Título: Dilma perdoa ambição
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Almeida, Amanda
Fonte: Correio Braziliense, 09/11/2012, Política, p. 5

Presidente classifica de natural o desejo de crescimento do PSB e promove jantar para reforçar laços e manter a sigla fiel ao Planalto

Um dia depois de jantar com a cúpula do PMDB no Palácio da Alvorada, a presidente Dilma Rousseff reuniu-se com o presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, e o vice do partido, Roberto Amaral, para mostrar que não existem mágoas após o resultado das eleições municipais de outubro. A presidente afirmou que entende "o desejo do PSB de crescer" e deixou claro que as disputas entre os socialistas e o PT pelas prefeituras, especialmente no Nordeste, não devem contaminar a relação nacional. "Eleição municipal é eleição municipal. A minha preocupação é que não restem ruídos para o futuro", declarou a presidente, segundo relato dos presentes.

Dilma foi rápida para mostrar ao PSB a importância do aliado e o desejo de que ele continue na base do governo até 2014. Após as eleições municipais, sobretudo por conta do crescimento da legenda no número de prefeituras e da relação próxima de Eduardo Campos com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), provável candidato da oposição ao Planalto daqui a dois anos, muitos petistas e analistas políticos começaram a afirmar que o governador pernambucano se preparava para um voo solo.

Ontem, após cerimônia sobre educação no Palácio do Planalto, na qual foi elogiado tanto por Dilma quanto pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), defendeu o apoio do partido à reeleição da presidente. E provocou Eduardo, sugerindo que, como o PMDB comandará as duas casas do Congresso, o governador de Pernambuco poderá ser o vice de Dilma no lugar de Michel Temer. "Ratifiquei que o nosso projeto é de poder, mas penso que não há problema em aguardar 2018. Eu defendo que a Vice-Presidência, em 2014, seja do PSB, um quadro nosso, e naturalmente que seja o nosso presidente, Eduardo Campos." Indagado sobre o que a presidente respondeu, Cid completou: "Ela? Nada. Não pode responder".

Encontro Durante o jantar no Palácio da Alvorada, do qual também participaram o presidente do PT, Rui Falcão, e a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, Dilma avisou que chamará, provavelmente no fim do mês, os governadores socialistas e os prefeitos eleitos das capitais. Isso inclui Geraldo Julio (Recife) e Roberto Cláudio (Fortaleza), que derrotaram, respectivamente, Humberto Costa e Elmano de Freitas, ambos do PT — petistas nordestinos criticaram o PSB pelo rompimento das alianças nas duas capitais.

Falcão afirmou que existe um acordo entre o PT e o PMDB para lançar a candidatura de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) à presidência da Câmara. Mas disse que isso não envolve, necessariamente, a adesão dos demais partidos aliados. O PSB, por exemplo, pode lançar a candidatura do deputado Júlio Delgado (MG) para disputar o cargo. "Teremos o cuidado para não criar um novo Severino", prometeu Roberto Amaral. Severino Cavalcanti (PP-PE) foi eleito presidente da Câmara em 2005 graças à briga no PT, que teve dois candidatos: Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e Virgílio Guimarães (MG).

"Ratifiquei que o nosso projeto é de poder, mas penso que não há problema em aguardar 2018. Eu defendo que a Vice-Presidência, em 2014, seja do PSB, um quadro nosso, e que seja o nosso presidente, Eduardo Campos" Cid Gomes (PSB), governador do Ceará

Análise a notícia

Ecos das urnas A presidente Dilma Rousseff avisou ao PMDB que conversará com todos os partidos da base aliada para cicatrizar as feridas abertas pela disputa municipal. Mas as duas primeiras escolhas foram cirúrgicas: o PMDB, maior sigla no Senado e que presidirá a Câmara a partir de 2013; e o PSB, a legenda que saiu vitaminada da eleição. Não por acaso, as duas legendas disputavam a primazia de posarem ao lado de Dilma na fotografia da chapa presidencial em 2014. O PMDB foi o contemplado em 2010 e, provavelmente, será novamente ungido daqui a dois anos.

Animado com a chuva de votos de outubro, o PSB ensaiou um sonho mais alto: desvencilhar-se da aliança e partir para a carreira solo em 2014. Dilma, habilmente, chamou Eduardo Campos para jantar no Palácio do Alvorada. Afagou o presidente do PSB e deixou claro que adoraria tê-lo ao seu lado daqui a dois anos.

Dilma vai costurando os parceiros para a sua reeleição. Sabe que algumas legendas estarão sob sua órbita, especialmente se mantidos os atuais índices de aprovação e a economia retomar o ritmo de crescimento do fim do governo Lula. As maiores preocupações, como mostrou o Correio no último domingo, eram o PMDB e o PSB. Dilma não pagou para ver. Chamou os dois para jantares no Palácio do Alvorada a fim de evitar debandadas inoportunas. (PTL)