O globo, n.31455, 20/09/2019. Rio, p. 09

 

Briga por prefeitos 

Paulo Cappelli

20/09/2019

 

 

Um novo round na disputa entre o governador Wilson Witzel (PSC) e o senador Flávio Bolsonaro, presidente estadual do PSL, tem as cidades do Estado do Rio como ringue. Após o rompimento, ambos intensificaram uma busca pelo apoio de prefeitos. A missão é filiar os políticos com alguma chance de reeleição no ano que vem ou costurar alianças para ajudar a pavimentar o caminho para o pleito presidencial em 2022. Essa corrida foi acelerada após a ruptura entre Flávio e Witzel.

Quando assumiu o governo do Rio, o partido de Witzel, o PSC, não comandava sequer um município fluminense. De janeiro para cá, entre eventos oficiais e confraternizações com vinho e acepipes no Palácio Guanabara, o ex-juiz já convenceu sete prefeitos a migrarem para a sua legenda, um recrutamento feito em conjunto com Pastor Everaldo, presidente nacional do PSC. Já o PSL não comanda prefeituras no estado.

AFAGO VINDO DA CHINA

Filho de Jair Bolsonaro, Flávio deu início à mesma empreitada estase mana, com amissão de evitar que o governador continue ganhando terreno no berço eleitoral dopai. O senador tem amissão de ampliar o grupo político fiel a Bolso na rono estado—se jano PS L ou em um eventual partido para o qual a família, nem tão confortável na atual legenda, deseje migrar. Ontem, após reunião com empresários na China, Flávio Bolsonaro citou nominalmente o prefeito de Itaboraí numa rede social:

—Há areal possibilidade de a petrolífera chinesa CNPC, em parceria coma Petrobras, retomar as obras do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro). Uma grande notícia para o Brasil, para o Rio e, em especial, para acidade de Itaboraí, do estimado prefeito Sadinoel.

Diante das desavenças entre o senador e Witzel, visto por Bolsonaro como um potencial adversário em 2022, Flávio decidiu que não dividirá mais com o Palácio Guanabara o crédito por medidas implementadas pela União no Rio.

— Antes, o Flávio avisava com antecedência ao Witzel, como fez quando conseguiu a emenda que liberou R$ 2,5 bilhões para o estado com o megaleilão do petróleo. Isso acabou. Agora, ele vai pontuar, deixar bem claro que muitas ações positivas que acontecerão no estado não são frutos da gestão estadual, mas dele como senador e do governo federal—disse um aliado de Bolsonaro.

A necessidade de reforçar o grupo político foi evidenciada com o racha na Assembleia Legislativa, onde, mesmo após determinação de Flávio, boa parte dos deputados do PSL reluta em abandonar o governo e fazer oposição a Witzel. Ontem, o governador disse que políticos do partido de Bolsonaro são “bem-vindos” ao PSC.

— Não posso impedir ninguém de se desfiliar e também não posso impedir a filiação ao PSC, até porque todos os deputados do PSL são excelentes —disse Witzel. —Pode ser que, em 2022, Bolsonaro chegue à conclusão de que ele mesmo não vai ser candidato e vai ter que escolher alguém para apoiar. Ele tem que ter uma opção. Eu gostaria de ser também uma opção do PSL, mas tudo isso em 2022.

CONVITE A 22 PREFEITOS

Ontem, Witzel convidou 22 prefeitos para uma reunião sobre a Câmara Metropolitana, no Palácio Guanabara, dos quais 11 compareceram. No dia 30 de julho, ele já tinha recebido 81 para discutir convênios. Os prefeitos de Miguel Pereira, Paty do Alferes, Itatiaia, Três Rios, Pinheiral, Barra Mansa e Paulo de Frontin já acertaram a ida para o PSC.

— Os prefeitos é que nos procuram , por causa das demandas que trazem. Não o contrário. E, no meio da conversa, é natural que se fale de possibilidades partidárias — disse o vice-governador Cláudio Castro (PSC).

Prefeito de Caxias, Washington Reis (MDB) avalia que uma disputa entre os governos estadual e federal prejudicará o Rio. Reis esteve ao lado de Witzel e Bolsonaro, em dezembro, ao inaugurar escola municipal que leva o nome do pai do presidente.

— Em uma briga política hoje, quem perde é o povo. Os dois estão com oito meses de governo. Agora, é hora de governar, não de discutir eleição —disse Reis.

Prefeito de Itaboraí, Sadinoel (PMB), elogiado em vídeo por Flávio e convidado a se filiar ao PSC por Witzel, vai na mesma linha:

— Quando o Flavinho voltar da China, vou até Brasília falar com ele. O senador e o governador não podem pensar em 2022. Têm que pensar no dia de amanhã. O momento é de refletir para multiplicar, não dividir.

Procurada, a assessoria de imprensa do senador negou que Flávio tenha a intenção de se aproximar de prefeitos. “Não existe esse movimento. O PSL não pensa em máquina nem em cargos”, afirmou.