O globo, n.31457, 22/09/2019. Artigos, p. 02

 

Desperdício de dinheiro na Educação

22/09/2019

 

 

Não faltam dados par amostrara dimensão da crise educacional brasileira. O foco tem estado no ensino básico, mas as dificuldades e deficiências se distribuem por todo o ciclo de aprendizado, do fundamental ao superior. Por ser um sistema integrado, seria impossível que falhas em segmentos iniciais do ensino não se propagassem pelores toda vida escolar. Há ações para tentar corrigir os desvios. Mas os resultados têm sido lentos. No início do ensino fundamental ocorrem melhorias, e metas de aprendizado são atingidas. Mas, à medida que o estudante avança na sua vida escolar, os problemas surgem, e a evasão cresce.

No ensino médio, as deficiências são muito visíveis. No governo de Michel Temer, foi desenhada uma razoável reforma para o segmento, enquanto se andava coma importante criação do currículo único, para a uniformização dos conteúdos essenciais a serem ensinados nas salas de aula em todo o país, sem tirar espaço para as características regionais. São movimentos certos feitos num gigantesco sistema educacional, em que os resultados demoram a aparecer — embora este tempo esteja longo demais. Em reunião da Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abrave), segundo O GLOBO, foram apresentados estudos que reforçam as preocupações com o ensino médio. Por exemplo: só 39% dos alunos que em 2010 estavam no 6º ano do fundamental concluíram o ensino médio. E 22% continuavam na escola,m asem séries at rasadas. Portanto, metade dos alunos não chegou ao fim do ensino básico.

Um trabalho do pesquisador Ruben Klein chamou a atenção para a perversa correlação entre repetência e evasão. Não são problemas estanques. No ensino médio público paulista, 13% dos alunos não passam de ano ou desistem. E só 4% dos que permanecem até o final aprendem a matemática exigida. Na rede da cidade do Rio, o índice é o mesmo na segunda parte do ciclo fundamental. Também 13% são reprovados ou abandonam o curso.

Deste encadeamento de problemas no ensino básico só poderia resultar um ensino superior com uma cobertura insuficiente. Trabalho da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado no início do mês, avaliou 45 países e, entres eles, o Brasil é um dos cinco com as menores taxas de pessoas com nível superior — ao lado de China, Indonésia, Índia e África do Sul. Enquanto isso, o governo Bolsonaro despende dinheiro numa rede de escolas militares, achando que o problema da educação brasileira é falta de disciplina. Nem mesmo altos escalões das Forças Armadas concordam com o projeto. Disciplinados, não se pronunciam. Começa-se agastar um dinheiro que poderia ser canalizado para escolas públicas “civis” melhorarem seu padrão de ensino e atingirem níveis de excelência que já existem em outros estabelecimentos não militares. A contaminação ideológica no MEC passa a desperdiçar recursos públicos escassos em um projeto de prioridade dicutível.