O globo, n.31463, 28/09/2019. País, p. 04

 

Janot na mira do supremo

Aguirre Talento 

Bela Megale 

Carolina Brígido 

Dimitrius Dantas 

28/09/2019

 

 

A Polícia Federal (PF) cumpriu ontem mandado de busca e apreensão contra o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, após ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O magistrado ainda proibiu Janot de se aproximar a menos de 200 metros de qualquer um dos ministros da Corte. Ele também está impedido de entrar no STF e teve seu porte de arma suspenso. De acordo com Moraes, as medidas cautelares foram tomadas “para evitar a prática de novas infrações penais e preservar a integridade física e psicológica dos ministros, advogados, serventuários da Justiça e do público em geral que diariamente frequentam esta Corte”. Moraes é relator do inquérito que apura ataques à Corte e aos ministros. A medida é uma demonstração de força do tribunal, que tem sido alvo ataques. O mandado de busca e apreensão foi expedido após pedido do ministro do STF Gilmar Mendes, motivado por entrevistas nas quais Janot afirmou que foi armado, em 2017, ao STF com o objetivo de assassinar Gilmar e depois se suicidar.

“Fui armado para o Supremo. Ia dar um tiro na cara dele (Gilmar) e depois me suicidaria”, disse Janot aos jornais “O Estado de S. Paulo”, “Folha de S.Paulo” e à revista “Veja”. Sem citar o nome de Gilmar, a cena também é relatada no livro “Nada menos que tudo”, dos jornalistas Jailton de Carvalho e Guilherme Evelin.

A PF fez buscas na casa e no escritório de Janot, em Brasília. Uma pistola Taurus calibre .40, três carregadores e 24 munições foram apreendidos na casa, além de computadores, celulares, tablets e outros dispositivos eletrônicos. Janot estava em casa quando policiais federais chegaram para cumprir a ordem de busca e apreensão. Ele não quis prestar depoimento, mas disse que estava à disposição para agendar uma data para ser ouvido.

“FACÍNORA”

Em nota divulgada antes da ação, Gilmar Mendes recomendou que Janot “procure ajuda psiquiátrica” e afirmou que o ex-procurador-geral “certamente não tem medo de assassinar reputações”. Ele também chamou Janot de facínora, em uma entrevista coletiva após participar de um evento do Conselho Nacional de Justiça (CNJ): — Se a divergência com um ministro do Supremo o expôs a tais tentações tresloucadas, imagino como conduziu ações penais de pessoas que ministros do Supremo não eram. Afinal, certamente não tem medo de assassinar reputações quem confessa a intenção de assassinar um membro da Corte Constitucional do País. Recomendo que procure ajuda psiquiátrica. O ministro afirmou lamentar “o fato de que, por um bom tempo, uma parte do devido processo legal no país ficou refém de quem confessa ter impulsos homicidas”. Para Gilmar, ao falar em se suicidar após assassinato, Janot visava se livrar da pena num ato que seria “motivado por oportunismo e covardia”. Crítico da atuação de Janot e de pontos da Operação Lava-Jato, Gilmar afirmou que continuará a apontar desvios em investigações. Ao deixar o evento do CNJ, o ministro disse que o Brasil precisa refletir sobre os posicionamentos do ex-procurador enquanto ele ocupou o cargo: — Eu não cogito isso (medida judicial). Eu tenho a impressão que se trata de um problema grave de caráter psiquiátrico, mas isso não atinge apenas a mim, atinge a todas as medidas que ele pediu e foram deferidas no Supremo. Denúncias, investigações, e tudo o mais. É isso que tem que ser analisado pelo país. O ex-presidente Michel Temer —acusado pelo exprocurador-geral da República Rodrigo Janot de ter pedido o arquivamento da investigação contra o expresidente da Câmara Eduardo Cunha — afirmou em nota que Janot, “além de mentiroso contumaz, revela-se um insano homicida-suicida”.

Temer, já presidente, foi alvo de duas denúncias formuladas por Janot. As acusações foram feitas com base no acordo de delação premiada firmado com os irmãos Joesley e Wesley Batista.

“Fui armado para o STF. Ia dar um tiro na cara dele e depois me suicidaria” Rodrigo Janot, ex-PGR

“Eu tenho a impressão que se trata de um problema grave de caráter psiquiátrico” Gilmar Mendes, ministro do STF

“Além de mentiroso contumaz, (Janot) revela-se um insano homicida-suicida Michel Temer, Ex-presidente

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Aras escolhe nome conservador para Direitos Humanos 

Aguirre Talento

28/09/2019

 

 

O procurador Ailton Benedito, autodeclarado conservador e crítico da “militância esquerdista” no Ministério Público Federal (MPF), foi convidado para comandar a Secretaria de Direitos Humanos e Defesa Coletiva da gestão de Augusto Aras na Procuradoria-Geral da República (PGR). O convite já foi aceito e sua nomeação deve ser publicada no Diário Oficial da próxima segunda-feira. O cargo tem como uma de suas funções o auxílio à PGR na confecção de peças jurídicas para manifestação em processos no Supremo Tribunal Federal (STF). Nas redes sociais, Benedito manifesta opiniões contra o que chama de “ideologia de gênero” nas escolas e a criminalização da homofobia pelo STF. Ele se posicionou a favor da apreensão de livros com conteúdo LGBT pela Prefeitura do Rio. Aras foi empossado na PGR na quinta-feira e começa a montar sua equipe.

Em uma rede social, o procurador confirmou o convite e anunciou suas diretrizes: “Aceitei o convite de Augusto Aras para chefiar a Secretaria de Direitos Humanos da PGR. Balizas fundamentais: direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à propriedade, à segurança. Artigo 5º da Constituição”. Ailton Benedito é considerado uma das principais vozes conservadoras no MPF. Atualmente comanda a unidade da Procuradoria da República em Goiás. O procurador havia sido convidado pelo governo de Jair Bolsonaro para assumir uma cadeira na Comissão de Mortos e Desaparecidos do governo, mas foi vetado pelo Conselho Superior do MPF, por meio de voto decisivo proferido pela então PGR Raquel Dodge.