Correio braziliense, n.20546, 24/08/2019. Política, p.2/3

 

Cresce pressão contra o Brasil

Maria Eduarda Cardim

24/08/2019

 

 

Governos europeus aumentaram ontem a pressão diplomática sobre o Brasil devido às queimadas na Amazônia. Após sugerir que a assunto seja debatido pelo G7, o grupo dos países mais ricos do mundo, o presidente francês Emmanuel Macron subiu o tom e acusou o presidente Jair Bolsonaro de ter mentido sobre os compromissos com o meio ambiente, durante a cúpula do G20 — que ocorreu entre 28 e 29 de junho em Osaka, no Japão. O líder francês anunciou também que, na atual situação, a França se opõe à assinatura do acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul.
“Dada a atitude do Brasil nas últimas semanas, o presidente da República só pode constatar que o presidente Bolsonaro mentiu para ele na cúpula (do G20) de Osaka”, disse. Ainda de acordo com o governo francês, “o presidente Bolsonaro decidiu não respeitar seus compromissos climáticos nem se comprometer com a biodiversidade”. “Nestas circunstâncias, a França se opõe ao acordo do Mercosul”, acrescentou a presidência francesa.
A chanceler alemã, Angela Merkel, apoiou a proposta de Macron de levar o assunto para a cúpula do G7, que começa hoje no balneário francês de Biarritz. Por meio do porta-voz, Merkel afirmou que os incêndios na Amazônia constituem uma “situação urgente”. “A magnitude dos incêndios no território da Amazônia é assustadora e ameaçadora, não só para o Brasil e os outros países envolvidos, mas para todo o mundo”, disse Merkel.
Também favorável à discussão das queimadas no G7, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, ofereceu a colaboração do país para preservar a região. “Os incêndios que assolam a Floresta Amazônica são desoladores, mas também uma crise internacional. Estamos dispostos a fornecer toda a ajuda que pudermos para controlá-los e ajudar a proteger uma das maiores maravilhas da Terra”, tuitou.
Numa iniciativa ainda mais dura, a Finlândia, que exerce a presidência rotativa da União Europeia, pediu que o bloco considere a possibilidade de banir as exportações da carne bovina brasileira  em reação às queimadas. “O ministro das Finanças, Mika Lintila, condena a destruição da Floresta Amazônica e sugere que a UE e a Finlândia devem considerar urgentemente a possibilidade de banir a importação de carne bovina brasileira”, informou, em comunicado, o Ministério das Finanças.
Na contramão, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defendeu a relação com Bolsonaro. Ao declarar que teve uma conversa com o presidente do Brasil, Trump disse que a relação entres ambos está ainda “mais forte que antes”. “Nossas futuras perspectivas de comércio são muito empolgantes e nossa relação é forte, quem sabe ainda mais forte que antes. Eu disse a ele que os Estados Unidos poderiam ajudar com os incêndios da Floresta da Amazônia. Nós estamos prontos para ajudar”, postou no Twitter. Bolsonaro repostou a mensagem na própria conta.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Acordo comercial na berlinda

24/08/2019

 

 

A reação internacional às queimadas na Amazônia ameaça o acordo de livre-comércio assinado em junho entre o Mercosul e a União Europeia. Além do presidente da França, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, também colocou o acordo na berlinda. “De maneira alguma a Irlanda votará a favor do acordo UE-Mercosul se o Brasil não cumprir seus compromissos ambientais”, declarou Varadkar em comunicado divulgado na noite da última quinta-feira.
O governo alemão, no entanto, afirmou que “bloquear a conclusão do acordo com o Mercosul não contribuiria para reduzir o desmatamento”. O tratado de livre-comércio foi concluído após mais de 20 anos de negociações, mas, para entrar em vigor, ainda precisa ser aprovado pelos parlamentos dos países. De acordo com o texto do documento, uma das promessas dos blocos é o compromisso com o Acordo de Paris sobre o clima, de 2015.
Economista e analista político brasileiro radicado nos Estados Unidos há mais de 30 anos, Carlo Barbieri afirma que a falta de uma rápida movimentação em relação às queimadas contribui para a oposição de alguns países. “Para alguns países da Europa, como a França, o acordo nunca foi interessante por conta da sua capacidade agrícola, mas a demora na reação do Brasil em relação à situação abriu espaço para o crescimento da oposição de outros países ao acordo”, avaliou. (MEC)