Correio braziliense, n. 20531, 09/08/2019. Política, p. 6

 

Otimismo com embaixada nos EUA

09/08/2019

 

 

A indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a embaixada brasileira nos Estados Unidos deve ser aprovada “sem percalços” no Senado. É o que declarou ontem o presidente Jair Bolsonaro. Mesmo com a reforma da Previdência tramitando na Casa, parlamentares não veem obstáculos em votar a pauta na Comissão de Relações Exteriores (CRE) e, depois, em plenário. Entretanto, a aprovação pode não ser simples e vai exigir que o governo abra espaços para a indicação de apadrinhados políticos.

O otimismo de Bolsonaro decorre de conversas que a articulação política do governo e ele próprio mantém com senadores, dando a entender que tem ouvido de parlamentares uma sinalização favorável pela aprovação. “A tendência, hoje em dia, é aprovar sem percalços”, declarou, ontem.

O senador Izalci Lucas (PSDB-DF), primeiro-vice-líder do governo na Casa, também está otimista com a votação. Porém, a convicção do parlamentar é mais comedida. Izalci explicou que alguns senadores, os quais ele imaginou que não teriam resistência em votar a favor de Eduardo, estão se posicionando de maneira contrária à indicação, sugerindo um problema na votação. “São, em grande maioria, parlamentares de primeiro mandato que acabam indo na onda das redes sociais. Mas não creio que será o caso de uma derrota”, afirmou.

A sabatina de Eduardo na CRE e em plenário pode ser feita de maneira célere, segundo Izalci. “Se o Senado quiser, é possível votar tudo em dois dias, sem dificuldades”, avaliou.

O governo está avisado que a escolha de Eduardo trará um custo político. Bolsonaro, no entanto, mostrou disposição para arcar com o preço. Declarou, ontem, que há duas vagas em aberto para o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), e manifestou que outras quatro devem entrar em vacância. “Vamos ter total de meia dúzia de vagas este ano”, afirmou. A indicação de postos chaves na autarquia é algo que o Executivo negocia com o Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e líderes partidários.

O prazo para o envio da mensagem oficial de indicação de Eduardo ainda é desconhecido. A recomendação será formalizada depois que o governo receber resposta ao pedido de agrément feito aos Estados Unidos. “Estou aguardando o retorno, para não ter problema. Não adianta atropelar. A gente tem conversado com senadores, eu também. A tendência, hoje em dia, é aprovar sem percalços”, declarou Bolsonaro.

Elogio a torturador

O presidente Jair Bolsonaro chamou de “herói nacional” o falecido coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, após receber Maria Joseíta Silva Brilhante Ustra, viúva do militar. O coronel foi o primeiro oficial das Forças Armadas condenado pela Justiça em ação declaratória por sequestro e tortura durante a ditadura militar, em 2008.

O presidente disse, em um primeiro momento, ter tido “muito contato” com Ustra. Depois, se corrigiu, afirmando ter tido “alguns contatos” com o militar enquanto estava vivo. “(É) um herói nacional, que evitou que o Brasil caísse naquilo que a esquerda hoje em dia quer”, disse.

História

A viúva de Ustra foi revisora do livro escrito por ele, A Verdade Sufocada. O presidente disse que ela é uma mulher que tem “histórias maravilhosas” para contar sobre presidiárias em São Paulo “envolvidas com a guerrilha”. “Tudo o que ela fez no tocante ao bom tratamento a elas, a enxoval, dignidade, parto. E conta uma história bem diferente daquela que a esquerda contou para vocês. Tem um coração enorme. Sou apaixonado por ela”, declarou Bolsonaro.

As declarações do presidente provocaram reações. Um dos autores do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o advogado Miguel Reale Jr., afirmou que a fala do presidente equivale a um “tapa na cara da civilização”. “Como ex-presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, e tendo sabido o que se passou no Doi-Codi, isso me causa a maior indignação”, acrescentou. (RC)