Título: Kassab na ponte aérea São Paulo-Brasília
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 09/11/2012, Política, p. 4

Presidente do PSD será recebido no Palácio do Planalto e prepara o terreno para a sigla desembarcar na Esplanada. Preferência é pela bilionária Secretaria de Aviação Civil

Noiva da vez na Esplanada, o PSD começa, na semana que vem, a provar o vestido e a ensaiar os passos em direção ao altar. Na terça-feira, o presidente nacional da legenda e prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, desembarca em Brasília para ser homenageado pela Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara. Reúne-se depois com a bancada de deputados e terá um encontro com a presidente Dilma Rousseff para discutir a relação. "Será um papo sobre passado, presente e futuro", resumiu o líder do PSD na Câmara, Guilherme Campos (SP).

Como bem afirmou um aliado da presidente, ninguém é ingênuo de pensar que Kassab abrirá, nesse primeiro encontro, uma pasta diante de Dilma com uma lista de nomes do partido para ocupar espaços na Esplanada. Até porque, a presidente só deverá bater esse martelo tão esperado por PSD e PMDB em fevereiro, após as eleições para as Mesas Diretoras do Congresso.

Mas a vinda de Kassab a Brasília, especialmente para conversar com a bancada, servirá para definir as estratégias a serem apresentadas à presidente. O Planalto já definiu que o PSD virá para o governo. A legenda foi fiel desde a criação. Foi bem nas eleições municipais, mas não é isso que conta aos olhos do Planalto. "Quem vota os projetos do governo são os deputados, não os prefeitos", resumiu uma pessoa próxima a Dilma.

Como toda negociação política, os movimentos de atração e recuo se sucedem. No início do ano, o PSD de Kassab quase fechou a aliança para ser vice de Fernando Haddad (PT) na disputa pela prefeitura de São Paulo. O PT demorou demais e os pessedistas aliaram-se a José Serra (PSDB). Já desembarcaram. Kassab anunciou que, em 2014, o partido apoiará o PT na eleição para o governo estadual, apesar de Guilherme Afif Domingos (PSD) ser o vice de Geraldo Alckmin (PSDB) no Palácio dos Bandeirantes.

Opções Alguns pontos do casamento ainda estão em aberto. Dilma, em um primeiro momento, pensava em oferecer a Kassab o Ministério da Micro e Pequena Empresa, ainda não criado oficialmente — o projeto de lei foi aprovado na Câmara na noite de quarta-feira, mas ainda precisa ser analisado pelo Senado. Os deputados de oposição afirmaram que o Planalto estava criando mais um "cabide de empregos", o que indica que a tramitação entre os senadores pode não ser tão tranquila.

Kassab, contudo, achou a pasta muito pequena para as ambições do partido e resolveu mirar mais alto: a Secretaria de Aviação Civil (SAC) da Presidência da República. Criada em março de 2011, a SAC coordena a Agência Nacional de Aviação Civil, a Infraero e o recém-criado Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac). Em números, o ministro responsável pela pasta controlará um orçamento em 2013 que pode chegar a R$ 5 bilhões: Agência Nacional de Aviação Civil (R$ 400 milhões), Infraero (entre R$ 1,4 bilhão e R$ 2 bilhões) e os primeiros rendimentos depositados na Fnac (R$ 2,6 bilhões).

A SAC também administrará as concessões dos aeroportos de Brasília, Guarulhos (SP) e Viracopos (SP), que renderam diretamente aos cofres públicos R$ 24,5 bilhões e outros R$ 250 bilhões ao longo dos próximos 30 anos. O governo ainda prepara um novo pacote de concessões, desta vez para os aeroportos do Galeão (RJ) e de Confins (MG), que pode ser anunciado ainda este mês.

Dois nomes aparecem com mais chance para a indicação do PSD: o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Simão, e o líder do partido na Câmara, Guilherme Campos (SP). Simão é amigo de Dilma, presidente do PSD mineiro e foi um parceiro estratégico do governo na implantação do programa Minha Casa, Minha Vida. Já Guilherme Campos é um aliado fiel de Kassab, que poderia "comandar a pasta sem ser o ministro titular", definiu um desafeto do prefeito paulistano. Kassab não será ministro para não transferir a presidência do partido para a senadora Kátia Abreu (TO), com quem teve atritos recentes por causa das eleições municipais de Belo Horizonte.

Colaborou Sílvio Ribas

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