O Estado de São Paulo, n. 46132, 06/02/2020. Economia, p. B1

 

BC volta a cortar taxa básica de juros para o menor nível da história, 4,25%

Fabrício de Castro

Eduardo Rodrigues

06/02/2020

 

 

 Recorte capturado

 

 

Política monetária. Por unanimidade, Copom corta 0,25 ponto porcentual da Selic, na quinta redução consecutiva, e indica o fim do ciclo de baixa como previsto pelos especialistas; bancos comerciais seguem BC e anunciam reduções de taxas para os consumidores

Em um cenário de preocupações em todo o mundo com o crescimento econômico, após o surto de coronavírus na China, o Banco Central voltou a cortar juros ontem. A instituição reduziu a Selic (a taxa básica da economia) em 0,25 ponto porcentual, de 4,50% para 4,25% ao ano.

Em sua decisão, no entanto, o BC deixou claro que, apesar do aumento da incerteza no exterior, não planeja reduzir novamente os juros em seu próximo encontro de política monetária, marcado para março.

O corte de ontem foi o quinto consecutivo e fez a Selic atingir um novo piso da série histórica. A decisão, tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), era esperada pelos economistas do mercado financeiro.

Ao justificar sua decisão, o BC não citou explicitamente a epidemia de coronavírus, que tem levado as instituições financeiras a revisar suas projeções de crescimento para a China e mesmo para emergentes como o Brasil. Porém, a autarquia reconheceu que houve um "recente aumento de incerteza" no cenário externo.

Ao mesmo tempo, o BC ponderou que o fato de os juros estarem em níveis baixos nas economias centrais ainda produz um "ambiente relativamente favorável para economias emergentes". Na prática, o Copom ainda não vê o coronavírus como um grande perigo para o crescimento do País.

O BC também voltou a indicar que o cenário para a inflação é favorável. Apesar disso, sinalizou que, em março, não reduzirá a Selic. Isso porque a autarquia já vem promovendo cortes desde meados do ano passado, com efeitos que serão sentidos ao longo de 2020. "Considerando os efeitos defasados do ciclo de afrouxamento iniciado em julho de 2019, o Comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária", disse o BC, em sua linguagem técnica.

Com a Selic em 4,25% ao ano, o Brasil já tem uma taxa real de juros (descontada a inflação) inferior a 1%. Levantamento do site MoneYou e da Infinity Asset mostra que o juro real está hoje em 0,91%, o que o coloca na nona posição entre os países com as maiores taxas do mundo. No topo, estão México (3,20%), Malásia (2,30%) e Índia (2,28%)

Ainda ontem bancos afirmaram que vão reduzir suas taxas de juros para os consumidores.