O Estado de São Paulo, n. 46128, 02/02/2020. Política, p. A8

 

Onyx se reúne com Bolsonaro e diz que ficará na Casa Cívil

Paula Reverbel

Pedro Venceslau

02/02/2020

 

 

Após reunir-se ontem com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, o ministro Onyx Lorenzoni descartou sair da Casa Civil. Onyx, que teve suas funções esvaziadas na semana passada, disse ainda que é "página virada" a demissão, à sua revelia, de Vicente Santini, ex-secretário executivo da pasta que usou avião da Força Aérea Brasileira (FAB) em voo para a Índia.

"Tive uma reunião de trabalho com o presidente Bolsonaro e as coisas continuam no seu curso normal. Não conversamos sobre mudança na Casa Civil, falamos sobre a rotina normal no ministério", disse Onyx ao sair do Alvorada após o encontro de uma hora.

Questionado sobre se a perda das atribuições na Casa Civil – o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) passará para o Ministério da Economia – e a demissão de Santini não gerariam incômodos na sua atuação, ele afirmou que não está em busca de poder e sim de "servir ao governo". "O presidente Bolsonaro é meu líder. O que o presidente decidir eu cumpro, o que ele comandar, eu faço."

O ministro lembrou que mudanças de atribuições de ministérios já ocorreram no ano passado, citando o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que foi da Justiça para a Economia, e posteriormente para o Banco Central, e a Cultura, que foi do Ministério da Cidadania para o Turismo.

Congresso. Durante a entrevista, Onyx, que antecipou a volta das férias por causa da crise política, fez questão de passar a mensagem de que seu trabalho continuará normalmente a partir de amanhã. Ele citou reunião do grupo interministerial sobre o coronavírus na Casa Civil, além de encontro com o ministro Paulo Guedes (Economia), para tratar da transição do PPI.

Também amanhã, caberá a Onyx levar ao Congresso a mensagem de Bolsonaro para a abertura dos trabalhos do Legislativo, após o recesso. "A mensagem presidencial reafirma o norte do governo que é a redução do tamanho do Estado e os investimentos que têm sido feitos para a digitalização dos serviços aos cidadãos", disse.

Perguntado sobre criticas à articulação do governo no Congresso, respondeu que o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, tem feito "excelente trabalho". "Não conheci governo que não tivesse problemas com o Parlamento. Já aprovamos projetos importantes e vamos continuar."

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Ministério tem menor participação de partidos

Paula Reverbel

Pedro Venceslau

02/02/2020

 

 

 Recorte capturado

 

 

Relação entre tamanho de siglas na Câmara e controle de pastas é mais baixa desde 1990

O presidente Jair Bolsonaro optou por ignorar os partidos políticos na hora de montar seus ministérios, cumprindo a promessa de campanha de não fazer o toma lá, dá cá. A proporção entre o tamanho das legendas na Câmara e sua participação na Esplanada neste governo é a menor desde que o Brasil passou a ter eleições diretas e fica em nível semelhante ao registrado nos mandatos de Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff, os dois presidentes que sofreram um processo de impeachment.

Embora alguns pesquisadores afirmem que os exemplos do passado mostrem que a baixa participação de partidos no governo por um longo período pode causar problemas na relação com o Congresso, principalmente em votações que não tenham consenso, outros citam a aprovação de projetos importantes, como a reforma da Previdência, para argumentar que Bolsonaro tem conseguido governar sem os partidos.

A proporção entre o tamanho de siglas na Câmara e a presença delas em ministérios é chamada de "taxa de coalescência". Quanto mais próximo de 1, maior é a proporção entre o tamanho das bancadas e a participação delas no primeiro escalão do governo. Números mais perto de 0 mostram que os ministérios refletem menos o tamanho das bancadas.

Segundo dados da consultoria Pulso Público, a média do primeiro ano de Bolsonaro é de 0,707, ligeiramente abaixo da média geral dos governos Dilma (0,710) e Collor (0,715).

Mesmo após a campanha, Bolsonaro, que atualmente não está filiado a nenhum partido, continua afirmando que as siglas não têm papel no seu ministério. "O próprio presidente já disse que seus ministros foram todos indicações pessoais dele", afirmou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na última sexta-feira.

Sem base no Congresso, Bolsonaro acumulou algumas derrotas em 2019. Em fevereiro, a Câmara anulou decreto que alterou as regras da Lei de Acesso à Informação. Em junho, o Senado derrubou os decretos que flexibilizam o porte e a posse de armas no Brasil. Além disso, parlamentares barraram a transferência do Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Economia para a pasta da Justiça e Segurança Pública. Pelo menos nove medidas provisórias do governo perderam a validade sem que o Congresso as transformasse em lei.

Por outro lado, a Previdência e a aprovação do pacote anticrime representam vitórias para o governo, embora sejam ligadas aos esforços de outras pessoas.

Barulho. A Previdência passou graças ao empenho de Maia e alguns setores da sociedade, enquanto o pacote anticrime foi desidratado no Congresso.

Vítor Oliveira, professor de Ciências Políticas na Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que, no caso de Bolsonaro, a baixa taxa de participação de partidos no governo pode não ser tão fatal como foi para Dilma e Collor. "Neste governo, o conteúdo do que vai ser aprovado é menos importante que o barulho que essa proposta vai fazer. Essa é a forma como Bolsonaro está sendo tolerado na elite política", avalia o professor, responsável pelo estudo.

Líder do PSDB na Câmara entre 1995 e 1997 e um dos responsáveis pela articulação do governo de Fernando Henrique Cardoso na Casa, o ex-senador José

Aníbal defende a indicação de quadros partidários para formar os ministérios. "As pessoas acham que abrir espaço para os partidos no governo é o dando que se recebe. Se banalizou isso, mas é possível chamar partidos para o primeiro escalão com um programa efetivo", disse. "No governo Fernando Henrique, havia a percepção de que, sem uma negociação permanente com o Parlamento, não se avançaria."

Para Aldo Rebelo, ex-ministro da Coordenação Política de 2004 a 2005, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, quem não oferece participação aos partidos vai enfrentar dificuldades extras. "Tratam o presidencialismo de coalizão como se fosse a origem de todos os problemas do País, mas a regra é essa: quem apoia participa do governo. Quando o governo quer apoio sem oferecer participação, ele vai enfrentar dificuldades."

Até antigos aliados de Bolsonaro defendem maior participação no governo. "Não existe governar sem troca de apoio com o Parlamento. Não conheço nenhum exemplo do mundo, fora as ditaduras", afirmou Delegado Waldir (PSL-GO).

Dilma e Collor também amargaram muitas derrotas. A petista não conseguiu impedir o Congresso de aprovar uma série de pautas-bomba, como o reajuste dos servidores do Judiciário, que aumentaram os gastos do governo em época de crise. Já Collor editou 143 MPs entre 15 de março de 1990, quando assumiu, e 31 de dezembro daquele ano. A oposição colocou para tramitar, já naquele primeiro ano, um projeto de lei que restringia os poderes do Executivo de legislar por MPs.

- Coalizão

"É possível chamar partidos para o primeiro escalão com um programa efetivo."

José Aníbal

LÍDER DO PSDB NOS GOVERNOS DE FHC