Título: Aluguel estimula o calote
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Fonte: Correio Braziliense, 01/11/2012, Economia, p. 14

Pesquisa aponta que um em cada três inadimplentes paga por moradia. A maior parte de quem está com dívidas em atraso é da classe C

O aluguel de imóveis é um dos grandes vilões para que os brasileiros mantenham as contas em dia. É o que aponta um estudo do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), encomendado à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). De acordo com os números, dos 609 entrevistados com dívidas em atraso por mais de 90 dias — o que caracteriza inadimplência —, 33% moram de aluguel.

“Esse tipo de despesa alta consome um parte considerável do orçamento familiar e colabora para que haja menos dinheiro disponível para o pagamento das outras contas”, avalia o presidente da CNDL, Roque Pellizaro Jr. O objetivo da pesquisa, apresentada ontem, foi traçar o perfil do consumidor com e sem dívida. Foram ouvidos, no total, 1.277 pessoas, entre adimplentes e inadimplentes, em todas as capitais. Outra conclusão é que as dívidas em atraso são feitas, em sua maioria, por mulheres (52%) com idade entre 35 e 49 anos.

Além disso, 47% de quem disse ter despesas estão na classe C, ou seja, têm salário entre R$ 906 e R$ 2,2 mil. De acordo com a economista do SPC Brasil Ana Paula Bastos, o ponto de partida do descontrole no pagamento das contas está na falta de planejamento de quem tem remuneração baixa, o que leva ao comprometimento de um percentual alto da renda com dívidas. “É um perfil composto por jovens que estão ascendendo de classe e entrando no mercado de trabalho sem saber lidar com a oferta de crédito disponível”, afirma.

Ana Paulo alerta ainda para o fato de que o comprometimento com gastos fixos elevados, como aluguel, pensão alimentícia e financiamento de bens (carro e casa), favorecem a inadimplência. “São consumidores que, no momento da compra, só observam se as parcelas cabem no bolso e não consideram os demais gastos. É uma parcela da sociedade ainda imatura”, completa.

Maturidade financeira Não é à toa que os consumidores mais experientes e com estabilidade profissional saem à frente e tendem a dever menos. Segundo o estudo, 62% dos adimplentes (que honram as dívidas no prazo) estão empregados há mais de cinco anos e 45% deles têm mais de 49 anos. De acordo com a economista do SPC Brasil, essa parcela consegue honrar os pagamentos porque está mais ciente do impacto da despesa no orçamento. “A diferença é que existe um planejamento de renda, uma pesquisa de preços e uma preocupação com a taxa de juros paga”, diz.