Correio braziliense, n. 20539, 17/08/2019. Economia, p. 7

 

Só 40% dos empregados têm carteira assinada

Rosana Hessel

17/08/2019

 

 

Desde 2014, o registro de trabalhadores caiu um ponto porcentual por ano, enquanto a informalidade, o trabalho por conta própria e o desalento cresceram. Maranhão, Pará e Piauí são os estados com menos formalidade

A carteira de trabalho está virando um item raro no país devido ao aumento da informalidade. O percentual dos trabalhadores sem o documento cresceu, em média, um ponto percentual por ano nos últimos cinco anos, conforme levantamento feito pela consultoria iDados com base na Pesquisa Nacional por Amostra em Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre 2014 e o primeiro semestre de 2019, a fatia de quem trabalha na informalidade passou de 17,4% para 19,2% do total. Enquanto isso, o naco de pessoas registradas encolheu no mesmo período, passando 45% para 40,4%. É o menor patamar apontado pela entidade desde 2012.
Esses números consideram trabalhadores entre 18 e 64 anos e constata que o contingente da de desalentados cresce desde 2015, atingindo quase 5% da população em idade ativa. “Os dados indicam que a informalidade no Brasil continua crescendo em 2019. Mesmo com o fim do cenário recessivo a partir de 2017, a proporção de trabalhadores formais segue em queda, ao mesmo tempo em que aumenta a proporção dos sem carteira e por conta própria”, destacou Tereza Pires, pesquisadora da iDados.
O levantamento ainda revela que Maranhão, Pará e Piauí foram os estados com maior índice de informalidade no país neste ano: 62,9%, 61,2% e 59,7%, respectivamente. Por outro lado, Santa Catarina (32,3%), Distrito Federal (33,9%) e São Paulo (35,7%) registraram as menores taxas de pessoas trabalhando sem carteira ou por conta própria. No DF, essa proporção aumentou de 11,5% para 14,9% nos últimos cinco anos. Já no Maranhão, subiu de 23,1% para 30% no mesmo período.
Baixa qualidade
Os dados do desemprego ainda são desalentadores, de acordo com analistas. Apesar de a taxa de desemprego ter recuado de 12,7%, para 12% no segundo trimestre deste ano, as vagas criadas são de baixa qualidade. “O emprego informal vem aumentando e a proporção de trabalhadores subutilizados começa a refletir uma nova realidade do mercado, incorporando atividades novas, como quem trabalha em casa e gostaria de ser melhor aproveitado pelo mercado de trabalho”, destacou economista Luka Barbosa, do Itaú Unibanco.
Conforme os dados do IBGE, o Brasil encerrou o primeiro semestre com 24,8% da força de trabalho subutilizada, levemente abaixo dos 25% registrados no trimestre encerrado em maio. “Nos últimos anos, a retomada da economia tem sido bastante alta e isso não ajuda a gerar emprego formal. E o cenário de crise externa também deve prejudicar a melhorar o mercado de trabalho rapidamente”, completou. Pelas contas da instituição, a redução do desemprego será gradual e, essa taxa deverá permanecer nos atuais 12% no fim do ano, passando para 11,5%, em 2020.
A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, vê o aumento da informalidade no país com preocupação e destacou que essa realidade é reflexo de dois setores que não estão conseguindo se recuperar desde a recessão de 2015 e 2016: a indústria, que contrata a mão de obra mais qualificada e paga salários mais altos; e a construção civil, que emprega o pessoal menos qualificado e em grande quantidade. “Quando olhamos os dados da Pnad, o número de trabalhadores com carteira assinada vem caindo ano a ano, mas não podemos afirmar que o trabalho formal está em extinção. Acredito que, com recuperação da economia, pode haver reação, mas não no patamar do passado, dadas as mudanças estruturais do mercado de trabalho”, ressaltou ela, que prevê que o desemprego de 11,8%, neste ano, e de 11,7%, no ano que vem.

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Desigualdade cresce há 17 trimestres

17/08/2019

 

 

