Correio braziliense, n. 20539, 17/08/2019. Brasil, p. 5

 

Floresta em risco

Luiz Calcagno

17/08/2019

 

 

Meio ambiente/ Imazon detecta aumento de 66% no desmatamento da Amazônia Legal em julho. Em 12 meses, indicador mostra crescimento de 15%

O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) registrou 1.287km2 de desmatamento na Amazônia Legal em julho último — 66% a mais que no mesmo período de 2018, quando a área atingida foi de 777km². A expectativa da entidade para este ano é de que o tamanho da área desmatada chegue a um número de cinco dígitos, pela primeira vez, em 16 anos.

O levantamento do Imazon, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), não se limita à leitura mensal. Em um apanhado de 12 meses, de agosto de 2017 a julho de 2018, o desmatamento foi de 4.387km². Já de agosto de 2018 a julho de 2019, foi de 5.054km², o que representa um crescimento de 15%. A Amazônia Legal abrange nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e parte de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão.

Procurado, o Ministério do Meio Ambiente não comentou os dados, que vêm numa hora em que o governo está envolvido numa polêmica internacional a respeito do desmatamento. No último sábado, a Alemanha anunciou a suspensão do repasse anual de US$ 80 milhões para o Fundo Amazônia e, na quinta, a Noruega também cancelou uma transferência de R$ 133 milhões. A verba é usada para financiar operações e fiscalizações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

O presidente Jair Bolsonaro criticou os dois países e sugeriu que a chanceler alemã, Angela Merkel, usasse o dinheiro para reflorestar a Alemanha. E criticou a Noruega pelo fato de o país permitir a caça às baleias. Ainda nesta semana, nomes importantes do agronegócio brasileiro alertaram o presidente por trilhar um caminho economicamente perigoso para o setor.

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, e ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi, maior exportador de soja do Brasil, disse que as falas do presidente podem resultar no cancelamento do acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia. O acordo assinado em 28 de julho, após décadas de negociação, foi celebrado como vitória do atual governo.

Secretária executiva da Associação Nacional de Servidores da Carreira de Meio Ambiente (Ascema), Elizabeth Uema destaca que o Brasil levou décadas para conseguir reduzir o desmatamento da Amazônia. “Por volta de 2003, o índice estava entre 25 mil a 27 mil km². Em 2004, foi implementado um plano de ação com várias frentes. Com isso, chegamos em 2012 ao menor índice de série histórica, abaixo de 5 mil km². Hoje, tudo indica que estamos voltando à casa dos cinco dígitos”, alerta.

Ela atribui o aumento do desmatamento às declarações de Bolsonaro contra organizações ambientais, ao que chama de desmonte do Ibama e à paralisação do Fundo Amazônia. “O governo está extremamente desarticulado. A postura do presidente não ajuda. No discurso, fala em incentivar garimpeiro, mineração, madeireira. O agronegócio está sentindo o tamanho do problema. Lá fora, a reação é pesada”, afirma o deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara.