O Estado de São Paulo, n. 46106, 11/01/2020. Política, p. A8

 

Bolsonaro indica aprovar fundo de R$ 2 bi

Ricardo Galhardo

André Italo Rocha

11/01/2020

 

 

Pressionado por manifestantes contra medida, no entanto, presidente diz para não votar em quem usa o recurso público na campanha

O presidente Jair Bolsonaro sinalizou ontem que vai sancionar o projeto de lei aprovado pelo Congresso em dezembro, que destina R$ 2 bilhões para o Fundo Eleitoral. Pressionado por manifestantes que gritavam contra o “fundão”, Bolsonaro lançou uma campanha para que a população não vote em candidatos que usem dinheiro público em suas campanhas.

“Eu tenho um momento difícil pela frente que são os R $ 2 bilhões do fundão. Eu lanço a campanha aqui: não vote em parlamentar que usa o fundão”, disse o presidente durante inauguração do novo pronto-socorro da Santa Casa de Santos, no litoral paulista. O presidente tem sido pressionado por seus apoiadores desde que o projeto de lei chegou às suas mãos para ser sancionado. O valor de R$ 2 bilhões foi negociado pelo governo com o Congresso.

Bolsonaro voltou a usar a Lei do Impeachment, de 1950, para justificar uma decisão que vai de encontro ao seu discurso de campanha e à vontade de seus eleitores. “A senha está dada. O fundão é uma lei que nasceu em 2017 e eu tenho que cumpri-la. Se não o fizer estarei ferindo o artigo 87 da Constituição e a Lei do Impeachment, de 1950, e eu não vou dar esse mole para a oposição”, justificou.

Bolsonaro deu a entender que os atuais detentores de mandato devem usar de seus cargos para conseguir votos. “O parlamentar que já tem mandato, o prefeito, ele tem o momento para se fazer presente junto à população de modo que não precise de dinheiro para a sua reeleição ou até eleição”, disse.

Bolsonaro interrompeu suas férias no Guarujá para participar da inauguração do novo Pronto-Socorro da Santa Casa de Santos, uma entidade filantrópica.

O presidente e o provedor da Santa Casa, Ariovaldo Feliciano, deram informações divergentes ao falar do papel do governo federal na obra. “A participação minha aqui foi mínima. Nós, ao fazermos a economia bem andar, liberamos todas as emendas parlamentares. O senhor me disse que parte ou grande parte destes recursos veio destas emendas”, disse Bolsonaro ao provedor.

Minutos antes Feliciano disse, ao lado do presidente, que a obra foi totalmente bancada com recursos do hospital, sem dinheiro da União nem de emendas parlamentares. Naquele momento Bolsonaro prestava atenção nos manifestantes que o chamavam de “mito”.

Bolsonaro foi à inauguração acompanhado pelo presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, coordenador estadual do Aliança Pelo Brasil, partido que o presidente tenta criar desde que deixou o PSL. Em frente à Santa Casa, um homem foi detido pela Policia Militar enquanto se manifestava com uma Constituição nas mãos. Pouco antes, ele havia sido expulso do local com violência por um grupo que carregava faixa e usava camisetas do Aliança (mais informações nesta página).

Imprensa. No final do discurso, Bolsonaro, que costuma dispensar um tratamento agressivo aos jornalistas que cobrem o governo, fez um elogio à imprensa. “Um grande abraço à minha querida imprensa brasileira. Eu quero uma imprensa livre que transporte a verdade aos quatro cantos do Brasil. Eu reconheço o papel de vocês. Quero que a imprensa se recupere cada vez mais e apresente verdades ao nosso povo”, afirmou o presidente. Seus apoiadores reagiram com palavrões e ofensas aos jornalistas que cobriam o evento.

- CAMPANHA

“Eu tenho um momento difícil pela frente que são os R$ 2 bilhões do fundão (fundo eleitoral). Eu lanço a campanha aqui: não vote em parlamentar que usa o fundão.”

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE

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Assessores de Alcolumbre recebem verba no recesso

Patrik Camporez

11/01/2020

 

 

Uma equipe de quatro assessores lotados no gabinete do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), recebeu R$ 20 mil de diárias durante o período de recesso parlamentar. O valor foi pago para o grupo assessorar Alcolumbre em Macapá, embora o presidente do Senado não tenha permanecido todos os dias em seu reduto eleitoral.

Em 20 de dezembro, Giulia Raphaela Lima Carrera, Marcos David da Costa Brandão, Ana Tereza Lyra Campos Meirelles e Paulo Augusto de Araujo Boudens viajaram para o Amapá. Com a comitiva ainda foram oito policiais legislativos. Ao todo, as despesas com diárias no recesso de fim de ano para a equipe do presidente do Senado alcançaram R$ 80 mil.

Giulia Raphaela Carrera e Paulo Augusto de Araujo Boudens, por exemplo, receberam dez diárias, incluindo o benefício pago nos dias de Natal e nos quais Alcolumbre estava em Brasília, como ele próprio informou em manifestações nas redes sociais.

‘Preparativos’. Por meio de nota, o Senado confirmou que Alcolumbre não ficou no Amapá durante todo o período do recesso de fim de ano, mas que os servidores ganharam as diárias porque “permaneceram no Estado cuidando dos preparativos para os eventos subsequentes” no Estado. A assessoria da Casa afirmou ainda que os quatro assessores não cometeram nenhuma irregularidade ao receber as diárias durante a viagem oficial, já que todos são lotados em Brasília.