Correio braziliense, n. 20557, 04/09/2019. Economia, p. 7

 

Indústria contradiz o PIB e cai em julho

Simone Kafruni

Augusto Fernandes

04/09/2019

 

 

Conjuntura » Expectativa é de que resultado de agosto venha ainda pior. Segundo secretário de Política Econômica, mês passado foi o "fundo do poço". A queda, no primeiro mês do segundo semestre, atingiu 0,3% e, na comparação anual, setor encolheu 2,5%

Ao contrário do que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre parecia sugerir, a indústria não engatou uma retomada de crescimento. Os dados da produção industrial de julho, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam queda de 0,3% ante o mês anterior, na terceira baixa consecutiva e o pior desempenho para o mês em quatro anos — em 2015 houve retração de 1,8%. Mas a sangria da economia brasileira não para por aí. Segundo o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, agosto foi o “o fundo do poço”.

Entre as grandes categorias econômicas, puxaram o resultado de julho, na margem, bens intermediários, influenciado pela indústria extrativa e combustíveis, com recuo de 0,5%, e bens de capital (máquinas e equipamentos), com queda de 0,3%. Na comparação anual, a produção industrial encolheu 2,5%. O dado de junho foi revisado para pior, passando a mostrar contração de 0,7% sobre maio, ante queda estimada anteriormente de 0,6% (veja mais no quadro). Segundo André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, a trajetória da indústria em 12 meses tem sido “predominantemente descendente desde julho de 2018, quando, a produção acumulava alta de 3,2%”.

Para Marcelo Azevedo, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o que surpreendeu foi o resultado do PIB e não o da PIM. “Os dados todos do trimestre não eram fortes, nem do IBGE nem da CNI. Nenhum mostrava crescimento. Julho veio confirmar essa dificuldade. Tivemos queda em horas trabalhadas, em emprego e utilização de capacidade instalada. A indústria não engata a retomada”. Conforme ele, o que preocupou foi o fato de o segmento de bens de capital ter queda, quando tinha crescido no PIB. “É um resultado bastante frustrante. Até porque a base de comparação já é deprimida”, completou.

Na opinião do professor Ricardo Balistiero, economista e coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, a preocupação era com a recessão técnica, se o segundo trimestre apontasse queda do PIB. “Isso porque o terceiro trimestre mostra que será ruim. A alta da indústria no segundo trimestre foi mais estatística, não tinha como se sustentar. Não é exagerado dizer que foi um voo de galinha”, disse. Para agosto, o especialista estimou números mais complicados. “Houve piora no ambiente externo, sobretudo na Argentina, e as falas do presidente (Jair Bolsonaro) não ajudam, pelo contrário, têm impacto econômico negativo”, analisou.

Produtividade

Apesar de a economia nacional ter avançado 0,4% no segundo trimestre do ano, o resultado não é motivo de comemoração, conforme o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida. Ele alertou que o país voltou a produzir pouco em agosto. “Sem sombra de dúvidas, agosto é o fundo do poço e marca o fim de um período complicado na economia brasileira”, disse. Sachsida destacou que, para o país voltar a entrar na rota do crescimento, é necessário controlar a situação fiscal, reverter a baixa produtividade da economia e se adaptar ao cenário internacional. “As mudanças não serão a curto prazo, mas podem começar a surtir efeito ainda neste ano. A partir de setembro teremos a volta de um crescimento um pouco mais sustentável”, estimou.

No mercado, os dados indicam continuidade do ritmo lento de recuperação da atividade econômica. A projeção preliminar do Itaú para o PIB do terceiro trimestre aponta para contração de 0,2%. “Não há sinais de recuperação nos componentes relacionados a investimento como bens de capital e insumos para construção civil”, justificou. Para o Goldman Sachs, o setor industrial deve continuar enfrentando “ventos contrários”, como “a atividade em declínio na Argentina”. A consultoria Rosenberg Associados espera “um crescimento modesto da indústria em 2019, de apenas 0,1%, com viés de baixa”.

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2019 é ano de arrumação

04/09/2019

 

 

O primeiro ano de mandato de Jair Bolsonaro na Presidência da República tem sido “de arrumação” para a economia, de acordo com o secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues. Ontem, em seminário promovido pela pasta, ele afirmou que a “prioridade zero” do governo é resolver a situação fiscal do país.

Durante o evento, Rodrigues fez críticas à rigidez do Orçamento, com a maior parte de despesas obrigatórias, e frisou que, para a economia nacional voltar a crescer, é fundamental a implementação de reformas estruturais envolvendo os “segmentos macro, micro, agrícola e administrativa”. “A reforma administrativa (em especial) é a espinha dorsal do Estado que queremos”, comentou.

Além disso, o secretário especial de Fazenda afirmou que “é preciso analisar com zelo e cuidado cada real de recurso público”, para o Brasil “vislumbrar um resultado primário e nominal melhor do que os de hoje”.

Segundo Rodrigues, o Ministério da Economia planeja medidas alternativas para recompor o investimento público, que pela Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) para 2020 tem pouca margem para despesas não obrigatórias. As medidas serão encaminhadas ao Congresso Nacional. “Precisamos urgentemente, por meio de reformas, buscar solucionar o baixo investimento”, reconheceu.

O secretário, por fim, ressaltou o bom desempenho da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, como incentivo para o crescimento da economia do Brasil. O indicador, que calcula a taxa de investimentos, subiu 3,2% entre abril e junho em relação aos três primeiros meses do ano, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (AF)

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Bolsa vai abaixo dos 100 mil pontos

Rafaela Gonçalves

04/09/2019

 

 

Em meio ao cenário externo conturbado e indicadores negativos da indústria, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), operou em queda e voltou ao patamar abaixo dos 100 mil pontos. Encerrou o dia com recuo de 0,94%, aos 99.680 pontos. Após o bom resultado do PIB, acima do esperado, os dados da indústria decepcionaram investidores, desacelerando as expectativas de recuperação.

Os dados mais fracos da indústria americana também afetaram o mercado. De acordo com o Instituto para a Gestão da Oferta (ISM, sigla em inglês), o PMI da indústria caiu de 51,2 em julho para 49,1 em agosto, abaixo da expectativa de 51. Números abaixo de 50 indicam que o setor está em contração e alimenta o fantasma de uma recessão global.

“Hoje o mercado como um todo foi contaminado por muito mau humor. As principais bolsas fecharam negativas pela baixa liquidez do feriado nos Estados Unidos. O impasse no agendamento de reuniões entre americanos e chineses também contribuiu”, disse o economista da G2W investimentos, Ciro Almeida. Para ele, o medo mundial se acentuou com a divulgação do índice da indústria americano, indicando que essa guerra comercial entre as duas maiores potências do mundo começa a afetar os EUA.

O dólar comercial se manteve praticamente estável, com leve variação negativa de 0,09%, a R$ 4,179. O Brexit voltou a ser fator de instabilidade para o câmbio. Isso somando à declaração do presidente americano, Donald Trump, no Twitter, de que se for reeleito o acordo comercial com a China será ainda mais duro.

O economista da BlueMetrix Ativos, Renan Silva, ressalta que a valorização do dólar está associada ao  Brexit, que pode causar desvalorização do euro mais acentuada e uma corrida para a divisa dos EUA, além da possibilidade de recessão mundial.