O Estado de São Paulo, n. 46133, 07/02/2020. Política, p. A4

 

Rogério Marinho assume ministério do 'Minha Casa'

Mateus Vargas

07/02/2020

 

 

Esplanada. Em ano eleitoral. Bolsonaro troca comando do Ministério do Desenvolvimento Regional, responsável por programas de moradia e saneamento disputados por prefeitos

Sem avisar nem mesmo seus aliados, o presidente Jair Bolsonaro dispensou ontem o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, e chamou para o seu lugar o exdeputado Rogério Marinho, até então secretário especial da Previdência e braço direito do titular da Economia, Paulo Guedes. Canuto foi o quinto ministro a cair desde o início do governo.

A decisão foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União. O Ministério do Desenvolvimento Regional tem grande influência nas políticas municipais e é responsável pelo Minha Casa Minha Vida, programa que Bolsonaro pretende turbinar este ano. O ministério é considerado prioritário em ano de eleição, por controlar recursos de interesse de prefeitos e parlamentares, como verbas para construção de cisternas, moradia e obras de saneamento.

Próximo ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e filiado ao PSDB, Marinho foi o principal articulador do governo para a aprovação da reforma da Previdência. Natural do Rio Grande do Norte, ele tem boa relação com o Congresso, tanto que chegou a ser cotado para assumir a Casa Civil, comandada por Onyx Lorenzoni. Bolsonaro preferiu, porém, que ele ficasse no comando da pasta.

Marinho também foi relator da reforma trabalhista quando era deputado. Até agora, ele articulava a aprovação do programa Verde Amarelo, que prevê incentivo à contratação de jovens de 18 a 29 anos. Recentemente, ele foi criticado por propor a taxação do seguro-desemprego para bancar o plano.

A mudança no Desenvolvimento Regional já havia sido cogitada no ano passado, quando o Planalto abriu uma frente de negociação com a Câmara e o Senado para obter apoio político, recriando o Ministério das Cidades. Como o acordo não foi adiante, Canuto acabou permanecendo no cargo.

O presidente estava contrariado com o desempenho de Canuto, que não conseguiu reformular o Minha Casa Minha Vida. O orçamento do programa era de R$ 4,2 bilhões em 2019, mas caiu para R$ 2,8 bilhões neste ano. Nos bastidores, o diagnóstico é que o agora ex-ministro não tinha nem mesmo interlocução com Guedes. Na dança das cadeiras, Canuto assumirá a direção da Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev). Para o lugar de Marinho na secretaria especial da Previdência foi escalado Bruno Bianco, atual adjunto.

As novas mudanças na equipe ocorrem após Bolsonaro afirmar, em entrevista ao Estado, que dará “cartão vermelho” a quem usar o cargo para tirar proveito eleitoral. “Se algum ministro quer ser eleito, que abra o jogo. E se, porventura, estiver usando ministério para seu respectivo Estado, vai pegar um cartão vermelho de primeira”, afirmou o presidente.

O núcleo político do Planalto avalia que a falta de uma agenda com visibilidade na área social é um dos principais problemas da gestão Bolsonaro, que viu sua popularidade cair nas últimas pesquisas, e pode causar ainda mais embaraços em um ano de eleições. Um dos objetivos do Planalto, agora, é tentar criar uma marca social e ter entrada no Nordeste, reduto de políticos petistas. O Estado apurou que o presidente quer dar ao social a mesma credibilidade obtida pelos ministérios da Economia, controlado por Guedes, e da Justiça, comandado por Sérgio Moro.

Mudanças. Outro ministro cotado para deixar o governo, Abraham Weintraub (Educação), deve se manter na Esplanada, dependendo das circunstâncias políticas. Mas Bolsonaro também tem outros planos para ele. Uma das possibilidades é transferi-lo para o comando da fundação que montará o programa do Aliança pelo Brasil.

Se essa ideia vingar, Weintraub ficaria responsável por desenhar a base intelectual do bolsonarismo. O novo partido, no entanto, ainda está em fase de coleta de assinaturas e dificilmente conseguirá sair do papel a tempo de disputar as eleições municipais.

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Almirante é convidado para função de Casa Civil

Jussara Soares

Tânia Monteiro

07/02/2020

 

 

Segundo Bolsonaro, ‘está quase certo’ que Flávio Augusto Viana Rocha será nomeado assessor em gabinete

O presidente Jair Bolsonaro pretende criar uma assessoria especial em seu gabinete e nomear para a vaga um militar, que teria a função de ajudá-lo na coordenação das ações do governo. A tarefa deveria caber ao ministro Onyx Lorenzoni, que tem sofrido um processo de perda de atribuições dentro do governo. O convite foi feito para o almirante Flávio Augusto Viana Rocha, atual comandante do 1.º Distrito Naval, no Rio de Janeiro.

Em entrevista ao Estado anteontem, o presidente apresentou o almirante à reportagem. “Estamos comprando o passe dele da Marinha. Ele vem trabalhar com a gente aqui. Está quase certo. Não vai ser ministro, não, apesar de ele merecer.”

Bolsonaro disse que Rocha será mais “um colega para ajudar” no gabinete. Disse que o almirante fala seis idiomas e trabalhou por quatro anos como assessor parlamentar da Marinha no Congresso. Foi nessa época que eles se conheceram. “É sempre bom ter pessoas qualificadas, com o coração verde e amarelo para estar do nosso lado.”

O almirante Rocha passou boa parte do dia de ontem no gabinete do presidente. Pode ser visto ao lado dele na transmissão ao vivo para comemorar a absolvição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que se livrou do processo de impeachment – o vídeo foi gravado durante discurso de Trump.

Apesar de ter um estilo centralizador, Bolsonaro tem se queixado de sobrecarga com a coordenação do governo, que deveria ser executada pela Casa Civil. A avaliação interna, segundo auxiliares do Planalto, é que Onyx não consegue gerenciar a Esplanada, e a função acaba sendo feita diretamente pelo presidente, que mantém a porta do gabinete aberta para os chefes das pastas.

A ideia é que o almirante, prestes a ganhar a sua quarta estrela, no mês de março, atue como um filtro para os problemas que têm caído diretamente na mesa do presidente. A proposta é que os temas das mais variadas pastas cheguem diluídos a Bolsonaro para que ele tome apenas uma decisão final.

“Estamos comprando o passe dele da Marinha. Está quase certo. Não vai ser ministro, não, apesar de ele merecer.”

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE DA REPÚBLICA