O Estado de São Paulo, n. 46127, 01/02/2020. Política, p. A4

 

Bolsonaro dá sobrevida a Onyx, apesar de pressões

Tânia Monteiro

Julia Lindner

Mateus Vargas

01/02/2020

 

 

Proximidade com Maia e Alcolumbre pesou para manter cargo de ministro por ora, embora pasta tenha sido esvaziada e integrantes do governo peçam sua demissão

Protagonista da mais recente crise política no governo, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, ganhou uma sobrevida no cargo. Interlocutores do presidente Jair Bolsonaro afirmam que a intenção é mantê-lo no posto por enquanto, apesar de ter suas funções esvaziadas e de pressões no Palácio do Planalto e na Esplanada para que seja demitido. A permanência de Onyx é avaliada por aliados como importante porque o ministro é hoje um dos poucos nomes no governo com boas relações no Congresso, após conseguir aparar arestas com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), e ser muito próximo do Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Embora a articulação política do Planalto tenha passado para a Secretaria de Governo, comandada pelo general Luiz Eduardo Ramos, os militares enfrentam dificuldades para se relacionar com os congressistas. No ano passado, Ramos chegou a ser hostilizado em uma reunião na Câmara. Onyx tem a vantagem de acumular cinco mandatos como deputado.

O ministro antecipou o fim das suas férias e retornou ontem dos Estados Unidos. O motivo da volta foi a crise política que levou à demissão de Vicente Santini, ex-secretário executivo da pasta, por uso de avião da Força Aérea Brasileira (FAB), e a perda do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que cuida de privatizações de estatais e concessões, uma das vitrines do governo.

O programa havia migrado para a Casa Civil como uma espécie de “prêmio de consolação” após Onyx perder a articulação política do Planalto, no meio do ano passado. Agora, foi transferido para o Ministério da Economia, comandado por Paulo Guedes. Sem o PPI e sem a articulação política, Bolsonaro deixou a Casa Civil esvaziada.

O enfraquecimento ocorre após o comportamento de Onyx incomodar não apenas o presidente, mas colegas de Esplanada, que o acusam de fazer a velha política, ao usá-los para atender a demandas do baixo clero do Congresso, e de ter indicado para o governo nomes que viraram dor de cabeça para seu chefe, como o ministro da Educação, Abraham Weintraub.

Segundo interlocutores, Bolsonaro, porém, reconhece que Onyx é um aliado fiel, que o acompanha desde quando seu projeto presidencial era embrionário, e não pretende abandoná-lo por enquanto.

Reunião. Após desembarcar pela manhã, Onyx participou de reunião convocada por Bolsonaro no Palácio da Alvorada para tratar da epidemia de coronavírus. Segundo apurou o Estado, a crise envolvendo a Casa Civil não foi abordada. A questão deve ser tratada em uma reunião só com os dois hoje.

No encontro, ficou acertado que Onyx levará a mensagem presidencial ao Congresso na segunda-feira, na cerimônia que marcará o início do ano legislativo. O gesto foi interpretado por aliados de Bolsonaro como uma sinalização de que o ministro mantém algum prestígio.

Em conversa com jornalistas após a reunião, Bolsonaro se negou a falar sobre Onyx. “Já que deturpou a conversa, acabou a entrevista”, disse ele ao ser questionado sobre o tema.

Ao G1, Onyx afirmou que “ninguém está cogitando qualquer tipo de saída”.

Antes do encontro no Alvorada, Onyx passou o dia percorrendo gabinetes de ministros palacianos para angariar apoio à sua permanência. Ele se reuniu com Ramos, com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e com o titular da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira.

Também recebeu importantes manifestações públicas para ficar no cargo. Em evento no Rio, Maia disse considerar “ótimo” que Onyx fique no governo. “Se o presidente resolver mantê-lo, será uma decisão boa. Se exonerá-lo, é um problema do governo, nós não vamos pautar a nossa Casa porque o governo nomeia ou exonera algum funcionário”, afirmou.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, também expôs seu apoio ao publicar nas redes sociais vídeo de Onyx ao lado do escritor Olavo de Carvalho.

HISTÓRICO

Eleição

Em outubro de 2018, Bolsonaro anunciou que, se eleito, Onyx Lorenzoni – um dos principais articuladores de sua candidatura – seria o ministro da Casa Civil.

 Transição

Em novembro de 2018, com Bolsonaro já eleito, Onyx foi nomeado ministro extraordinário do governo de transição.

 Indicação para Educação

Em abril de 2019, por indicação de Onyx, Bolsonaro nomeou Abraham Weintraub para substituir Ricardo Vélez Rodríguez no Ministério da Educação.

Articulação política

Após sucessivas derrotas no Congresso, em junho do ano passado Bolsonaro tirou a articulação política das mãos de Onyx.

PPI

Como “prêmio de consolação” por ter tirado a articulação política da Casa Civil, Bolsonaro deu a Onyx o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).

 Esvaziamento

Nesta semana, o presidente tirou da Casa Civil o PPI, uma das vitrines do governo. O programa migrou para a pasta da Economia.

Demissão do braço direito

Então nº 2 da Casa Civil, Vicente Santini foi demitido na terça por Bolsonaro após usar jato da FAB. Na quarta, foi readmitido. Na quinta, voltou a ser exonerado.

‘Fim da linha’

Os episódios recentes foram vistos por integrantes do governo como o “fim da linha” para Onyx, que viu sua pasta ser esvaziada.