Valor econômico, v.20, n.4825, 29/08/2019. Brasil, p. A6
À espera de verba privada, Museu Nacional prevê reabrir em 2022
Gabriel Vasconcelos
29/08/2019
Perto de completar um ano do incêndio que destruiu 46% das coleções do Museu Nacional, no próximo dia 2 de setembro, a reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Pires, informou que a reinauguração de pelo menos uma seção do palácio deve acontecer em 2022, por ocasião das comemorações do bicentenário da Independência.
Segundo Pires, a universidade planeja aumentar a injeção de dinheiro privado, de empresas patrocinadoras, nas obras. Hoje, para obras, o museu tem pouco mais de R$ 69 milhões em caixa. A reconstrução total das instalações deve levar até cinco anos, a um custo de R$ 250 milhões.
Hoje todo dinheiro em caixa é público (R$ 68 milhões) ou doado pelos governos de Alemanha e Reino Unido, que, juntos, repassaram cerca de R$ 1 milhão. Da verba federal empenhada ainda em 2018, restam R$ 43 milhões, que vieram na forma de emendas impositivas da bancada do Rio no Congresso e outros R$ 20 milhões de um repasse do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os R$ 5 milhões restantes são parte de uma verba emergencial do Ministério da Educação (MEC) e serão geridos pela Unesco, que prepara projetos para a reconstrução do interior do palácio e um plano de futuras exposições.
O diretor Kellner revelou que o novo museu terá quatro circuitos de visitação. O primeiro será dedicado à história do palácio e seus habitantes, o que inclui o incêndio. O segundo apresentará a história do universo sob uma perspectiva cronológica e evolucionista. Finalmente, uma terceira área receberá as coleções de antropologia, arqueologia e linguística e a última apresentará os biomas brasileiros, por meio das coleções de botânica, zoologia e geologia.
A maior parte dos recursos que a UFRJ dispõe hoje, cerca de R$ 30 milhões, será usada para a construção do chamado Campus da Cavalariça, um prédio anexo que receberá o setor administrativo e cursos de pós-graduação da instituição. O prédio será levantado em um terreno dentro do Parque da Quinta da Boa Vista, que está em processo final de doação do governo federal à UFRJ.
A licitação da obra está em andamento e reúne a realização de projeto executivo e execução da obra. O formato, disse Pires, faz parte da estratégia para acelerar a aplicação dos recursos e evitar que as emendas caduquem e voltem para a União. Para que essas emendas sejam automaticamente renovadas, é preciso gastar 20% do valor (8,6 milhões), até o final deste ano, o que a reitora diz ser factível.
Para além do novo campus, o que restar dos R$ 68 milhões será gasto na reforma da fachada e na reconstrução do telhado do palácio. A UFRJ pretende ter o novo campus e concluir essa primeira parte da obra do palácio no primeiro semestre do ano que vem.
Até agora, além do resgate e tratamento de mais de 4 mil lotes de peças (alguns com mais de uma centena de objetos), foi concluída a primeira etapa da recuperação: obras de preservação estrutural, como o escoramento de paredes, e a construção de uma estrutura externa que protege os escombros ainda cheio de peças raras e o canteiro de obras. Esses trabalhos consumiram R$ 8,9 milhões do montante destinado pelo MEC, € 180 mil de uma primeira doação do governo alemão e R$ 346 mil em doações de pessoas físicas.
A direção também apresentou a lista de sete parlamentares que dedicaram emendas individuais ao museu, seis dos quais de PT, PSOL, PSB e PCdoB. Ao todo, a instituição recebeu R$ 2 milhões do grupo e ainda aguarda R$ 800 mil, em fase de liberação. As verbas foram usadas na compra de contêineres e acondicionamento de coleções.