Título: Presidenciáveis querem votar fim da mordomia
Autor: Caitano , Adriana ; Colares , Juliana
Fonte: Correio Braziliense, 02/11/2012, Política, p. 5

Com a demora da Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados em apreciar o projeto que dará fim aos 14º e 15º salários dos parlamentares, o prazo para que ele chegue ao plenário ainda este ano fica cada dia mais apertado. A possibilidade de o tema ser jogado para 2013 abre espaço para que o novo presidente da Casa, que será eleito em fevereiro, assuma a responsabilidade de encerrar de vez a histórica regalia. Mesmo em plena campanha pelo cargo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e Júlio Delgado (PSB-MG) indicam que devem encarar o assunto de frente.

Quando a proposta chegou à Câmara após ser aprovada no Senado, em maio, Alves, líder da bancada do PMDB, evitou se posicionar. Para não contrariar os correligionários, encomendou uma pesquisa interna para saber o que os colegas peemedebistas pensavam a respeito. Quando a maioria disse ser a favor, o líder concordou, mas preferiu liberar a bancada. “Eu defendo a extinção do benefício e cada um deve votar de acordo com sua consciência”, comentou.

Henrique Eduardo Alves é o candidato oficial do PT e do PMDB à presidência da Casa e está em intensa campanha desde o início do ano. Tem marcado conversas com diversas figuras que podem ajudá-lo, desde presidentes de partidos até os parlamentares do baixo clero. Para não desagradar possíveis eleitores que não concordam com o fim do 14º e do 15º, não deixou claro se vai colocar o texto na pauta do plenário caso vire presidente e o projeto não tiver sido aprovado até lá.

Mas um de seus atos como líder pode indicar bem que o receio dos que se agarram à mordomia não é tão grande. Em maio, Alves foi um dos 14 líderes que assinou o requerimento apresentado pelo PPS para que a proposta entrasse na pauta do plenário com urgência, o que ainda não aconteceu.

A candidatura do deputado Júlio Delgado não é oficial, mas ele também tem trabalhado para conquistar apoio na Casa. Nesta semana, quando a rotina dos parlamentares voltou ao normal, Delgado conversou com os colegas pessoalmente. No entanto, apesar de bem recebido no geral, seu nome pode não ser forte o suficiente para desbancar a hegemonia dos dois maiores partidos ao lado de Alves.

Mas o pré-candidato já começa a assumir compromissos para o caso de ser eleito. “Sei que, infelizmente, posso perder votos ao dizer isso, mas com certeza vou colocar o projeto pelo fim do 14º e do 15º na pauta do plenário”, disse ao Correio. “Eu defendi, no meu partido, que temos que ser a favor dessa proposta. Não adianta um e outro abrir mão do benefício, todos devem votar para que esse assunto constrangedor para a Casa não permaneça.”

O atual presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), repetiu ontem que vai deixar a proposta que extingue a regalia seguir o rito natural pelas comissões. “Até porque, não é um projeto que tenha impacto na sociedade. Vamos priorizar, daqui até o fim do ano, todos aqueles que tratem sobre temas gerais e melhoria da qualidade de vida das pessoas”, explicou. A votação na CFT está prevista para a próxima semana. Em seguida, o texto vai para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e só depois segue ao plenário.