com os democratas, mas sem abrir espaço para descontar mais dinheiro dos mais ricos.

Abertura para negociar

Embora busque um compromisso conjunto destinado a reduzir o deficit, Obama deixou claro que não aceita o projeto republicano de aumentar os impostos em todas as faixas de renda. “Na terça-feira à noite (quando saíram os primeiros resultados das eleições), soubemos que a maioria dos norte-americanos concorda com a minha abordagem”, alertou. “Quero ser claro. Não estou casado com cada detalhe de meu plano. Estou aberto a um compromisso. Estou aberto a novas ideias, mas rejeito qualquer enfoque que não seja equilibrado”, esclareceu o chefe de Estado. Em seguida, determinou que não pediria a estudantes, aposentados e famílias de classe média que pagassem todo o deficit, enquanto pessoas como ele, que recebem mais de US$250 mil anuais, não arcassem com nada a mais.

Apesar das divergências entre republicanos e democratas em relação ao tema, o professor de economia Benjamin Liebman, da Universidade de Saint Joseph, na Filadélfia, acredita que Obama será bem- sucedido em seu projeto de aumentar a tributação para a população com renda elevada. “Isso vai fazer com que os impostos cobrados aos ricos voltem ao patamar em que estavam no governo do ex-presidente Bill Clinton”, ressaltou. “Acredito que, eventualmente, a situação será resolvida, porque nenhum dos dois partidos quer que o país afunde ainda mais em uma crise. Ambos os lados terão que ceder”, disse o economista. Ele espera, no entanto, que o aumento fiscal não faça com que pequenas empresas comandadas por quem entrará na nova faixa de impostos reduzam o número de empregados, mesmo temor de Boehner.

Robert C. Hockett, da Universidade de Cornell, concorda com Liebman sobre o presidente estar no caminho certo no combate à ameaça de caos econômico. “Acredito que o projeto ainda vai melhorar as relações entre democratas e republicanos, após chegar ao público, pois os republicanos perceberão como estão politicamente fracos e acabarão com essa rotina do obstrucionismo”, comentou o analista econômico. “Você se dá bem melhor com os valentões covardes depois que bate neles. É o que Obama deve fazer”, explicou.

O chefe de Estado convidou líderes republicanos e democratas do Congresso para uma reunião na Casa Branca, prevista para a próxima semana, a fim de negociarem maneiras de evitar um abismo fiscal em 2013, que implicaria no aumento geral de impostos e ajuste nos gastos públicos. Entre os convidados estão Boehner e os principais líderes na Câmara e no Senado, como o republicano Mitch McConnell.

Diretor da CIA pede demissão David Petraeus, o diretor da agência de inteligência norte-americana, CIA, anunciou sua renúncia do cargo por causa de uma relação fora do casamento. “Após ficar casado por 37 anos, mostrei um julgamento extremamente medíocre ao me envolver em um relacionamento extraconjugal”, afirmou o general de reserva que assumiu a agência em 2011, em comunicado para os membros da CIA. O presidente Barack Obama aceitou ontem a renúncia de Petraeus, que havia pedido o desligamento na quinta-feira.

"Não há atalhos até a prosperidade. Se realmente queremos reduzir o deficit (público federal), devemos combinar cortes de gastos com aumento de receita e isso significa pedir aos norte-americanos mais ricos que paguem um pouco mais de impostos.