O Estado de São Paulo, n. 46147, 21/02/2020. Política, p. A6

 

Crítica de Heleno ao Congresso tem respaldo de ministros

Jussara Soares

21/02/2020

 

 

Além de Damares e Weintraub, filhos de Bolsonaro apoiam o discurso do general e defendem o governo   

Atrito. Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno no Planalto

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, não está sozinho em suas críticas ao Congresso. A acusação de que os parlamentares fazem “chantagem” com o governo ganhou respaldo de outros ministros. Ao pedir ao presidente Jair Bolsonaro para convocar “o povo às ruas” contra o acordo do Orçamento impositivo, Heleno insuflou a ala ideológica do Palácio do Planalto e movimentos bolsonaristas, que voltaram a subir o tom nas redes sociais contra o Legislativo.

O Estado apurou que na reunião da última terça-feira, no Palácio da Alvorada, quando Heleno expôs seu descontentamento, os ministros Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Abraham Weintraub (Educação) endossaram aposição do general. Participantes do encontro relataram que o acerto fechado pelo ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, com os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), foi criticado abertamente durante a reunião.

Nas redes sociais, grupos bolsonaristas começaram a convocar uma manifestação contra o Congresso para o dia 15 de março. Ashashtags#S omos Todos Heleno e# Somos TodosBol sonaro apareceram entre os assuntos mais comentados no Twitter desde a eclosão da nova crise envolvendo o Executivo e o Legislativo, anteontem.

Os filhos do presidente ajudaram a engrossar o coro contra o Congresso. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) reforçou ah ashtag#SomosT odos Bolso n aro, enquanto o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) disse que, em governos anteriores, Executivo e Legislativo tinham “relações promíscuas”. “Ninguém viu a democracia ameaçada quando os poderes Executivo e Legislativo mantinham uma relação promíscua durante todos os anos anteriores ao governo Jair Bolsonaro, que resultaram no mais catastrófico escândalo de corrupção de nossa história”, escreveu Carlos.

A publicação do vereador foi uma reação às manifestações dos presidentes das duas Casas sobre as críticas de Heleno. Maia disse que o ministro do GSI virou “um radical ideológico”. Alcolumbre afirmou a que “nenhum ataque à democracia será tolerado pelo Parlamento.”

Apesar de irritado com o acordo com o Congresso, Bolsonaro pediu calma aos envolvidos. Em meio aos atritos entre Executivo e Legislativo, ele postou nas redes sociais que “a democracia nunca esteve tão forte”.    

Militares. Na semana passada, o time de auxiliares considerado mais radical – e ligado a Olavo de Carvalho – se sentiu enfraquecido após Bolsonaro “militarizar” o Planalto com a indicação do general Walter Braga Netto para a Casa Civil e a chegada do almirante Flávio Rocha para a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), ligada ao gabinete presidencial.

A crise desencadeada pelas declarações de Heleno foi vista como a oportunidade para o grupo olavista voltar a influenciar as decisões de Bolsonaro, visto que o episódio expôs um cisma entre dois militares. A fala do chefe do GSI foi uma crítica não apenas ao Congresso, mas a Ramos. Para alguns integrantes do governo, o general Ramos “meteu os pés pelas mãos” ao adotar uma articulação que cede a líderes da Câmara e do Senado. 

Poderes

“Ninguém viu a democracia ameaçada quando os poderes Executivo e Legislativo mantinham uma relação promíscua durante todos os anos anteriores ao governo Jair Bolsonaro, que resultaram no mais catastrófico escândalo de corrupção de nossa história.”

Carlos Bolsonaro

VEREADOR (PSC-RJ)

  “A democracia nunca esteve tão forte.”

Jair Bolsonaro

PRESIDENTE DA REPÚBLICA 

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Flávio visitou Nóbrega na cadeia, diz ex-colega de miliciano na prisão

21/02/2020

 

   

Ítalo Ciba, hoje vereador, relatou contatos; senador nega ter relação com miliciano morto em operação na Bahia   

Senador. Flávio Bolsonaro

Ex-colega de prisão do miliciano Adriano da Nóbrega, o vereador do Rio e sargento da Polícia Militar Ítalo Ciba (Avante) afirmou ao jornal O Globo que o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) visitou os dois “mais de uma vez” na cadeia. A família Bolsonaro tem negado que existia uma relação entre ela e o miliciano morto no dia 9 na Bahia. O Estado tentou contato com o vereador, que não quis falar. A equipe dele, no entanto, confirmou as afirmações.

Ciba também disse que Nóbrega frequentava o gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, quando o senador era deputado estadual. As idas ao local teriam sido feitas a convite de Fabrício Queiroz, ex-assessor parlamentar do filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro e investigado por prática de “rachadinha”.

Então deputado estadual, Flávio presenteou Nóbrega, em 2005, com a Medalha Tiradentes. O ex-PM estava preso na ocasião. O senador afirmou, em nota, que só visitou o ex-PM para a entrega da medalha. Ítalo Ciba, contudo, disse que foram mais vezes. O vereador e o miliciano ficaram presos juntos em 2003, quando integravam o Grupamento de Ações Táticas (GAT). Foram acusados de homicídio, tortura e extorsão. Foi nesse período, segundo Ciba, que Flávio foi, mais de uma vez, à prisão.

No Twitter, Flávio disse que visitou “inúmeras vezes” o Batalhão Prisional da PM (BEP) “para ouvir PMs presos injustamente”. Seu advogado, Frederick Wassef, divulgou nota em que diz que “é fato que não existe relação entre ele (Nóbrega), Flávio e sua família”. Questionado ontem, Bolsonaro minimizou o relato do vereador. “Eu já fui várias vezes no BEP, eu já fui no presídio da Marinha no passado também, está certo?”, afirmou o presidente.

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Perito da família fala em sinais de tiro à queima-roupa

Roberta Jansen

Fábio Grellet

21/02/2020

 

 

O perito aposentado Francisco Moraes Silva, de 81 anos, contratado pela família do miliciano Adriano da Nóbrega para acompanhar a necropsia feita ontem no Instituto Médico-Legal do Rio, disse que, com base em fotografias, o disparo que acertou o excapitão do Bope no tórax tem características de tiro à queima-roupa. “É a típica marca em que a extremidade distal da arma encosta no tegumento (pele).”

A segunda necropsia do corpo do ex-PM, que durou cerca de quatro horas, teve a participação de três peritos representantes da família de Nóbrega, além de um promotor de Justiça do Ministério Público da Bahia. Esse promotor não falou com a imprensa.

Segundo o perito Talvane de Moraes, de 79 anos, convidado para acompanhar o procedimento por Silva, visualmente, não é possível detectar sinais de tortura. Mas ele ressaltou que ainda são necessários exames complementares. “Seria leviano se garantisse qualquer coisa a partir do exame de hoje”, afirmou.

A perícia foi realizada a pedido do MP da Bahia. O novo exame cadavérico foi feito por peritos do IML do Rio. O resultado sairá dentro de 15 dias. Depois disso, a equipe contratada pela família de Nóbrega tem outros 15 dias para elaborar parecer sobre o laudo.