Título: Governistas enterram a CPI
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 01/11/2012, Política, p. 3
Base aliada arquiva requerimentos para ampliar a investigação e marca a data para o fim dos trabalhos: 22 de dezembro
Um grande acordo firmado entre os partidos da base aliada enterrou a CPI do Cachoeira. A votação de mais de 500 requerimentos, incluindo os pedidos de quebra de sigilo bancário e fiscal de 12 empresas fantasmas abastecidas pela empreiteira Delta para irrigar campanhas políticas em 2010, acabou suspensa. Os trabalhos vão até 22 de dezembro, quando acaba a sessão legislativa de 2012. O relatório final será apresentado dois dias antes. O requerimento já foi protocolado na Mesa do Congresso Nacional e a expectativa é de que a leitura em plenário ocorra na tarde de hoje para que o prazo seja oficializado.
Irritados, oposicionistas afirmaram que o Congresso estava dando um grande presente de Natal ao bicheiro Carlinhos Cachoeira e ao dono da construtora Delta, Fernando Cavendish. O trator governista entrou em campo logo cedo e conseguiu, na Câmara e no Senado, as assinaturas necessárias para não ampliar o foco da investigação e prorrogar os trabalhos por apenas 48 dias. Até o início da tarde, a base já havia conseguido assinaturas de 212 deputados e 34 senadores. Para aprovação, era necessária a adesão de 171 deputados e de 27 senadores.
No início da tarde, o bloco considerado independente, que também tentava recolher assinaturas para prorrogar os trabalhos por 180 dias, jogou a toalha. "Não temos mais o que fazer. Não vamos conseguir", afirmou o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP), autor do requerimento.
Ao sair da sessão, ele criticou a postura tomada pelo colegiado. "O que ocorre é uma enrolação. Vocês estão assistindo à maior vergonha do Congresso. É, descaradamente, uma forma de encobrir um dos maiores esquemas de corrupção da história do Brasil", disse o senador.
O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) ironizou o sepultamento da comissão. "Cavendish vai comemorar a decisão na Champs-Élysées, em Paris, com champanhe francês. Agora, o relatório será fechado em 20 de dezembro. É o presente de Natal que a CPI vai oferecer a ele."
A principal crítica é a blindagem em torno das empresas que receberam R$ 421 milhões da construtora Delta. "O que estamos debatendo aqui é o destino da CPI. Cachoeira é parte da investigação. A cabeça é Cavendish. O coração e o cérebro são a Delta. Ou quebramos agora o sigilo dessas empresas ou seremos responsáveis por essa vergonha", declarou Randolfe.
Discussão O relator da comissão, Odair Cunha (PT-MG), rebateu as críticas. "O que queremos é que ocorra, no mínimo, a prorrogação necessária para uma discussão transparente, clara, de todos os pontos do nosso relatório. Nós vamos desmontar uma organização criminosa que estava no aparelho de Estado, corrompendo parlamentares e agentes do Poder Executivo. Isso é muito e precisa ser investigado", afirmou. Ele fez questão de salientar que as informações referentes às empresas fantasmas abastecidas pela Delta vão ser encaminhadas ao Ministério Público. "Todas as outras fases e caminhos de investigação que existem devem ser investigados por outros órgãos. Por isso que eu sugeri na nossa reunião o adiamento da votação dos requerimentos", explicou.
Com a temperatura política bastante elevada, houve bate-boca entre os deputados Rubens Bueno (PPS-PR), líder do partido na Câmara, e Leonardo Picciani (PMDB-RJ). A discussão foi iniciada quando Bueno afirmou que a CPI deixou de convocar o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). "Quando foi negada a presença do senhor Sérgio Cabral aqui, para mim, ele passou a ser o principal suspeito. Estamos há 60 dias sem tomar uma decisão, uma atitude nesta CPI", declarou.
Picciani defendeu o governador e chamou o líder do PPS de leviano. "Eu considerei a fala do deputado Rubens Bueno de leviana. O governador do Rio de Janeiro não foi convocado porque nas milhares de ligações o governador não foi citado nenhuma vez. A relação do governador com o empresário dono da Delta era pessoal. O governador jamais escondeu." Com o tom elevado, Bueno retrucou. "Leviano é você." E o bate-boca continuou. "Você escute. Eu lhe escutei", disse Picciani.
"Vocês estão assistindo à maior vergonha do Congresso. É, descaradamente, uma forma de encobrir um dos maiores esquemas de corrupção da história do Brasil" Randolfe Rodrigues (PSol-AP)