Correio braziliense, n.20554, 01/09/2019. Economia, p.9

 

Participação maior de cooperativas de crédito

Marina Torres

Rafaela Gonçalves

01/09/2019

 

 

 

 

Finanças » Conselho Monetário Nacional muda regra de emissão de letras financeiras a fim de fomentar segmento. Em um ano, essas instituições cresceram 3,42 pontos percentuais

Um tipo alternativo de instituição financeira tem chamado a atenção dos consumidores do país. As chamadas cooperativas de crédito, apesar de ainda representarem uma fatia pequena do bolo no mercado, crescem em ritmo acelerado. De acordo o Banco Central, a participação do segmento passou de 9,10%, em 2017, para 12,52%, em 2018. Isso se dá, em parte, porque a taxa do empréstimo pessoal nas cooperativas é, em média, metade das cobradas pelos bancos tradicionais, além de distribuírem o lucro entre seus associados.

Na última quinta-feira, o Conselho Monetário Nacional (CMN) mudou a regra para emissão de letras financeiras por cooperativas de crédito, buscando, com isso, ampliar a possibilidade de captação de longo prazo dessas instituições, a fim de fomentar as atividades desse segmento. Antes, as cooperativas podiam emitir Letras Financeiras, mas, apenas, para composição do patrimônio de referência. Agora, não haverá mais essa restrição.

O vice-presidente da Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito (Confebras) e diretor- presidente na Sicoob Executivo, Luiz Lesse, destaca a importância da flexibilização da regulamentação para o avanço do setor. “O sistema nacional de crédito cooperativo, desde a primeira normatização pelo BC, iniciou trajetória de ascendência. O arcabouço jurídico-normativo é muito fácil e, com a nova legislação e normativas, só cresceu. Tem havido flexibilização, mas as exigências também são cada vez maiores também”, afirma.

O Brasil tem atualmente cerca de 918 cooperativas de crédito com 6.037 pontos de atendimento. Há 182 municípios que contam apenas com o atendimento de cooperativas, todos com população abaixo de 15 mil habitantes, mas o cooperativismo ainda engatinha em comparação a países de primeiro mundo. Somente 4% dos brasileiros são associados, enquanto nos Estados Unidos, 30% da população é cooperada e na Alemanha, 22%.

O diretor executivo da Cooperforte, Kedson Pereira Macedo, destaca as vantagens do cooperativismo. “Entre os nichos do mercado financeiro as cooperativas são uma opção bastante positiva em relação aos bancos por possuírem todo o portfólio de produtos e serviços que instituições tradicionais disponibilizam com taxas mais acessíveis, além do cliente ser o dono. Em função desse atendimento personalizado é que as cooperativas de destacam”, diz.

O comerciante José Francisco de Sá, 52, acredita que esse tipo de investimento é uma boa opção para pessoas jurídicas. “Depende muito do trabalho de cada pessoa e de seu comércio, mas, até agora, não tenho do que reclamar. É prático e tem atendimento personalizado” ressalta.

Por outro lado, há ainda quem prefira os bancos tradicionais. O gerente de restaurantes, Cleber Vieira, 36, reclama da falta de caixas eletrônicos. “Tenho conta aqui só por causa da empresa mesmo, porque não era a minha intenção. Prefiro usar só para os depósitos da empresa, é uma conta-salário, pois preciso ir à agência para qualquer coisa.”

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Associado, não cliente

01/09/2019

 

 

Para se associar a uma cooperativa, o consumidor deve investir um capital social (um valor inicial) que é remunerado pela taxa Selic para formar o patrimônio da cooperativa. A partir daí a pessoa se torna uma associada, ou seja, atua como cliente e dona da cooperativa, podendo participar de decisões da empresa. Se a cooperativa obtiver bons resultados, a sobra é distribuída para os associados. Por outro lado, como alerta o próprio Banco Central, uma situação de crise, por mais que seja difícil de acontecer, também pode afetar os associados envolvidos.

Sobre riscos, o educador financeiro Jonatas Bueno explica que quem quer se tornar associado de uma cooperativa deve se manter atento. “Não vale a pena, só porque a taxa é mais baixa, investir em algo que não conhece e acabar não tendo o benefício esperado. Deve-se analisar, comparando com as outras opções e não ir pensando como sendo algo melhor do que um banco”, avalia.

Bueno ressalta itens nos quais os clientes devem prestar atenção ao negociarem com as instituições. “Quando se fala em investimento, o cliente tem que ficar atento às garantias que estão atreladas. Não necessariamente essas instituições apresentam, por exemplo, a garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos). Tem de analisar o investimento e qual resultado terá daquilo.”

Frase

“Deve-se analisar, comparando com as outras opções e não ir pensando como sendo algo melhor do que um banco”

Jonatas Bueno, educador financeiro