O globo, n.31405, 01/08/2019. Economia, p. 20

 

Guedes diz que país já está negociando acordo com os EUA

Eliane Oliveira 

Gustavo Maia 

01/08/2019

 

 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou ontem que as negociações entre Brasil e Estados Unidos para a assinatura de um acordo de livre comércio já começaram oficialmente. A declaração foi dada depois de uma reunião com o secretário de Comércio americano, Wilbur Ross, em Brasília.

— O que era só pensamento, agora já estamos oficialmente começando as negociações com os EUA —afirmou Guedes.

A afinidade entre os dois países também apareceu nas declarações do presidente Jair Bolsonaro que também se encontrou com Ross e disse estar cada vez mais apaixonado pelo presidente Donald Trump, depois de ser elogiado pelo americano:

— Depois do elogio do Trump ontem, estou cada vez mais apaixonado por ele.

 

SUBSÍDIOS A PRODUTORES

Na terça, o americano disse que quer seguir em frente com um acordo comercial com o Brasil e chamou Bolsonaro de “um grande cavalheiro”, com quem disse ter um “relacionamento fantástico”.

Guedes disse que a conversa com Ross foi produtiva e que o Mercosul ficou mais atraente depois que fechou um acordo com a União Europeia. Ele confirmou que as negociações com os americanos poderão seguir em duas frentes: uma bilateral, com o Brasil; e outra do tipo quatro mais um, entre os EUA e o bloco sul-americano.

— Nossa decisão de fazer uma abertura gradual da economia é um convite à aproximação comercial. Fechamos um acordo com a UE e agora os americanos querem uma possível integração. Ficamos décadas fora desses grandes acordos comerciais. O que está acontecendo é que o Brasil entrou em campo, e a bola está rolando — enfatizou o ministro.

Segundo Guedes, os americanos querem vender etanol de milho para o Brasil, que chegaria ao país cerca de 40% mais barato do que o produzido nacionalmente. Em contrapartida, o Brasil poderia ter acesso ao mercado americano para o açúcar de cana:

— Eles querem vender etanol para nós, mas temos os nossos canaviais, inclusive no Nordeste. Só se eles abrirem o açúcar para nós.

A concessão de subsídios aos produtores agrícolas americanos é um dos pontos complicados da negociação, segundo Guedes. Isso porque o Brasil é contra esse tipo de subvenção tanto no mercado interno quanto nas exportações.

— Vamos defender nossa agroindústria. Mas está ficando visível, ao longo de todas as nossas conversas, que os ganhos em cooperação tecnológica, investimentos, joint ventures (parcerias) entre empresas dos dois países e outros pontos são bem maiores que detalhes e obstáculos —disse Guedes.

Já o secretário de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, Marcos Troyjo, reafirmou o que disse ao GLOBO na véspera: a Casa Branca tem um mandato negociador para fechar acordo com o Mercosul —restrito à redução de tarifas de importação —até junho de 2021. Já com o Brasil, poderia ser discutido um tratado mais amplo, sem necessidade dessa ferramenta, que abrangeria, além de comércio, áreas de investimento, serviços e transferência de tecnologia.