Título: Resgate da confiança no DF
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 12/11/2012, Cidades, p. 18
Ao buscar acordo com o BID, o governo dá um passo importante no processo de reabilitação da imagem do Distrito Federal frente às instituições financeiras internacionais. Retomada de antigos projetos e desenvolvimento de novas ações estão na pauta
Washington (EUA) — No primeiro dia de missão oficial da comitiva do GDF nos Estados Unidos, o governador Agnelo Queiroz (PT) vai concentrar esforços na tentativa de convencer o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, a financiar, pelo menos, cinco grandes ações de infraestrutura e de saneamento para os quais o Distrito Federal precisará de suporte. A meta da comitiva liderada por Agnelo é dar andamento a uma política de retomada da confiança do BID nas instituições do DF, o que facilitará a conclusão de projetos para a capital brasileira que dependem de financiamento externo.
A visita à sede do BID em Washington faz parte de uma série de contatos entre o Governo do Distrito Federal e o banco de fomento, que, nos últimos anos, se tornou um parceiro importante para a realização de obras de grande porte no Distrito Federal, como as de saneamento previstas no Brasília Sustentável 1. Na última década, o GDF chegou a contratar com instituições financeiras internacionais, a exemplo do Banco Interamericano, do Banco Mundial (Bird) e da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) pouco mais de R$ 1,1 bilhão e a iniciar as tratativas para atingir crédito de outros R$ 3,9 bilhões, valores que, somados, correspondem ao dobro da capacidade de investimento do DF neste ano via orçamento próprio, que é de R$ 2,22 bilhões.
Mas as intensas negociações com os bancos estrangeiros sofreram um revés a partir do fim de 2009, quando a cidade, o país e as entidades financeiras internacionais foram surpreendidas com a Operação Caixa de Pandora. Por revelar denúncias de corrupção envolvendo integrantes do governo, a investigação jogou uma sombra de desconfiança sobre as instituições do DF. O escândalo e as consequências na gestão — como três trocas de governo extemporâneas — desaceleraram as tratativas com os bancos.
Meta
Sabendo do potencial que as instituições estrangeiras de fomento representam para o Distrito Federal, Agnelo colocou como meta o resgate das negociações com essas entidades. A viagem a Washington faz parte dessa estratégia, que começou em Brasília, quando o governador visitou a representante do BID no Brasil, Daniela Carrera, oportunidade em que conversaram sobre a retomada de projetos e a chance de novas parcerias. “Brasília vive um momento espetacular. Voltou ao equilíbrio e agora vamos fazer a cidade que é um avião decolar e voar alto”, disse Agnelo ainda na sala de embarque para a missão internacional.
Foi nessa ocasião, por exemplo, que surgiu o assunto do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Agnelo fez um resumo dos critérios de sustentabilidade usados na construção da arena. Comentou que, em função de requisitos como a redução do consumo de água em até 80%, a geração de energia por meio dos painéis solares e um sistema de refrigeração inteligente, por exemplo, a capital concorre à certificação LEED Platinum emitida pela U.S. Green Building Council, principal reconhecimento na área das construções sustentáveis.
A conversa inspirou a representante do BID em território brasileiro a sugerir que Agnelo reproduza ao presidente da instituição, Luis Alberto Moreno, as práticas verdes que podem servir de base a novas ações do banco. “Será uma reunião muito rica, porque ao mesmo tempo em que vamos pedir suporte para ações em que o BID tem expertise, apresentaremos iniciativas de Brasília que podem servir de parâmetro para o desenvolvimento sustentável em outras regiões”, considerou o chefe da Assessoria Internacional do GDF, Odilon Frazão.
São Francisco
Na missão internacional que se inicia nesta segunda, Agnelo vai divulgar as características do Estádio Nacional de uma costa à outra dos Estados Unidos. Depois da agenda em Washington, a comitiva do DF seguirá para São Francisco, na Califórnia. Lá, o governador foi convidado a contar a experiência da construção do Estádio Nacional durante a feira organizada pelo U.S Green Building Council, considerada a mais importante no segmento.
Em sua apresentação, que está marcada para as 16h de amanhã na Califórnia (22h de Brasília), Agnelo vai novamente sublinhar as qualidades ecologicamente reconhecidas na edificação do Estádio Nacional Mané Garrincha. Na oportunidade, no entanto, para um público especializado, que busca soluções como as que foram adotadas no DF. “Brasília é a capital da sexta economia mundial, vai sediar a Copa das Confederações, o Mundial e as Olimpíadas. É uma cidade em expansão, em fase de construção. O estádio verde vai despertar uma boa atenção do setor. Teremos retorno dos países que vêm para investir e querem ter acesso ao nosso expertise, o que vai nos ajudar a incrementar parcerias, a abrir portas”, considerou o Secretário de Planejamento, Luiz Paulo Barreto, que integra a comitiva em missão americana.
Infraestrutura Iniciado em 2008, o Brasília Sustentável 1 aplicou em torno de US$ 65 milhões em obras de pavimentação, de drenagem, de saneamento e do sistema viário, além de equipamentos públicos como postos de saúde e escolas. Parte do dinheiro foi aplicado em regularização fundiária e na construção de 1.290 casas populares.
Atrasos Entre as ações que foram atrasadas em função da crise política de 2009 estão as relacionadas ao Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU). A previsão era que o programa fosse concluído em 2012, mas, a pedido do GDF, a parceria foi estendida até 2014.