Título: Garra de Niemeyer surpreende
Autor: Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 12/11/2012, Brasil, p. 7

Com boa recuperação nos rins e uma infecção controlada, o arquiteto já trabalha no hospital, mas sem previsão de alta

Rio de Janeiro — Para chegar aos 104 anos, é preciso, além de muita saúde, uma vontade extraordinária de viver. O arquiteto Oscar Niemeyer demonstrou mais uma vez que ainda tem ânimo e força para idealizar novos projetos que transformem concreto em formas únicas. Internado há nove dias no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, ele apresentou ontem uma melhora significativa, o que deu esperanças aos médicos e à família de que o arquiteto comemorará os 105 anos, que serão completados em 15 de dezembro, em casa. Lúcido, Niemeyer respira sem aparelhos, conversa com amigos e parentes e dá orientações sobre projetos em andamento.

A garra do arquiteto surpreende a equipe que o acompanha. Ontem, o médico Fernando Gjorup e a diretora do Samaritano, Cristina Quadrat, deram entrevista coletiva à imprensa para desmentir boatos de que o quadro do paciente teria se agravado nos últimos dias. As notícias são no sentido oposto: a infecção decorrente de uma gripe forte já foi controlada e os rins de Niemeyer, que ficaram fracos por conta da desidratação, reagiram bem no fim de semana.

Sobrinho do arquiteto, o neurocirurgião Paulo Niemeyer também participou da entrevista e afirmou que a família está extremamente otimista. “A não ser que caia um raio, eu acho que tudo vai caminhar bem, se Deus quiser. Toda a família está mobilizada para ajudá-lo a sair dessa. O Oscar quer muito sair logo do hospital, para ele tem sido um sacrifício ficar internado”, comenta o neurocirurgião.

Os médicos do Samaritano sabem que a mente do arquiteto é uma máquina incansável. Mas o clínico Fernando Gjorup conta que ainda se impressiona com o vigor de seu paciente mais ilustre. “Outro dia eu entrei no quarto e ele estava discutindo um projeto com o calculista. Como eu não entendo nada disso, depois eu perguntei para o calculista se aquilo que o doutor Oscar estava falando fazia sentido, e ele disse que sim. Na idade dele estar trabalhando, discutindo projeto, é incrível. Não precisa dizer mais nada”, admira-se Gjorup. “O doutor Oscar está cheio de projetos e isso aí é o que o mantém vivo”, acrescenta.

Paulo Niemeyer concorda e diz que o trabalho é a grande força motriz de Niemeyer. “Se eu quero encantá-lo ou despertá-lo, eu puxo assunto sobre arquitetura e sobre o trabalho dele. Aí os olhos brilham. A maneira de animá-lo é dizer ‘Oscar, vamos embora, vamos jantar na rua’, aí ele abre um sorriso”, revela animado o sobrinho do arquiteto. “Ele está lúcido, animado e querendo voltar às atividades. Estamos esperançosos”, acrescenta Paulo.

O neurocirurgião lembra porém que não há previsão de alta. “Um paciente de 104 anos é frágil e responde de forma mais lenta. Vamos mandá-lo para casa na sua melhor condição clínica possível e não há pressa”, explica Paulo Niemeyer. “Ele está evoluindo para receber alta. Se as coisas continuarem no rumo que estão, o Oscar vai embora para casa. Não sei precisar quando, mas isso deve acontecer”, disse o sobrinho.

Gripe Oscar Niemeyer foi internado na sexta-feira da semana passada. Ele teve uma gripe muito forte e, por conta disso, não se alimentou corretamente — o que desencadeou um quadro de desidratação e os rins foram os órgãos mais atingidos pelo problema de saúde. “Durante essa internação, ele vem sendo hidratado e recebendo antibióticos. A condição renal está em franca melhora”, explica o médico Fernando Gjorup.

O quadro, entretanto, ainda causa algumas inquietações à equipe. “Um paciente na idade do doutor Oscar sempre inspira cuidado, é claro. A saúde delicada é própria da idade. Mas posso dizer que ele já esteve internado aqui em condições bem piores”, comenta Fernando Gjorup. O médico se referiu à cirurgia realizada em abril de 2011, para a retirada da vesícula e de um tumor no intestino. “Quando ele foi internado por conta da peritonite e da infecção de vesícula, o doutor Oscar teve um quadro de choque séptico. Isso é grave em qualquer um de nós, imagina em um paciente idoso. A cirurgia foi feita, a infecção foi tratada e ele saiu de um quadro muito mais grave do que o atual”, relebra Gjorup.

Niemeyer está internado na unidade intermediária, com estrutura que varia entre a de um quarto e a de uma UTI. Seus batimentos cardíacos e a respiração são monitorados por aparelhos, mas o arquiteto não está ligado a nenhum equipamento que o ajude a manter as funções vitais. A equipe de fisioterapia faz um trabalho para ajudá-lo a respirar de forma espontânea com o objetivo de manter os pulmões do arquiteto sem sequelas. Niemeyer come naturalmente, mas recebeu uma sonda gástrica apenas para dar um suporte nutricional.

“O doutor Oscar está cheio de projetos e isso aí é o que o mantém vivo” Fernando Gjorup, médico que acompanha o arquiteto