O globo, n.31459, 24/09/2019. Sociedade, p. 21

 

Brasil fica de fora 

24/09/2019

 

 

Em reuniões na ONU, países se comprometem a agir pelo ambiente

No dia em que o mundo se reuniu em Nova York para debater ações contra as mudanças climáticas, o Brasil, um dos principais atores neste tema, esteve alheio às discussões. Devido a decisões do governo Bolsonaro, o país não foi convidado a discursar na Cúpula do C limada Organização das Nações Unidas (ONU)—da qual participaram chefes de Estado de países como Alemanha, França, Reino Unido e Noruega— e também não esteve na reunião convocada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, para tratar da Amazônia.

Neste encontro, do qual participaram os presidentes da Colômbia, Chile e Bolívia, Macron lamentou a ausência do Brasil e anunciou a criação de um fundo de US$ 500 milhões para o reflorestamento da Amazônia e de outras florestas tropicais, com dinheiro do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, e da ONG Conservation International.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles,t eve participação discreta no evento da ONU, do qual saiu antes do fim para ter reuniões bilaterais com Japão e Alemanha, com quem tenta um acordo para manter o Fundo Amazônia.

Contrastando com a ausência do governo brasileiro,o primeiro discurso da cúpula da ONU coube à ambientalista brasiliense Paloma Costa, de 27 anos. Estudante de direito da Universidade de Brasília e integrante de diversos projetos ambientais, ela foi selecionada pelo secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, para falar ao lado da ativista sueca Greta Thunberg, de 16 anos, antes dos mais de 60 países.

—Já mudamos nossos hábitos, e vocês não estão nos acompanhando. Os povos indígenas possuem tanto conhecimento e conexão com a terra, e ainda não demos ouvidos a eles—disse a brasileira.

—Eu vi o mundo rezando por nossas florestas e vi nossos povos indígenas lutando pela sobrevivência. Não precisamos de orações, precisamos de ações.

Numa fala combativa e emocionada,GretaThunberg, que liderou o movimento de greve global pelo clima, responsabilizou os líderes mundiais pela falta de ações para proteger o meio-ambiente.

—Está tudo errado. Eu não deveria estar aqui em cima. Eu deveria estar na escola — disse a adolescente sueca. — Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias.

PLANOS DE AÇÃO

Em linha com a proposta do encontro, que demandava ações concretas e ambiciosas dos governos no combate às mudanças climáticas —uma das razões por que o Brasil não foi convidado a discursar— a ONU afirmou que 66 países se comprometeram a alcançar a neutralidade do carbono até 2050.

Comprometeram-se dez regiões, 102 cidades, 93 empresas e 12 investidores que pretendem ter emissão zero de gases de efeito estufa em 31 anos, uma meta estabelecida pelos cientistas para conter o aquecimento da Terra em +1,5°C, em relação ao século XIX — a temperatura média na Terra já é de + 1°C em relação ao período citado.

—A emergência climática é uma corrida que estamos perdendo, mas podemos vencê la —disse o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Ao todo, 59 países anunciaram sua intenção de fortalecer suas metas nacionais para combater as mudanças climáticas até 2020, e outros nove iniciaram processos internos para tornar suas metas mais ambiciosas, disse a ONU, ao anunciar a criação de uma “Aliança de Ambição pelo Clima”.

— Todos ouvimos o chamado de alerta da juventude — afirmou a chanceler alemã Angela Merkel em seu discurso durante a cúpula, que aconteceu após intensa mobilização de milhares de jovens na terceira greve global pelo clima, na última sexta-feira (20).

Merkel afirmou ainda não haver dúvida de que o aquecimento global seja causado pela ação humana e disse que combatê-lo é um desafio que só pode ser vencido conjuntamente, “pois todos nós só temos uma Terra”. Seu discurso foi um dos poucos assistidos pelo presidente dos EUA, Donald Trump, que fez uma breve aparição não programada.

A alemã disse ainda que os países industrializados são os causadores do aquecimento global e anunciou que a contribuição do país a um fundo da ONU de apoio a países menos desenvolvidos no combate às mudanças climáticas irá dobrar, de 2 bilhões para 4 bilhões de euros.

— Nós, representantes dos países industrializados, temos a obrigação de aplicar inovação, tecnologia e dinheiro para pavimentar o caminho e deter o aquecimento global —disse.

(Colaboraram Jussara Soares, enviada especial, Juliana Vaz e Gabriel Morais)

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Operação na Amazônia fez 112 autuações em um mês 

Leandro Prazeres 

24/09/2019

 

 

A operação emergencial do governo para conter as queimadas na Amazônia fez 112 autuações no primeiro mês, com multas que podem chegar a R$ 36,6 milhões, segundo o Ministério da Defesa. A ação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que foi prorrogada por mais um mês na sexta-feira (20), custou R$ 49,5 milhões à União. Um total de R$ 86 milhões foram liberados pelo governo.

Na chamada operação “Verde Brasil”, 8.170 militares e servidores das agências de fiscalização do governo federal, estados e municípios atuaram na área, com 12 aeronaves e 87 embarcações. Foram apreendidos 28 veículos e detidas 63 pessoas.

Este é o primeiro balanço divulgado pelo governo federal desde que as Forças Armadas foram acionadas. De acordo com o Ministério da Defesa, além de atuar nas áreas onde há focos de fogo, as tropas federais fazem treinamento de brigadistas e desenvolvem ações de prevenção.

O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, comemorou os resultados, mas afirmou que as Forças Armadas “não podem ser chamadas a toda hora”. Ele defendeu a ação do governo federal na região e disse que a realidade encontrada pelos militares foi diferente da que ele classificou como a ‘imagem exposta pela mídia nacional e internacional’.

Fernando Azevedo e Silva contestou as alegações de que a Amazônia passava por uma crise. Segundo ele, desde o início da GLO, o número de focos de calor registrados na Amazônia caiu, ao contrário da tendência esperada para setembro, normalmente um mês que registra mais focos de calor do que agosto.

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia Legal registrou 39,1 mil focos de calor em agosto, um aumento de 160% em relação ao mesmo mês de 2018, quando foram registrados 15 mil. Em setembro, já com a ação dos militares, os dados indicam uma tendência de queda.