A desigualdade cresce há quatro anos no Brasil, fazendo com que o abismo entre ricos e pobres fique cada vez mais profundo. Um estudo realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) revela que o país está vivendo o ciclo mais longo da história de aumento da concentração de riqueza no território nacional. Nos últimos 17 trimestres seguidos, o Índice Gini, dado que mede o nível de desigualdade social, vem crescendo continuamente. O indicador passou de 0,6003, no quarto trimestre de 2014, para 0,6291, no segundo trimestre deste ano. Quanto mais perto de 1,0, maior é a desigualdade e, quanto mais perto de zero, menor é a concentração de riqueza.
“O desemprego desempenhou papel importante no aumento da desigualdade durante esse período que inclui a recessão de 2015 e 2016, a maior já documentada, interrompendo o processo de redução da concentração da renda que vinha sendo registrado desde o início dos anos 2000”, comentou o economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social, responsável pela realização do estudo A escalada da desigualdade. “A renda caiu junto com a desigualdade nesse período em meio à brutal desaceleração da economia. E esse aumento da concentração ajuda explicar a perda do bem-estar social”, completou.
Renda
O estudo mostra que os 10% mais ricos tiveram incremento de 2,55% na renda. Já renda da metade mais pobre da população encolheu 17,1%. A vendedora de roupas, Isabel Alves, 60 anos, moradora da Cidade Estrutural, sabe muito bem o que é essa desigualdade. Natural do Maranhão, vive no Distrito Federal há mais de 40 anos e trabalhou muito. Vendeu até balinhas na rua para que os filhos não sofressem as dificuldades que ela mesma passou quando era criança. “Meu pai sempre fez de tudo para a gente não passar fome, mas nunca tivemos nada. Lutei e sofri pelos meus filhos. Hoje eu tenho orgulho deles”, disse.  Para Hilda Batista, 57, que trabalha como vendedora em um centro comercial no Lago Sul, frequentado por pessoas de renda alta do DF, a desigualdade é o lado triste no nosso país. “É como um câncer”, lamentou.
De acordo com o levantamento da FGV, nem mesmo em 1989, quando foi registrado o pico histórico da desigualdade, houve uma concentração de renda por um período tão longo. Para Neri, apesar de o ritmo de crescimento da desigualdade ter diminuído, ainda não é possível afirmar que o pior já passou. “Não sou particularmente pessimista. Olhando para trás, temos uma situação muito séria de aumento da desigualdade por um extenso período, mas há uma pequena melhora no quadro”, explicou.

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Bolsa melhora e sobe 0,76%

Cláudia Dianni

17/08/2019

 

 

A notícia de que o governo alemão decidiu flexibilizar a política fiscal para conter uma possível recessão e as medidas de estímulo à economia anunciadas pela China equilibraram os mercados ontem, depois de uma semana tumultuada pela expectativa de recessão global com clima de guerra comercial entre Estados Unidos e China.
O dólar teve alta de 0,33% e fechou a R$ 4,003. A Bolsa de Valores de São Paulo fechou com avanço de 0,76%, com 99.805.78 pontos e volume financeiro de R$ 18,452 bilhões, depois de acumular queda de 4,75% e perder o patamar de 100 mil pontos. Na semana, terminou com queda de 3,95%, a pior baixa semanal desde maio, quando recuou 4,52%.
Contribuíram negativamente para a oscilação do mercado, a vitória de 15 pontos de Alberto Fernández sobre Maurício Macri, nas prévias da eleição na Argentina. No Brasil, as pressões vieram do anúncio do Banco Central de que vai usar reservas internacionais para intervir no mercado de câmbio, com oferta simultânea de dólar à vista pela primeira vez desde fevereiro de 2009.
Para Carlos Thadeu, economista-chefe da Ativa Corretora, a perspectiva é de manutenção da volatilidade nos mercados na próxima semana, devidos às incertezas sobre o aprofundamento da crise global e da instabilidade no comércio entre Estados Unidos e China. Ele acredita, porém, que, no Brasil, com o governo discutindo reformas no Congresso (Previdência e tributária) e com as iniciativas de estímulo à economia, como a Medida Provisória da Liberdade Econômica e o anúncio de correção do financiamento imobiliário pela inflação, as perspectivas são mais positivas.
Desaceleração
No cenário global, também contribuíram para a queda nos mercados a desaceleração industrial no mundo, sobretudo da China, e as inversões da curva de juros dos Treasuries, nos Estados Unidos, de dois e 10 anos, considerado um alerta que precedeu as últimas sete recessões globais.
Para enfrentar os efeitos da guerra comercial com os Estados Unidos, o governo chinês decidiu autorizar que empresas deduzam impostos dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, anunciou que vai emitir títulos para financiar projetos de infraestrutura e abrir crédito para 150 mil pequenas empresas por ano. Com o alívio anunciado na China e na Europa, a Nasdaq fechou com alta de 1,67% a 7.895, e o índice Dow Jones a 25.886, com alta de 1,20%.  Também houve alta nos índices das tecnológicas, como Apple (+2,36%) e Microsoft ( 1,83%), e no segmento financeiro, com Citi ( 3,52%), Bank of America ( 2,97%) e Wells Fargo ( 2,33%).