O globo, n.31457, 22/09/2019. Economia, p. 24

 

Aras: o fazedor de promessas 

Míriam Leitão

22/09/2019

 

 

Uma ideia está irritando os procuradores que trabalham na área ambiental e de defesa dos indígenas. É ad eque a escolha do novo procurador-geral da República, comprometido com pautas governistas, e ano meação decole gasmais velhos par aos postos de administração vão“destravara economia ”. Quem contaé um procurador com experiência. “A PGR não pode impedir um procurador do Amazonas de propor uma ação ambiental contra uma usina que ameace uma comunidade, ou uma estrada em Goiás que destrua o meio ambiente.” Mesmo assim há riscos grandes, e um enorme poder na mão do novo PGR. O procurador Augusto Aras continuou na última semana sua peregrinação pelos gabinetes dos senadores, coma mesma estratégia de entregar acada ouvido oque ele gostaria de ouvir. Vários políticos apreciaram saber, por exemplo, que Aras quer rever todos os atos de Raquel Dodge. O presidente Jair Bolsonaro fez a escolha diante da convicção de que terá nele um aliado na luta contra os defensores do meio ambiente.

O governo Bolsonaro tem tentado enfraquecer os órgãos de fiscalização e controle do meio ambiente e dos indígenas. Com algum sucesso. A Funai, o Ibama e o ICMBio têm vivido em constante estado de tensão. Não têm recursos para as suas ações de fiscalização nem apoio.

Uma equipe da Funai fez em agosto uma ação de fiscalização na Terra Indígena Arariboia que deveria durar 30 dias. Os servidores foram levados pelos índios nas áreas onde havia invasão. Tiveram enorme dificuldade de locomoção, pelafr agilidade da viatura. Foram aduas regiões onde encontraram e apreenderam um caminhão, um tratore 200 torasd emadeira. Os cinco madeireiros foram embora. A Funai encerrou a operação ema penasqu atrodias. Os madeireiros voltaram, pega ramas 200 toras e ameaçaram os indígenas que haviam levado os funcionários da Funai.

Há funcionários que nada falam no celular com medo de seu aparelho estar grampeado. O órgão foi especialmente visado. No começo do governo, ele foi dividido e tirado do Ministério da Justiça. O Congresso e o Supremo é que corrigiram essa tentativa de desmonte do órgão. A crise fiscal faz o resto. Como falta dinheiro no caixa, corta-se verba das áreas que o governo não gostaria que existissem.

O ataque aos órgãos do Ministério do Meio Ambienteé intenso, diário. O resultado tem si doesse aumento do desmatamento. Nas terras indígena senas áreas de conservação sente-se diariamente o resultado do estímulo do governo Bolsonaro ao desmatamento. Houve até a mudança de padrão de comportamento dos madeireiros. Normalmente, na época da chuva, eles entravam e marcavam as árvores. Na seca, eles voltavam com tratores e caminhões, derrubavam as árvores, levavam, e de vez em quando, incendiavam o resto. Desta vez, em plena época das chuvas, de janeiro a abril, já foi intensa a entrada com tratores e caminhões em áreas protegidas para derrubar as árvores. Atividade que ficou maior quando o período de seca começou.

Depois de neutralizar em parte os órgãos do executivo, restava o ataque ao Ministério Público. Por isso, a nomeação de Augusto Aras veio com essa recomendação antiambiental. E usando um argumento econômico que parece fazer sentido: a necessidade de destravara economia. Há mui toque o governo pode fazer para destravara economia, co mote ruma gestão eficiente e bons projetos. No MP, nãoéa hierarquia que decide. Aras não poderá proibir um procurador de entrar comum a ação contra uma obra que esteja destruindo o meio ambiente ou ameaçando uma terra indígena. — Normalmente, nesses casos, as Câmaras de Coordenação exercem o papel de resolver o problema com base no diálogo e no convencimento, porme iode colegas subprocuradores ou regionais que são tidos como referências para aclasse nessa matéria. A liderança e a coordenação não são feitas em função da hierarquia, mas do consenso —disse um veterano procurador.

Aras poderá fazer grandes favores ao governo no campo penal, perante o STF. Mas não manda nos procuradores. Ele assinou carta dos juristas evangélicos contra o casamento de pessoas do mesmo sexo, a favor da Escola sem Partido e contra o aborto. Aos petistas ele criticou os excessos da Operação Lava-Jato. Aos integrantes da operação disse que é preciso levála para todo o Brasil. A Bolsonaro, prometeu impedir ações que não poderá evitar.