O globo, n.31405, 01/08/2019. País, p. 08

 

Doleiro dos doleiros, Messer é preso em SP

Juliana Castro 

Gustavo Schmitt

01/08/2019

 

 

Em SP. Dario Messer foi preso no bairro dos Jardins; no apartamento foram encontrado R$ 56 mil em espécie e joias

Conhecido como doleiro dos doleiros, Dario Messer foi preso ontem, às 16h40m, em um apartamento no bairro dos Jardins, região nobre de São Paulo. Ele estava foragido desde maio do ano passado, quando o juiz Marcelo Bretas assinou seu mandado de prisão na Operação Câmbio, Desligo. Integrantes da força-tarefa da Lava-Jato no Rio foram a São Paulo e participaram da prisão.

Um dos alvos mais procurados da Lava-Jato do Rio, junto com o empresário Arthur César de Menezes Soares Filho, o “Rei Arthur”, Messer estava sendo monitorado há cerca de dois meses pelos investigadores, que descobriram a identidade de sua namorada. O fato de o doleiro ter tido um descuido, e usado o celular dela, que estava interceptado, ajudou a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) a confirmarem a presença dele em São Paulo. Na ligação, Messer falava sobre um assunto corriqueiro para um homem procurado pela Justiça: a compra de um cachorro.

O apartamento em que Messer foi preso estava, inclusive, alugado no nome da namorada dele. Nesse imóvel foram encontrados R$ 56 mil em espécie, joias e um anel de brilhantes. O doleiro estava com uma identidade falsa, de Mato Grosso, em nome de Marcelo de Freitas Batalha. O documento dizia que ele era natural de Lorena, em São Paulo, e tinha data de nascimento em 19 de agosto de 1959.

Messer foi trazido para o Rio ontem em avião de carreira e seguiu para Bangu 8, no Complexo de Gericinó, sob escolta. É o mesmo presídio onde estão outros alvos da Lava-Jato como o ex-governador Sérgio Cabral, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha e os ex-deputados estaduais Paulo Melo e Edson Albertassi.

O colunista Lauro Jardim publicou uma foto do momento em que Messer foi preso, na qual ele aparece com blusa e bermuda escuras e usando meias. O doleiro estava diferente fisicamente, com os cabelos pintados de ruivo.

DELAÇÃO DA FAMÍLIA

O nome de Messer foi incluído na lista da Interpol após ele não se apresentar às autoridades brasileiras. A colunista Bela Megale publicou que, segundo apurou a PF, Messer chegou a passar um período no Paraguai, mas teria retornado ao Brasil neste ano ao país devido ao relacionamento amoroso.

Messer tem negócios e cidadania paraguaia, onde é também amigo de autoridades locais, como o ex-presidente do país Horacio Cartes, que já o chamou de “irmão de alma”.

Embora Dario Messer estivesse foragido, sua família fechou um acordo de delação premiada em que ficou acertada a devolução de R$ 370 milhões. Além disso, a 7ª Vara Federal Criminal requisitou às autoridades paraguaias o bloqueio de US$ 100 milhões, o equivalente a quase R$ 400 milhões. Em maio, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, negou pedido de habeas corpus preventivo para evitar a prisão de Messer.

—Dario Messer é foragido da Justiça há anos. Operações passadas não conseguiram capturá-lo diante do seu poder econômico e presença do submundo do crime. Mas hoje o Ministério Público Federal e a Polícia Federal, em cooperação com outro países, conseguiram prender o doleiro mais importante do país, provando que, se não há fronteiras para os criminosos, também não há para os investigadores — afirmou o procurador regional da República José Augusto Vagos, integrante da força-tarefa da Lava-Jato no Rio.

Ele disse ainda que, desde a década de 1980, Messer já pratica crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

— Ele tem um sistema sofisticado, com 400 clientes, que movimentou quase US$ 2 bilhões em seis anos. Essa dinâmica nos permite concluir que a prisão dele vai abrir um leque maior de investigação —afirmou Vagos.

Um operador de Dario Messer já havia sido preso na Lava-Jato no início de julho. Mario Libman é ex-sogro de Denise Messer, filha do doleiro, e foi delatado por ela. Um sócio do doleiro, chamado Bruno Farina, que também era fugitivo da Lava-Jato, foi preso no Paraguai em dezembro do ano passado, numa demonstração de que o cerco a Messer estava se fechando.

SISTEMA DE DOLEIROS

Em maio de 2018, agentes da PF foram para as ruas para cumprir 53 mandados de prisões contra doleiros e operadores envolvidos em um esquema de lavagem de dinheiro que atingiu a cifra de US$ 1,652 bilhão. A Operação Câmbio, Desligo foi a ação da Lava-Jato do Rio com o maior número de alvos.

