Correio braziliense, n. 20531, 09/08/2019. Política, p. 6

 

Cinco nomes na briga pela PGR

Rodolfo Costa

09/08/2019

 

 

Poder » Novo procurador-geral da República deverá ter perfil conservador e tratar questões ambientais sem radicalismo, diz Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro ampliou o leque de opções para a escolha do novo procurador-geral da República. Ele afirmou, ontem, ter cinco nomes em avaliação, mas continua acolhendo novas sugestões, em um processo que estimula a fritura do mais cotado para vencer a disputa, o subprocurador-geral Augusto Aras. Sem qualquer indício de se reunir com algum dos representantes da lista tríplice votada pela categoria, o presidente segue esticando a decisão para a próxima segunda-feira.

A lista de Bolsonaro não é tão transparente. Ontem, ele disse que, além de Aras, a atual procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pode ser uma das cotadas. Citou, ainda, o “primo do Aras”, o procurador regional Vladimir Aras, e o “capitão de Forças Especiais”, o subprocurador Lauro Cardoso, quarto colocado na votação da lista tríplice. Capitão da reserva, Cardoso fez curso de forças especiais e foi paraquedista, como o chefe do Executivo federal.

O subprocurador-geral Paulo Gonet é outro cotado. Ele esteve reunido com Bolsonaro, ontem, em agenda destinada à deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) e a Walton Alencar Rodrigues, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). A indicação de Gonet foi feita pela parlamentar, procuradora de carreira do Distrito Federal. “Ele comunga dos valores defendidos pelo presidente. É discreto, conservador, cristão, e não aprova o ativismo do Ministério Público”, disse a deputada ao Correio.

Outro postulante esteve reunido com Bolsonaro ontem. Trata-se de Marcelo Weitzel, subprocurador-geral de Justiça Militar. Ele tinha audiência com o presidente, no Palácio do Planalto, e foi acompanhado de Jaime Miranda, procurador-geral de Justiça Militar. Não há impeditivo legal para que o presidente indique alguém do Ministério Público Militar (MPM), embora essa possibilidade gere ruídos no Ministério Público Federal (MPF).

As opções são diversas, mas a disputa pela PGR deve ficar restrita a três nomes na reta final. Bolsonaro tem sido alertado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli para os riscos de escolher alguém que não seja um subprocurador do MPF. Dessa forma, Vladimir Aras, Lauro Cardoso e Marcelo Weitzel podem ser rifados da disputa. Sobrariam Augusto Aras, Raquel Dodge e Paulo Gonet.

A possibilidade de escolha de algum nome da lista tríplice elaborada por integrantes da PGR é remota, dizem pessoas próximas a Bolsonaro. Dessa maneira, o próprio filtro que ele fará até segunda-feira pode limitar algumas escolhas, como a de Dodge. A aliados, o presidente admite que ela não tem o perfil conservador desejado por ele. Dessa forma, sobram, por eliminação, Aras e Gonet.

Os dois são conservadores e preenchem requisitos defendidos por Bolsonaro. Mesmo a pressão feita contra Aras por aliados do chefe de governo pode não surtir efeito. “A preocupação do presidente é com o comprometimento atual. Ele diz: ‘olho para frente, não para trás’”, explicou Kicis.

Ontem, o próprio Bolsonaro minimizou as notícias que apontam um alinhamento do subprocurador com ideias da esquerda. “Quem quer que seja apontado por mim vai levar tiro de (arma de calibre) .50”, afirmou, em referência à imprensa. Disse que, por reportagens publicadas em jornais, Aras ganhou “um pontinho mais positivo”. “(Mas) não estou definindo que seja ele.”

Agenda

A indefinição na escolha do sucessor de Dodge é justificada por Bolsonaro pela preocupação de identificar alguém com perfil mais próximo da agenda conservadora. Ele citou, como exemplo, o desejo de um procurador que trate a questão ambiental “sem radicalismo”. E sugeriu que, nesse debate, o Ministério Público Federal (MPF) tem mais atrapalhado do que contribuído. “Esperamos ter um procurador que trate a questão ambiental, por exemplo, sem radicalismo. (...) Temos problemas nesse sentido. Muitas vezes o MP interfere em questões nossas”, criticou.

O presidente insinuou que a instituição não tem contribuído no desfecho de políticas de Estado que esbarram em entraves legais e ambientais, como a construção do Linhão Manaus-Boa Vista. “Que não atrapalhem na questão das minorias, o trabalho dos índios querendo progredir, ser como nós somos. A gente conta que o futuro chefe do MP trabalhe nesse sentido com seus pares”, declarou Bolsonaro. Ele manifestou o desejo de que o sucessor de Dodge evite “essa forma xiita de se tratar as minorias” e cobrou “tratamento adequado no tocante às Forças Armadas”.

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Elogio a torturador

09/08/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro chamou de “herói nacional” o falecido coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, após receber Maria Joseíta Silva Brilhante Ustra, viúva do militar. O coronel foi o primeiro oficial das Forças Armadas condenado pela Justiça em ação declaratória por sequestro e tortura durante a ditadura militar, em 2008.

O presidente disse, em um primeiro momento, ter tido “muito contato” com Ustra. Depois, se corrigiu, afirmando ter tido “alguns contatos” com o militar enquanto estava vivo. “(É) um herói nacional, que evitou que o Brasil caísse naquilo que a esquerda hoje em dia quer”, disse.

História

A viúva de Ustra foi revisora do livro escrito por ele, A Verdade Sufocada. O presidente disse que ela é uma mulher que tem “histórias maravilhosas” para contar sobre presidiárias em São Paulo “envolvidas com a guerrilha”. “Tudo o que ela fez no tocante ao bom tratamento a elas, a enxoval, dignidade, parto. E conta uma história bem diferente daquela que a esquerda contou para vocês. Tem um coração enorme. Sou apaixonado por ela”, declarou Bolsonaro.

As declarações do presidente provocaram reações. Um dos autores do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o advogado Miguel Reale Jr., afirmou que a fala do presidente equivale a um “tapa na cara da civilização”. “Como ex-presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, e tendo sabido o que se passou no Doi-Codi, isso me causa a maior indignação”, acrescentou. (RC)