O globo, n.31454, 19/09/2019. Mundo, p. 21

 

Bolsonaro criticará Venezuela e Cuba na ONU

Jussara Soares 

Daniel Gullino

19/09/2019

 

 

O discurso que o presidente Jair Bolsonaro prepara para a abertura da 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas, dia 24 em Nova York, terá duras críticas ao regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, e Cuba como pontos principais. A defesa da soberania do Brasil sobre a Amazônia, em resposta ao presidente francês, Emmanuel Macron, que disse que um debate sobre internacionalização da floresta estava “em aberto”, também deverá constar do texto, que está em fase de final de ajustes.

Os detalhes do discurso foram discutidos na manhã de ontem com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSLSP) e os ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), no Palácio da Alvorada.

A declaração de Bolsonaro coincide com pedido de Julio Borges, comissário de relações exteriores do líder oposicionista venezuelano Juan Guaidó, para que os países que participarão da Assembleia Geral da ONU aumentem “ainda mais” apressão contra o governo Maduro e Cuba.

O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, disse ontem que Bolsonaro fará um discurso “de coração” e uma defesa do Brasil nas questões envolvendo o meio ambiente.

—Ele vai apresentar o nosso país e as nossas potencialidade sevai esclarecer de uma vez por toda essa questão Brasil versus meio ambiente. O quanto o Brasil defende o meio ambiente evem fazendo, não de agora, já há muito, um processo de sustentação ambiental que muitas vezes é desconhecido. Ou por desconhecimento da pessoa ou até por não querer divulgar o que o Brasil vem fazendo em termos de proteção —afirmou.

Rêgo Barros confirmou que a idade Bolsonaro à ONU é certa. Segundo ele, houve melhora significativa na saúde do presidente, o que não deixa mais dúvida sobre a viagem:

— Eu afirmo 100% que o presidente vaia NovaYork.

Na terça-feira, o porta-voz disse raque a viagem ainda estava“sob análise” eque só seria confirmada após avaliação feita pela equipe do cirurgião Antonio Luiz Macedo. Bolsonaro se recupera de uma operação para correção de uma hérnia, realizada em 8 de setembro. A ida aos EUA também causava divergências entre pessoas próximas ao presidente. Parte defendia que ele não viajasse.

—O dr. Macedo vem na sexta-feira dar continuidade à avaliação do presidente, mas hoje (ontem) o sentimento, a partir das análises da equipe do presidente, é que não há mais dúvida com relação à ida dele a Nova York —reafirmou Rêgo Barros.

Segundo o porta-voz, Bolsonaro caminhou mil metros pela manhã e,à tarde, no Palácio da Alvorada, e recebeu o médico da Presidência, Ricardo Peixoto Camarinha, duas vezes. Rêgo Barros confirmou também que a passagem por Dallas, no Texas, foi cancelada. Bolsonaro se reuniria com empresários ligados ao setor militar dos EUA no aeroporto.

Ainda ontem, o Senado aprovou a troca do embaixador do Brasil na ONU. Ronaldo Costa Filho substitui Mauro Vieira, indicado pela então presidente Dilma Rousseff. Costa Filho foi sabatinado pela Comissão de Relações Exteriores na semana passada. O governo já vinha estudando substituir Vieira antes da viagem de Bolsonaro. Havia um incômodo de o presidente encontrar o diplomata, que foi chanceler de Dilma no segundo mandato da petista. (Com Naira Trindade)

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Bachelet pede que Caracas solte todos os presos políticos

19/09/2019

 

 

A alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, comemorou ontem a libertação de Edgar Zambrano, vice-presidente da Assembleia Nacional (A N) da Venezuela, mas exigiu a libertação do restante dos presos políticos no país.

Zambrano foi solto na noite de terça-feira, quatro meses após sua prisão pelo regime de Nicolás Maduro. Depois da libertação, o parlamentar disse que nas horas seguintes deveriam ser libertados outros 58 presos políticos — o que até a noite de ontem não havia ocorrido. Ele lembrou oque viveu na prisão, onde aderiu a uma greve de fome por pouco mais de uma semana.

— Nos primeiros 60 dias, não saímos da cela. Ali estivemos, praticamente em cativeiro, como animais, sem falar, sem poder ler, sem nenhum elemento que protegesse a dignidade de nossos direitos humanos — disse na porta de casa, em Caracas, após deixar a prisão militar do Forte Tiuna, em Caracas, onde foi mantido por 129 dias.

O deputado opositor compartilhou brevemente os corredores do quartel com dois generais dissidentes dos governos de Hugo Chávez e Maduro, Raúl Baduel e Miguel Rodríguez, que permanecem na prisão.

Um comunicado da Justiça, controlada pelo governo, sinaliza que o deputado opositor está proibido de deixar o país e deves e apresentar acada 30 dias. Zambrano prometeu que voltará ao Parlamento, controlado pela oposição, na próxima semana e, no sábado, iniciará caminhadas pelo país com intuito de pedira libertação de outros políticos.

Outros 12 parlamentares enfrentam processos judiciais por suposta conspiração, acusados de apoiarem a tentativa do presidente da AN, Juan Guaidó, de derrubar Maduro em um levante em abril. Alguns deixaram o país ou pediram asilo em embaixadas.

A libertação ocorre após anúncios de diálogo entre o governo e quatro partidos minoritários da oposição. O deputado Timóteo Zambrano, líder do Mudemos e um dos principais porta-vozes da iniciativa, anunciou que outros presos políticos serão libertados.

DIÁLOGO COMO ESTRATÉGIA

Outros acordos anunciados são a volta da bancada do governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) ao Parlamento, a nomeação de novos integrantes da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) eu mesque made troca de petróleo por alimentos e medicamentos. Para analistas ouvidos pelo GLOBO, o diálogo faz parte de uma estratégia do governo de se mostrar aberto, ao mesmo tempo em que busca, em médio prazo, recuperar o controle do Legislativo.