Título: Argentina trava importações
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 09/11/2012, Economia, p. 13

Exportadores brasileiros cobram mais vigor do governo nas negociações para eliminar barreiras impostas pelo vizinho a produtos nacionais, que estão perdendo o mercado platino para a China e os EUA»

Os exportadores brasileiros estão frustrados com a maneira como o governo vem conduzindo as negociações para reduzir as barreiras não tarifárias impostas pela Argentina às importações. A demora em conquistar avanços é quase a mesma enfrentada pelas empresas para obter as polêmicas Declarações Juradas de Antecipação de Importação (Djai) — uma das dificuldades para a entrada de produtos estrangeiros criadas em fevereiro deste ano pela presidente Cristina Kirchner.

“O Brasil tem procurado dialogar com a Argentina, mas a grande questão é que essa negociação só ocorre quando a situação está muito crítica. Ela atinge só o varejo, ou seja, caso a caso, e isso irrita os exportadores porque não se chega a uma solução para todos”, explicou o consultor Welber Barral.

Os exportadores de carne suína viram suas exportações despencar 40% em outubro e têm procurado equilibrar a situação aumentando as vendas no mercado interno e para a Ásia. Montadoras instaladas na Argentina estão com problemas nas linhas de produção devido ao atraso na entrega de peças do Brasil, e algumas tiveram que adiar o lançamento de novos modelos.

Perdas Ontem, foi realizada em São Paulo uma nova rodada de conversas entre a secretária de Comércio Exterior brasileira, Tatiana Prazeres, e o secretário de Comércio Interior argentino, Gillermo Moreno, mas sem qualquer avanço. Em nota, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) informou apenas que a secretária relatou os problemas enfrentados pelos exportadores brasileiros e avaliou, que “após reunião realizada em junho, na Argentina, o comércio apresentou melhoras”.

Para especialistas, os métodos usados por Cristina Kirchner para barrar as importações e elevar o saldo comercial e as reservas em dólares (atualmente de US$ 45 bilhões) visam, principalmente, garantir o pagamento das compras de energia. O país vizinho não para de sofrer apagões, como o que causou o cancelamento do jogo entre as seleções do Brasil e da Argentina no Superclássico das Américas, no mês passado.

O Brasil é a maior vítima das barreiras. Um levantamento do Mdic com base nos dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina (Indec) revela que, de janeiro a setembro deste ano, as exportações nacionais recuaram 19,4% sobre o mesmo período de 2011. Enquanto isso, as vendas dos demais fornecedores caíram apenas 3,4%.

“O país está perdendo espaço para China, Estados Unidos e União Europeia”, destacou Barral. O superavit de quase US$ 6 bilhões no ano passado foi reduzido para menos de US$ 2 bilhões até outubro deste ano, conforme dados do Mdic. No mês passado, pela primeira vez desde junho de 2009, o país registrou saldo negativo na balança com o país vizinho.

Panelaço Nem os argentinos aguentam mais os desmandos de Cristina Kirchner. Os opositores, convocados por redes sociais, marcaram um panelaço ontem para protestar contra a insegurança, o limite na compra de dólares e os planos de uma segunda reeleição da presidente. Manifestações ocorreram em Buenos Aires e até em Londres. Cristina, que sucedeu ao marido, Néstor Kirchner, morto em 2010, foi eleita com 54% dos votos em outubro de 2011. Tem mandato até 2015