Correio braziliense, n.20535 ,13/08/2019. Economia, p. 7

 

País encolhe 0,13%, segundo dados do BC

Hamilton Ferrari

13/08/2019

 

 

Conjuntura » Índice que mede atividade econômica do Banco Central, considerado a prévia do PIB, fica negativo de abril a junho, praticamente confirmando que o país está em recessão técnica - quando há recudo por dois trimestres consecutivos

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) foi um banho de água fria nos analistas que estavam esperando crescimento da economia — mesmo que modesto — no segundo trimestre do ano, na comparação com os três meses anteriores. Considerado a prévia do Produto Interno Bruto (PIB), o indicador da autoridade monetária mostrou que o país encolheu 0,13% no período e indica que a recessão técnica voltou a ser realidade.

De acordo com o Banco Central, a economia cresceu apenas 0,3% em junho, na comparação com maio. Considerando os números sem ajuste sazonal — porque avalia períodos iguais de tempo —, a atividade cresceu 0,62% no ano e 1,08% no acumulado de 12 meses. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai divulgar no próximo dia 29 a taxa de crescimento do país no segundo trimestre do ano.

A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, disse que a comparação do PIB com o IBC-Br não é perfeita, mas é uma estimativa aproximada que reforça a possibilidade de o Brasil ter um segundo dado trimestral negativo, o que configura a recessão técnica. “O ponto é que, qualquer que seja o índice, 0,1% de queda ou 0,1% de crescimento, o país está com a economia estagnada e tem fraqueza de demanda”, disse. “Não existe bala de prata na economia atual. As mudanças estão acontecendo e, para voltar a crescer em linha com o mundo, não acredito que seja neste mandato presidencial”, completou.

Zeina explica que a nova rodada de redução dos juros e a liberação de saques de recursos, como do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), não deve ter impacto significativo. “Trará alívio, mas nosso problema é estrutural. O potencial de crescimento, dada a falta de infraestrutura, tecnologia, a qualidade de mão de obra, está em 0,8%, segundo estimativa aqui da XP. Antes, esse potencial era de 3,5%”, compara a economista-chefe.

O relatório Focus, do BC, que traz projeções dos analistas do mercado financeiro para a economia, mostrou que há uma expectativa de que o crescimento fique em 0,81% em 2019. Há uma semana, o boletim informava que as perspectivas era de um avanço de 0,82%. Nem mesmo a taxa Selic no menor patamar da história foi suficiente para estimular mais fortemente a economia, tanto é que o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu os juros de 6,5% ao ano para 6% anuais na última reunião.

Juros

Com a atividade econômica fraca e inflação baixa, o mercado vê espaço para reduzir ainda mais a Selic. De acordo com os analistas, a taxa básica Selic deverá terminar o ano em 5% ao ano. O cálculo do IBC-Br também auxilia o BC a definir os juros. De acordo com o economista Silvio Campos Neto, analista da Tendências Consultoria, a diminuição pode criar um cenário de mais otimismo no segundo semestre. “Números do mercado de trabalho mostram uma reação e a incerteza da não aprovação da reforma da Previdência foi removida do cenário, aumentando as expectativas”, destacou.

As projeções para o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) estão em 3,76% para 2019, sendo que, no penúltimo relatório, a expectativa era de variação de 3,8%. A meta do governo federal é de 4,25%, com um intervalo de 1,5 ponto percentual para baixo e para cima.

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Guedes pede, ao Brasil, paciência

Rosana Hessel

​13/08/2019

 

 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, tentou justificar o fraco crescimento da economia neste ano com o fato de o governo não ter conseguido avançar com todas as reformas. Na avaliação do ministro, ainda é pouco tempo para que o governo com políticas liberais na economia apresente resultados. “Deixem um governo liberal ter uma chance, esperem quatro anos. Não trabalhem contra o Brasil, tenham um pouco de paciência. Esperem a vez de vocês”, disse durante o seminário Declaração de Direitos de Liberdade Econômica — Debates sobre a MP 881/2019, realizado pelo Tribunal Superior de Justiça (STJ), ontem.

Durante o discurso de abertura do seminário, o ministro destacou que o Brasil não consegue crescer como no passado, porque tem dificuldade de avançar. “Somos um país rico em recursos naturais, mas a economia não cresce porque somos prisioneiros cognitivos de crenças obsoletas”, afirmou. “Estamos tentando mudar essa concepção com muitas reformas. O Brasil, que era uma economia dinâmica, virou uma economia estagnada com um regime político que se degenerou”, declarou.

Desaforo

Ao defender mudanças, ele criticou os que impedem de as reformas avançarem. “Não é fácil aguentar 40 anos de desaforo”, resumiu Guedes. O chefe da equipe econômica voltou a criticar o governo de esquerda da Venezuela, que atravessa uma forte crise econômica, e sinalizou preocupação com as prévias eleitorais da Argentina, que apontam um retorno do kirchnerismo, com o candidato Alberto Fernández. “A Argentina já teve a sexta maior renda per capita do mundo e só afunda desde o peronismo”, disse.

O ministro voltou a defender que o Estado precisa sair do “cangote” do empreendedor e do contribuinte e fez uma analogia de que o país é uma “baleia ferida”, que está sangrando há anos. Mas, na avaliação do ministro, o país voltará a crescer quando a agenda de reformas micro e macroeconômicas avançar.