Título: Tiro de alerta contra Síria
Autor: Walker, Gabriela
Fonte: Correio Braziliense, 12/11/2012, Mundo, p. 13

Israel lança míssil de advertência em território sírio após disparos de confrontos envolvendo rebeldes e militares de Assad terem ultrapassado a fronteira entre os países

O confronto sírio entre forças favoráveis ao presidente Bashar Al-Assad e grupos rebeldes voltou a ultrapassar as fronteiras do país. Ontem, o comando do Exército de Israel informou ter disparado um míssil guiado, conhecido internacionalmente como Spike, contra a fronteira com a Síria. A ação foi classificada por Israel como uma advertência após disparos sírios terem ultrapassado os limites das colinas de Golã, região controlada pelo Estado judaico desde 1973.

“A Força de Defesa de Israel fez uma reclamação perante as forças da ONU operando na região, declarando que os tiros vindos da Síria não serão tolerados e terão resposta dura”, informou o Exército israelense, em um comunicado. Foi a primeira vez em 39 anos que Israel disparou contra a Síria.

Líbano, Turquia, Jordânia e Iraque também registraram diversos problemas em regiões de fronteira devido ao confronto sírio. Os países vizinhos sofrem ainda com o gigantes número de refugiados que diariamente procuram abrigo. Mais de 408 mil sírios já cruzaram as fronteiras, de acordo com o Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). A agência estima que 2 mil pessoas são registradas por dia nesses países. Até o início do próximo ano, 4 milhões de sírios vão precisar de ajuda humanitária, estima a ONU.

Na última semana, o presidente turco, que já disparou diversas vezes como retaliação contra a Síria, confirmou negociações para o uso de armamento pesado e de antimísseis da Otan caso o confronto continue a invadir os limites de seu país. “Nada mais natural que tomemos todas as medidas para nossa própria defesa”, disse Abdullah Gul, em entrevista a um canal turco.

A tensão entre os vizinhos, apesar de preocupante, dificilmente resultará em um conflito regional, explica o especialista Márcio Scalércio, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), em entrevista ao Correio. “Todo mundo está tomando muito cuidado. É um jogo perigoso e, para países como Israel, colocar a colher no conflito sírio não vale a pena”, aponta o também autor do livro Oriente Médio. Para Scalércio, os vizinhos fazem uma demonstração de força em uma “tentativa de estabelecer limites e alertar a Síria que podem usar suas armas a qualquer momento, se for necessário”.

Os vários grupos de oposição a Assad se reuniram na capital do Qatar, Doha, desde terça-feira, para estabelecer alianças e unificar a luta contra o atual regime. Pressionados por aliados, entre eles países da União Europeia e os Estados Unidos, os rebeldes elegeram ontem o presidente do novo bloco, chamado Coalizão Nacional para as Forças de Oposição e da Revolução Síria. Ahmad Maaz Al-Khatib é considerado um religioso moderado. Ele deixou a Síria há três meses, após ser perseguido pela repressão. A esperança Ocidental é que o novo bloco possa organizar a luta interna e facilitar a saída de Assad.

Faixa de Gaza Israel também mandou recado aos palestinos. Ontem, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, alertou que o país está preparado para expandir os ataques na Faixa de Gaza após uma onda de violência iniciada no último sábado na região. “O mundo precisa entender que Israel não vai ficar sentado com os braços cruzados diante de tentativas de nos ferir. E estamos preparados para endurecer a resposta”, disse.

Um ataque com mísseis feriu quatro soldados israelenses que faziam patrulha em um jipe ao longo da fronteira de Gaza no sábado. Houve um tiroteio em seguida, resultando na morte de seis palestinos e em dezenas de ferido, com lançamentos de foguetes de curto alcance partindo de Gaza. Ontem, uma série de ataques e contra-ataques entre o Exército israelense e os palestinos culminou na morte de um militante.

Israel foi à guerra contra o Hamas entre o fim de 2008 e o início de 2009, em uma ação devastadora que durou 22 dias e matou mais de 1.314 pessoas, de acordo com a Organização das Nações Unidas. A organização palestina divulgou um comunicado com outras cinco facções reivindicando a responsabilidade pelos ataques de domingo, mas não fez referência aos dos dia anterior. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abas, reiterou ontem que a resolução para elevar o estatuto da Palestina ao posto de Estado não membro da ONU será apresentada neste mês, cortando, assim, especulações sobre um possível adiamento da apresentação por pressão dos Estados Unidos. O presidente Barack Obama reagiu em seguida. Ligou para Abbas e transmitiu sua oposição à iniciativa na ONU.