O principal nome da ação era Messer, que é filho do primeiro doleiro do Brasil, mas ele não foi encontrado. A polícia havia buscado o doleiro também no Paraguai porque ele tem dupla cidadania.

No sistema que os doleiros desenvolveram para controlar as transações ilegais, estão relacionadas mais de 3 mil offshores, com contas em 52 países. Os doleiros Claudio Barboza, o “Tony”, e Vinicius Claret, o “Juca Bala”, entregaram o esquema em delação premiada fechada com o MPF. Tony afirmou que Dario Messer chegou a ser cliente do seu próprio esquema de lavagem de dinheiro.(Colaborou Roberto Maltchik)

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Lava-Jato busca dono do Grupo Petrópolis 

Gustavo Schmitt

01/08/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

Cervejaria é o principal alvo da 62ª da operação, que investiga propina disfarçada de doações; Walter Faria está foragido

A Polícia Federal deflagrou ontem a 62ª fase da Operação Lava-Jato, que investiga pagamentos de propinas disfarçadas de doações eleitorais pelo Grupo Petrópolis. Executivos da companhia são acusados de lavar R$ 329 milhões entre 2006 e 2014 para o Grupo Odebrecht. Ao todo, a PF cumpriu 39 mandados expedidos pela 13ª Vara Federal de Curitiba em 15 cidades do país. O presidente do Grupo Petrópolis, Walter Faria, alvo de mandado de prisão preventiva, não foi localizado pelos agentes e é considerado foragido.

A Justiça decretou ainda prisão temporária, por cinco dias, de Vanuê Faria e Cleber Faria, sobrinhos do empresário, e de três funcionários da cervejaria: Silvio Antunes Pelegrini, Naede de Almeida e Maria Elena de Sousa. Durante as buscas, os agentes apreenderam R$ 243,3 mil em espécie. Foram retidos ainda celulares, discos rígidos de computadores, documentos e contratos.

NAVIOS E DOAÇÕES

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), em troca de dólares recebidos no exterior e de investimentos feitos em suas empresas, Walter Faria garantia recursos em espécie à Odebrecht para pagamentos a agentes corrompidos no Brasil, além da liberação de propina travestida de doação eleitoral. De acordo com as investigações, Vanuê e Cleber, sobrinhos de Walter Faria, são titulares de contas no exterior e há indícios de ocultação de valores às autoridades.

O Ministério Público Federal (MPF) alega ainda que contas bancárias no exterior controladas por Faria foram utilizadas para o pagamento de propina por contratos referentes aos naviossonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000. Faria teria usado contas na Suíça para intermediar repasse de mais de US$ 3 milhões.

Entre os beneficiados por pagamentos de propinas pelos navios-sondas estariam políticos do MDB, que controlavam a área internacional da Petrobras. O lobista Jorge Luz, que assinou acordo de delação premiada, teria intermediado cerca de US$ 6 milhões em propina vinculada às sondas. Luz e seu filho, Bruno Luz, disseram que o dinheiro aos políticos foi direcionado a conta em nome da off-shore Headliner Limited.

Uma das contas ligadas ao grupo cervejeiro foi usada, por exemplo, para pagamentos de vantagens indevidas a ex-auditores fiscais da Receita Federal, investigados na Operação Vulcano.

A fase da Lava-Jato, denominada “Rock City”, tem como base delações de executivos da Odebrecht. De acordo com os delatores, a empreiteira lançou mão do Grupo Petrópolis para fazer doações de campanha eleitoral entre 2008 e junho de 2014. O valor dos repasses seria de pelo menos R$ 120 milhões. Em troca das doações, Faria teria recebido investimentos em suas empresas e participação em projetos do Grupo Odebrecht.

Para gerar reais em espécie, o Grupo Petrópolis teria burlado medidores industriais de fábricas, permitindo produção de cerveja sem pagar impostos. A produção não contabilizada oficialmente era vendida a bares, sem nota fiscal, viabilizando recursos em espécie. Parte das operações ilegais entre a Odebrecht e a cervejaria está contida, segundo a Justiça, numa planilha denominada “Amizade” e entregue pela empreiteira.

Em dezembro, O GLOBO mostrou que Walter Faria era alvo de várias linhas de investigação da PF. Em março, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral admitiu pela primeira vez ter recebido propina da Cervejaria Petrópolis.

Procurado, o grupo disse que seus executivos já prestaram esclarecimentos aos órgãos competentes e que “sempre esteve e continua à disposição das autoridades”.