Título: O efeito Sandy
Autor: Craverio , Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 02/11/2012, Mundo, p. 16

O presidente não sabe como liderar. Ele é como um homem que perambula por uma sala escura, tateando a parede, em busca de um interruptor de liderança. E ele não pode achá-lo, nem o encontrará nos próximos 18 dias." O mesmo homem que proferiu essas palavras, em 19 de outubro, mudou de opinião depois que a supertempestade tropical Sandy devastou a Costa Leste dos EUA, matando 88 pessoas. Considerado um ícone do Partido Republicano, Chris Christie — governador de Nova Jersey (um dos estados mais afetados) — admitiu que a reação de Barack Obama à catástrofe foi "notável". "O presidente passou por cima disso e merece grande crédito", declarou Christie à rede de tevê MSNBC. Outro sinal de que Sandy já provoca uma ventania na política americana foi dado ontem, com o endosso do independente Michael Bloomberg, prefeito de Nova York, à reeleição de Obama.

Ainda que não tenha sido explícito sobre o desempenho do governo na gestão da crise, Bloomberg atribuiu seu apoio à "mudança climática". "Nosso clima está mudando. E enquanto o aumento no tempo extremo que temos experimentado em Nova York e ao redor do mundo pode ou não ser um resultado disso, o risco de que seja — dada a devastação que está causando — deveria ser o bastante para compelir todos os líderes eleitos a tomarem uma ação imediata", admitiu o prefeito, em artigo publicado pelo site Bloomberg View e intitulado "Um voto para um presidente para liderar sobre mudanças climáticas".

"A tempestade trouxe as mudanças climáticas e a resposta à emergência ao cerne do debate político. Claramente, Bloomberg está mais confortável ao lado de Obama do que de Romney nesses temas", afirmou ao Correio, por e-mail, Matthew Baum, cientista político da renomada Universidade de Harvard — onde o próprio Obama se formou em direito. O especialista reconhece que desastres naturais ofeecem ao candidato a chance única de aparecer como presidente ou comandante-em-chefe. "É impossível para um desafiante obter muita atenção nesse contexto", comentou Baum, referindo-se ao candidato republicano. Professor de ciência política da Colorado State University, Kyle Saunders lembra que Nova York e Nova Jersey têm sólida tradição democrata. "Esse tipo de endosso de políticos locais provavelmente não ajudará muito nesses estados."

Corrida eleitoral

A cinco dias da votação, Obama e o republicano Mitt Romney aceleraram os compromissos de campanha. Obama visitou Wisconsin, Nevada e Colorado. Hoje, ambos desembarcam em Ohio, um dos swing states (estados que a cada ano pendem para partidos diferentes). Romney esteve na Virgínia e criticou a criação de uma pasta de negócios na Casa Branca. "Não acho que acrescentar nova cadeira nesse gabinete ajudará a adicionar milhões de empregos. Não precisamos de secretaria de negócios para entender de negócios. Precisamos de um presidente que entenda de negócios. E esse sou eu."

Obama fez discurso no Aeroporto Internacional Austin Straubel, em Green Bay (Wisconsin), e acusou o adversário de vender soluções fáceis. "Quando um desastre nos atinge, o melhor dos Estados Unidos vêm à tona", bradou, diante do avião presidencial Air Force One. "Todas as diferenças que nos consomem dia a dia parecem se evaporar. Não há democratas, nem republicanos durante uma tempestade, só compatriotas americanos", acrescentou, em clara alusão ao apoio recebido por Christie e por Bloomberg. "Está claro que o que o governador (Mitt Romney) oferece não é mudança. Devolver mais poder aos bancos mais poderosos, isto não é uma mudança. Deixar milhões sem seguro médico não é mudança", disse Obama, de acordo com a agência France-Presse.

Matthew Baum acredita que, antes da próxima terça-feira, Romney concentrará esforços em visitas a Nevada e ao Colorado. "Certamente, as campanhas de democratas e de republicanos gastarão muito dinheiro em publicidade nesses estados", admitiu. Pesquisas divulgadas ontem pela Reuters/Ipsos com prováveis eleitores — nos EUA, o voto não é obrigatório — revelam as tendências nos quatro principais swing states. Na Virgínia, Obama aparece com 48% contra 46%. Em Ohio, Obama vence por três pontos de diferença: 48% a 45%. Na Flórida, os dois candidatos aparecem empatados, com 47%. No Colorado, também ocorre empate, por 45%.

47,4% Índice de intenção de votos tanto para Barack Obama quanto para Mitt Romney, em nível nacional, segundo o site Real Clear Politics.

50% Total de votos que Obama teria no Colorado, segundo pesquisa da CNN/ORC International. Romney aparece com 48% das intenções de voto de prováveis eleitores.

Anúncio liga Obama a Chávez e a Fidel A campanha de Mitt Romney lançou um anúncio em espanhol na Flórida que mostra o presidente venezuelano, Hugo Chávez, e a sobrinha de Fidel Castro, Mariela, manifestando apoio a Barack Obama. "Pra cima", diz uma narradora com sotaque cubano no anúncio de 30 segundos intitulado "Chávez por Obama". O anúncio exibido em três redes de tevê mostra um vídeo de Chávez de 30 de setembro no qual o venezuelano afirma: "Se eu fosse americano, votaria em Obama". A sobrinha de Fidel Castro, e filha de seu irmão e atual presidente de Cuba, Raúl, Mariela Castro, também manifestou preferência por Obama.

Pontos de vista

"Ambos os candidatos se focam nos estados-chave porque sabem que o voto do Colégio Eleitoral é o único que importa. Tanto Obama quanto Romney estão cruzando os mesmos sete estados norte-americano. Isso confirma que ambos concordam com quais estados mais importam. Veremos o que ocorrerá"

» Robert Pastor, codiretor do Centro para Democracia e Gerenciamento Eleitoral da American University (Washington)

"Faz muito sentido que Romney tenha visitado hoje (ontem) a Virgínia. Trata-se de um dos swing states mais competitivos dessas eleições, e é quase tão crucial para a campanha republicana quanto Ohio. Ambos têm um grande número de votos no Colégio Eleitoral. Sem esses dois estados, será muito difícil para Romney levar os 270 votos necessários"

Kyle Saunders, cientista político da Colorado State University

"O estado da Virgínia é crítico para Romney. Se Obama vencer na Virgínia, o caminho para os 270 votos do Colégio Eleitoral se estreitará substancialmente para Romney. O republicano precisa vencer ali. Obama aparentemente está à frente em Wisconsin, Nevada e Colorado. Se Obama vencer em todos eles, isso realmente abalará as chances de Romney."

» Matthew Baum, cientista político da Universidade de Harvard