O globo, n.31461, 26/09/2019. Rio, p. 17

 

Flávio revê desfiliação de quem ficar com Witzel 

Paulo Cappelli 

26/09/2019

 

 

Presidente do PSL-RJ, o senador Flávio Bolsonaro determinou há dez dias, quando estava em viagem à China, o rompimento do partido como governador WilsonWitzel. Do exterior, divulgou nota informando que políticos da legenda com cargos na gestão estadual deveriam abandonar o governo ou se desfiliar. De volta ao Brasil, o filho de Jair Bolsonaro disse ontem em entrevista ao GLOBO que, após refletir, decidiu rever sua ordem. Segundo ele, “quem quiser permanecer vai arcar com o bônus e o ônus de ajudar um governo que será concorrente com o do Bolsonaro em 2022”. Flávio chamou Witzel de “ingrato” pelas recorrentes críticas à gestão federal e por se colocar como candidato à Presidência da República. Um comportamento que, segundo o senador, “beira a traição”.

Mesmo após Flávio determinara ruptura, nenhum dos dois políticos do PSL que ocupam secretarias no governo Witzel entregou o cargo: a deputada federal licenciada Major Fabiana está à frente da pasta de Vitimização e Amparo à Pessoa com Deficiência; já Leonardo Rodrigues, suplente de Flávio no Senado, comanda a Ciência e Tecnologia. Ambos pretendem continuar no Executivo, mas afirmam que só tomarão a decisão final após conversar com Flávio. O senador convocará uma reunião com políticos do PSL fluminense para amanhã na Barra da Tijuca.

— Após refletir, avaliei que eles é que têm que medir as consequências. Claro que os deputados têm méritos pela última eleição, mas ter o apoio do Bolsonaro foi importante. É hora de mostrarem fidelidade. Os parlamentares, porém, têm livre vontade dentro do partido, até porque não foram indicados para os cargos pelo PSL —disse Flávio.

A declaração de Witzel de que foi eleito sem o apoio de Bolsonaro, feita em entrevista à GloboNews há duas semanas, é contestada por Flávio:

— Witzel diz que não contou com o nosso apoio para se eleger, mas, na campanha, me procurou pedindo que assinasse uma autorização para poder divulgar fotos ao meu lado. Eu atendi. Não me arrependo, mas esperava mais consideração. Só existe uma palavra para isso: ingratidão. Ele é ingrato ao dizer que não se elegeu com o apoio de Bolsonaro. É uma narrativa que beira a traição —criticou.

Ontem, em viagem a Brasília para audiência com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, Witzel tentou falar com Flávio, mas não foi recebido. Procurado pelo GLOBO, o governador não comentou as críticas do senador.

Flávio nega que o pai, Jair Bolsonaro, tenha influenciado ou mesmo determinado a ruptura com Witzel.

—Coube a mim, como presidente estadual do partido, tomar uma atitude. Witzel está há pouco tempo na cadeira e anuncia que quer assumir a Presidência da República, quando, sabidamente, há a candidatura à reeleição do atual presidente. O Rio não pode se dar ao luxo de brigar neste momento. Witzel tem que botar o Rio à frente dos interesses pessoais — afirmou.

ARTICULAÇÃO POLÍTICA

Indagado se a briga de Witzel com o PSL pode prejudicar o estado no Regime de Recuperação Fiscal e na captação de investimentos federais, Flávio respondeu que a União “não punirá o Rio”:

— Temos a responsabilidade de dar respostas técnicas. Já dei exemplos de vitória para o Rio, independentemente de Witzel se colocar como concorrente. Estou trazendo investimentos da petrolífera chinesa CNPC no Comperj e lutei pela alíquota de 3% do megaleilão do petróleo, que dará ao Rio R$ 2,5 bilhões.

Sobre as eleições municipais do ano que vem, Flávio diz que a ruptura “dificulta” a união, inicialmente prevista, com o PSC, partido de Witzel, no estado. Com o distanciamento, o senador começou articulações com PSD e DEM, legenda da qual Witzel também tenta se aproximar via Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados. Segundo fontes, Witzel abrirá espaço para o DEM na Secretaria de Infraestrutura ainda esta semana.

Com relação a uma eventual candidatura do PSL à prefeitura do Rio, Flávio afirmou que, hoje, o nome do partido é o do deputado estadual Rodrigo Amorim, uma vez que o deputado federal Hélio Negão, também cotado, não colocou o nome à disposição. O senador não descarta apoio a Marcelo Crivella, que pleiteia o apoio do PSL, mas pondera:

— Tenho respeito por ele como pessoa e pelos valores que defende. Mas o nome dele não está com boa avaliação.