O globo, n.31464, 29/09/2019. País, p. 11
Augusto Aras classifica atos de Janot como 'inaceitáveis'
Aguirre Talento
29/09/2019
O atual procurador-geral da República, Augusto Aras, manifestou-se pela primeira vez sobre o caso envolvendo o ex-procurador Rodrigo Janot. Em nota divulgada ontem, Aras classificou as atitudes de Janot de “inaceitáveis”. O procurador-geral afirmou ainda que “os erros de um único ex-procurador” não podem manchar a imagem institucional do Ministério Público.
Janot disse em entrevistas que foi armado ao Supremo Tribunal Federal (STF) com o objetivo de matar o ministro Gilmar Mendes, mas que desistiu do assassinato pouco antes de sacar a arma. Na última sexta-feira, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão contra Janot por ordem do ministro do Supremo Alexandre de Moraes, após pedido de Gilmar.
Aras foi empossado no comando da PGR na última quinta-feira, após ser indicado para o cargo pelo presidente Jair Bolsonaro e ter sido aprovado pelo Senado. “O Ministério Público Federal é uma instituição que está acima dos eventuais desvios praticados por qualquer um de seus ex-integrantes.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, considera inaceitáveis as atitudes divulgadas no noticiário a respeito de um de seus antecessores. E afirma confiar no conjunto de seus colegas, homens e mulheres dotados de qualificação técnica e denodo no exercício de sua atividade funcional”, destaca a nota. Prossegue Augusto Aras: “Os erros de um único exprocurador não têm o condão de macular o MP e seus membros. O Ministério Público continuará a cumprir com rigor o seu dever constitucional de guardião da ordem jurídica”. Rodrigo Janot foi visto ontem em um bar em Brasília, mas não quis dar declarações à imprensa.
VÍDEO SOBRE BANDEIRAS
Em uma outra manifestação feita pelo novo PGR, desta vez destinada ao público interno do MPF, Aras apresentou aos colegas as bandeiras de sua gestão e defendeu uma atuação com “contribuição para o desenvolvimento da economia”. Ele gravou um vídeo de aproximadamente quatro minutos veiculado na rede interna do MPF, obtido pelo GLOBO, para se apresentar como PGR. Transmitindo uma orientação aos procuradores, Aras afirmou que deseja que o MPF atue “de forma prévia” nas questões econômicas para não precisar posteriormente suspender andamentos de obras e
“O Ministério Público Federal está acima dos eventuais desvios praticados por qualquer um de seus ex-integrantes” _ Augusto Aras, procurador-geral da República, sobre Janot
ações do tipo. Defendeu ainda o “enfrentamento à macrocriminalidade”, sem citar diretamente o combate à corrupção. Pediu ainda atenção ao “desenvolvimento sustentável” e à “proteção às minorias”.
— No plano interno, nós temos como bandeira a unidade institucional, a ser feito com a abertura de oportunidades iguais para os colegas. No plano externo, nós pretendemos reforçar mais ainda o enfrentamento à macrocriminalidade, assim como dar a nossa contribuição para o desenvolvimento da economia, procedendo de forma prévia aos estudos, seja aqueles que digam respeito à busca de uma economia formada pela liberdade econômica em todas as suas dimensões, seja de proteção ao meio ambiente através do desenvolvimento sustentável, seja de proteção às minorias —afirmou.
Aras vinha sendo criticado internamente por ter assumido o comando da PGR na quinta-feira e ainda não ter enviado uma mensagem para a categoria. Ele concorreu ao cargo de PGR por fora da lista tríplice formada por uma votação interna dos procuradores, por isso sofreu resistência interna no MPF. Na mensagem, ele convida os procuradores a participarem de sua solenidade de posse, na próxima quarta-feira.
— Os membros haverão de ser valorizados. Assim também os nossos servidores. O Ministério Público é uno e a sua unidade é o nosso maior bem a ser protegido. Unidos somos mais fortes para defender a Constituição, que devemos ter como um farol das nossas atividades —concluiu Aras.