Título: A corrupção no centro da agenda
Autor: Luna, Thais de
Fonte: Correio Braziliense, 09/11/2012, Mundo, p. 16

Congresso do Partido Comunista Chinês escolherá os próximos líderes do país. Presidente teme derrocada »

A abertura do 18º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), durante o qual serão nomeados os novos líderes que comandarão o país nos próximos 10 anos, foi marcada pelos tópicos do combate à corrupção e da necessidade de reformas políticas, mencionados no discurso do presidente da China, Hu Jintao. O chefe de Estado de 69 anos falou por 90 minutos ante 2,2 mil delegados no Grande Salão do Povo, em Pequim. Hu advertiu que a corrupção endêmica que atinge o partido é capaz de levar o regime comunista à derrocada. “A corrupção pode provocar a derrubada do partido e do Estado. Se fracassarmos no tratamento correto desse assunto, isso pode ser fatal”, determinou. “O partido vai garantir que os dirigentes respeitem a lei em atos e em pensamentos”, garantiu o atual presidente, que nomeará como seu substituto o vice, Xi Jinping, 59 anos, na próxima quarta-feira. No evento, o mandatário e secretário-geral do PCC determinou que ninguém tem o “privilégio de pisotear a Constituição”.

Reformar a estrutura política da China, país “que passou por muitas mudanças”, também foi um ponto levantado pelo presidente. Ele descartou qualquer chance de instaurar uma democracia nos moldes ocidentais. “Nossa abordagem é promover o progresso econômico, político, cultural, social e ecológico”, pontuou Hu, citado pela agência de notícias estatal Xinhua. O mandatário assinalou que o governo deve ampliar a democracia e melhorá-la — sem realizar grandes mudanças estruturais na administração —, a fim de que o povo participe das eleições e das decisões gerais.

Lidar com o combate à corrupção e com a remodelação do governo caberá ao futuro presidente, Xi Jinping, e a Li Keqiang, que sucederá o primeiro-ministro, Wen Jiabao. A dupla, com os outros dirigentes do PCC, terá mais desafios, como apontou Rod Wye, especialista em China do instituto britânico de relações internacionais Chatham House. “Imediatamente, eles terão que estabelecer sua autoridade na nova liderança e garantir que a economia volte aos eixos (leia nesta página). A longo prazo, precisarão tomar decisões de reformas econômicas e políticas”, enumerou.

Por sua vez, Dali Yang, professor de ciência política da Universidade de Chicago, ressaltou que o partido deve tornar seu sistema mais transparente e aberto à análise da população, o que pode propiciar a chegada de uma nova geração de líderes. O presidente ainda pediu que, na próxima década, a China seja transformada em potência marítima e desenvolva “uma forte defesa nacional e poderosas Forças Armadas”. O desejo de Hu é o de que Pequim avance, principalmente no setor tecnológico militar.

Escândalos

O alerta de Hu sobre a corrupção surge depois de denúncias publicadas pelo jornal americano The New York Times, segundo as quais a família do premiê teria construído uma fortuna estimada em US$ 2,7 bilhões desde 2003. Outro escândalo envolve o nome do ex-secretário na província de Chongquing Bo Xilai, expulso do partido e da Assembleia Nacional Popular sob as acusações de corrupção generalizada, relações sexuais “impróprias” e abuso de poder no caso do homicídio que levou sua mulher, Gu Kailai, à pena de morte com suspensão da sentença — o equivalente à prisão perpétua. Ainda houve o caso do ex-ministro de Ferrovias Liu Zhijun, cuja expulsão do PCC foi motivada por suborno.

Em mensagem a Bo, Hu prometeu que o combate aos corruptos será intenso. “Todos aqueles que violarem a disciplina do partido e as leis estatais, não importa quem sejam ou a posição que tenham, deverão ser levados à Justiça, sem piedade”, afirmou. Rod Wye acredita que o partido tenta mostrar o caso de Bo como isolado e extremo,. “A corrupção é claramente considerada um assunto muito sério pelo PCC e várias regulações já foram emitidas ao longo dos anos para modificar o comportamento de seus membros”, assinalou o pesquisador.

Credibilidade em xeque “Na China atual, as mídias sociais e os novos meios de informação permitem que as histórias de corrupção do partido cheguem ao conhecimento do povo. Eu acredito que o regime deve estar preocupado com sua credibilidade e com sua continuidade, de modo que pretende reformar sua estrutura administrativa para torná-la mais eficiente, menos corrupta, mas sem uma abertura na direção da democracia. Além da crise de legitimidade, os novos governantes terão de lidar com vários problemas. Precisam investir em exportação, infraestrutura, um modelo econômico sustentável e no combate à desigualdade social.”

» Edward Friedman, especialista em política chinesa da Universidade de Wisconsin-Madison (EUA)

2,2 mil Total de delegados presentes a abertura do 18º Congresso do Partido Comunista Chinês