O Estado de São Paulo, n. 46153, 27/02/2020. Política, p. A5

 

Generais do governo minimizam crise

Tânia Monteiro

Julia Lindner

27/02/2020

 

 

Mourão e Ramos defendem Bolsonaro e afirmam que vídeo enviado pelo presidente não contém ataques ao Congresso e ao Judiciário 

Cenas. Segundo general Ramos, presidente compartilhou vídeo no aplicativo por ‘tom emotivo’ da peça

Dois generais do governo tentaram minimizar ontem a polêmica provocada pelo presidente Jair Bolsonaro, que compartilhou vídeos sobre os atos anti-Congresso marcados para o dia 15 de março. “Não foi ele (Bolsonaro) que fez os vídeos, não foi ele que distribuiu, ele não fez qualquer crítica aos parlamentares”, disse o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, ao Estado. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, também defendeu Bolsonaro e afirmou que “estão fazendo tempestade em copo d’água”.

De acordo com Ramos, o presidente decidiu compartilhar o vídeo com amigos após ficar sensibilizado com a peça, que inclui cenas de quando ele sofreu uma facada, durante a campanha eleitoral de 2018, em Juiz de Fora (MG). “O vídeo não fala do Congresso. É um vídeo de apoio ao governo que ele recebeu e, pelo tom emotivo, apenas repassou para uma lista reservada de pessoas. Só no privado”, afirmou Ramos.

O titular da Secretaria de Governo passou o carnaval com Bolsonaro, no Guarujá, no litoral de São Paulo. “Qual é a responsabilidade dele de terem divulgado isso nas redes abertas? Nenhuma. Zero. Não é culpa dele. Foram apoiadores que divulgaram”, disse o ministro.

Mourão falou ainda em “colocar o incidente em seu devido lugar”. “(O vídeo) não foi veiculado publicamente e, principalmente, não contém ataques ao Congresso e ao Judiciário”, afirmou o vice-presidente.

  

Foto. O vice também se manifestou sobre o uso de sua imagem em um cartaz de convocação para os atos do dia 15. “Não autorizei o uso de minha imagem por ninguém, mas protestos fazem parte da democracia”, declarou Mourão.

Outro general fardado cuja foto foi usada no panfleto, o deputado federal Roberto Peternelli (PSL-SP) também desautorizou o uso da imagem. Nesta semana, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro de Bolsonaro, já havia criticado a vinculação do Exército às manifestações. “O uso de imagens de generais é grotesco.”

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Eduardo: 'Povo choraria por bomba no Congresso?'

27/02/2020

 

 

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) questionou ontem se alguém “choraria” se caísse uma bomba de hidrogênio no Congresso. O comentário foi feito no Twitter, em resposta a uma publicação da jornalista Vera Magalhães, colunista do Estado e editora do site BR Político. Anteontem, a jornalista revelou o vídeo disparado pelo presidente Jair Bolsonaro em um grupo de WhatsApp com convocação para as manifestações contra o Parlamento, marcadas para o dia 15 março. O compartilhamento do vídeo pelo presidente provocou reação imediata na classe política.

Ontem, Vera compartilhou um vídeo de 2018, no qual o então deputado Jair Bolsonaro afirmava que, “se caísse uma bomba H no Parlamento, pode ter certeza, haveria festa no Brasil”. O filho do presidente respondeu: “Esse é o abismo que separa não o presidente de você, Vera. Mas, sim, a bolha em que você vive da percepção da população em geral. Se houvesse uma bomba H no Congresso, você realmente acha que o povo choraria? Ou você só faz isso para tentar criar atrito entre o presidente e o Congresso?”, escreveu o parlamentar.

A jornalista afirmou então que, se isso acontecesse, seria “um ato terrorista”. “E, se o povo não se preocupar com isso, a democracia acabará. A mesma que o seu pai jurou respeitar”, escreveu Vera.