O globo, n.31457, 22/09/2019. Economia, p. 24

 

Pobreza cresce nas cidades que vivem da riqueza do petróleo

Pedro Capetti

Daiane Costa

22/09/2019

 

 

Aos 56 anos, o técnico em segurança do trabalho Marcos Antonio de Oliveira se viu obrigado a trocar o petróleo pelo churrasquinho. Natural de Salvador, ele pode ser considera doum“itinerante do óleo”. Em 2011, abandonou o polopetro químico de Camaçari, na Bahia, par atentara sorte na exploração do petróleo em Macaé, no Norte Fluminense. Conseguiu, mas tudo durou pouco. A perspectiva de crescimento da região deu lugara o desemprego nos últimos anos, coma desaceleração dos investimentos da Petrobras desde a Lava-Jato e o declínio da produção na Bacia de Campos, que perde protagonismo para o pré-sal.

—É o momento mais difícil da minha vida. Estou desde os 14 anos trabalhando na área de petróleo. A Petrobras era um referencial aqui, hoje não é mais — diz Oliveira, que viu a renda despencar de R$ 2.500 para R$ 89 do Bolsa Família e foi para a informalidade. Oliveira é um dos 11.286 beneficiários do Bolsa Família em Macaé, cidade onde houve um aumento de 57,6 % no cadastro do programa desde 2013. O salto pode ser explicado, entre outros fatores, pela alta do desemprego provocada pelo freio da indústria petrolíferana região. Contribui upara isso aquedado preço internacional daco mm odityp aral elam enteà crise econômica do país. Entre 2013 e 2016, a cotação do barril caiu amenos da metade, o que desestimulou investimentos e prejudicou a cadeia de serviços na região. Em julho de 2013, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), a Bacia de Campos produzia 1,72 milhão de barris por dia, quase 70% da produção nacional. Em julho de 2019, foi 1,13 milhão, 32% do total do país.

Nas ruas de Macaé e da vizinha Rio das Ostras, duas cidades muito dependentes dos royal ti esdopetr óleo eque estão entre as 15 do país com maior avanço do Bolsa Família, a decadência é visível. Nas áreas comerciais, multiplicam-se placas de “vende-se”, ou “passo o ponto”. Há cada vez mais vendedores nos sinais. Segundo oC aged,asdu as cidades perderam, entre 2015 e 2018, quase 40 mil vagas com carteira assinada, em todos os níveis de qualificação.

—Com acrise e os investimentos direcionados para o pré-sal, muitos perderam seus empregos e, jácomas vidas estabelecidas nessas cidades, ficaram em situação delicada— diz Karine Fragoso, gerente de Petróleo e Gás da Firjan. Em Rio das Ostras, o cadastro do Bolsa Família subiu 70% em seis anos. Dispensada em 2015 de uma pousada que costumava hospedar profissionais de empresas ligadas à indústria petrolífera, a ex-camareira Monique Ferreira, de 27 anos, só conta com R$ 212 mensais do Bolsa Família para alimentar dois filhos.

— Se eu não pedir na rua, passamos fome. Não tenho vergonha. Quero um emprego, mas está difícil, pedem muita qualificação —diz. Sem dar conta de toda a demanda, a prefeitura de Rio das Ostras criou seu próprio programa de renda mínima para duas mil famílias em situação de pobreza e extrema pobreza sem acesso ao Bolsa Família. —Nada indica que isso possa melhorar. Vemos um cenário crescente, no máximo estável—diz Alexandre Figueiredo, gestor do Bolsa Família na cidade.